15 de junho de 2011

Especial: 75 anos de Maysa (parte 2 - final)

É hora de homenagear Maysa! Sim, mais uma vez. Mas é tempo de homenagear Maysa todo tempo e é isso que devemos fazer. Para finalizar minha homenagem aos seus 75 anos de vida, resolvi deixá-la falar. Não haveria nada mais sincero e original do que ouvir Maysa falar! Fatos, fotos, palavras, versos, escritos...Vejam! Vejam Maysa falar.
(obrigado à todos, obrigado a Maysa)




“Considero masoquismo aturar sem queixas uma porção de pessoas. Detesto gente burra e vivo me encontrando com elas.”

“Tenho medo apenas do que não depende de mim: amar e não ser amada, por exemplo.”

“A bebida é a bengala de um velhinho que mora em minha personalidade. Mas tenho certeza de que uma criança que existia em mim, antes de tantas coisas acontecerem, um dia voltará. Só então saberei quem sou.”

“Quero, preciso e ainda amarei.”

“Quando estou só, tenho certeza de que só maior do que eu mesma e isto me apavora. Ninguém deve conhecer a sua própria dimensão.”

“Só uma coisa me faria morrer até o fim: o amor.”

“Sei que um dia o Sol vai nascer pra mim e todo este mal me deixará enfim.”

“Há gritos incríveis dentro de mim que me povoam da mais imensa solidão.”

“Só peço o meu tamanho e o porque dessa enorme solidão.”

"Se me tratam bem, eu trato bem. Se me agridem, eu agrido. Apenas respondo - e isso é humano."





"Estou tão consciente da distância da verdade, a que me propus, que te peço perdão. Me pede amor, só um pouco mais de mim e eu volto para a nossa solidão."

"O amor é também uma espécie de estado sentimental. Totalmente descarnado, puramente espiritual. É por isso então que eu evito a palavra amor."

"Não há utopia mais na nossa época, nós somos ou não somos!"

"Eu somei muita coisa, ensinei muita coisa pras outras pessoas. Só não ensinei pra mim mesma."

"Tenho uma profunda necessidade de dizer que amo as pessoas. Mas só tenho coragem de fazer isso com a ajuda da bebida. Chamo aqui para casa as pessoas que eu amo, tentando juntar essas ilhas. As pessoas estão ficando cada vez mais sós, estão se separando cada vez mais, ficando cada vez mais ilhadas."

"Só sou amarga quando noto a falta de afeto. Se encontro o carinho, como ousaria ser agressiva?"

"Eu busco amor em tudo. Na alegria, na tristeza...Talvez porque seja com elas com as quais mais me identifico. Mas não é verdade que eu só cante música triste. Canto o que eu gosto e o que sinto no momento. E não faço da tristeza profissão."

“Quero voltar!
Desta vez pra ficar.
Eu não posso mais...
Eu já não sei mais
Me esconder de minhas mágoas
Me mentir nas madrugadas...
Eu só quero tuas manhãs...
Eu só quero o teu riso...
Eu preciso de minha infância...
Só você pode me dar.
Eu preciso descansar esse meu corpo
Tão cansado de ir sempre... de ir sempre...
Sem saber de onde...
Sem saber que mar...
Me leva... Me leva...
Vai ser tão bom chegar tanto
Nesse mar que é meu
Para esse olhar que é teu
E vai voltar pra mim!”

 “Tenho uma longa caminhada,
Meu corpo renascido reluta
em deixar a última morada
e partir na estrela da manhã
que me desperta e me carrega
sem deixar que eu olhe no meu rastro
os beijos que vou deixando
o abandono de teus abraços,
de onde saio sem saber como voltar.
E vou andando como cega
nessa luz que me ordena
a beleza de outras terras, outros mares
onde chegarei cansada, quem sabe inútil e tão vazia.
Te buscarei nas noites do mundo e, quem sabe,
num longo soluço eu te chame,
e num beijo amargurado te chegue
pela saudade em que eu parti.”





"Não é um canto o que faço
é meu pranto que eu preciso
dizer em alta voz,
não me importando a opinião
de quem pensa que é cafona,
já era."

"Que longa caminhada a minha!
Fui em busca, de beijo em beijo
que enganassem
o tempo das cansadas idas,
que me dessem forças pra seguir na vida
e conhecer a hora e saber ficar!
Pena que essa estrada
me assustasse tanto
que ainda hoje com um
imenso espanto."

" Havia uma mulher que
caminhava dentro de mim
já num passo capenga, sem
jeito, quase aberto,
sem medos pela inconsequência,
sem alma pelo
vazio que ela sabia a sua busca...”

"Olha, amiga,
o passado só constrói passado
e o que antes era empáfia,
pela cor brutalmente vermelha acintosa,
de tanto caminho pela escuridão
se descolorou no tempo
que só ele sentiu passar.

Vive porque é preciso, e também é bom, e como!
Se te for preciso viver mais do que a própria vida
faça, porque então ter eternizas...
Não te proponhas a nada e não terá decepções
porque o nada, além de incomodar, não existe."

"Até quando ainda vou continuar caminhando,
jogando este corpo oco de encontro aos que estão passando,
correndo, buscando, se falando, estúpidos, flácidos,
esses que se curam das dores para sentir uma maior."

"Quero tudo e acabar!"





Maysa
(com todo meu amor)

6 de junho de 2011

Especial: 75 anos de Maysa (parte 1)


“Um mito, creio eu, tem muitas biografias e como nós mortais, apenas uma vida”.
Roubo as palavras do compositor Ronaldo Bôscoli, para novamente vir aqui falar de Maysa em uma data tão especial.

Mas, como se faz um mito? Na maioria das vezes, os grandes mitos optaram por fazer da biografia e da vida pessoal uma só coisa – isto é ainda mais notável quando se fala sobre mulheres. Para o bem ou para o mal, mitos se criam por exercerem grande fascínio sobre os outros. Foi exatamente assim que aconteceu com Maysa, e como exerce este fascínio!


Dia 6 de junho de 1936, nascia Maysa Figueira Monjardim. Carioca, geminiana, viva, nascida no bairro de Botafogo, num outono feliz. Foram 40 curtos anos de longa vida. Hoje faria 75 anos de existência, findada há 34 anos atrás. Vida breve, intensa, furiosa, gloriosa, meteórica, incessante, insensata. Absolutamente divina.



Só disse o que pensava, só fez o que quis e naquilo que cria. Não se explicam existências com a de Maysa. Lutou veementemente, a vida inteira, pelo respeito, pela felicidade, pelo amor, por si própria. Lutou contra tudo que se pudesse estar predestinado a ela, que se possa chamar de destino. Contra as  míseras amarras que a vida lhe impunha, construiu sua própria história. Nunca se submeteu a nada, nem a ninguém. Renunciou ao espectro, um andróide, para ser Maysa. Maysa autêntica, sincera, verdadeira. Maysa que assumia sucessos e fracassos, que expunha sua dor em público, sem se importar com a maldade de quem nada sabe.


Tudo tem seu preço. Maysa plantou amor, carinho, afeto e muita emoção no coração das pessoas. Não recebeu menos que isso. Pagou um preço alto (até demais), por ter vivido apenas como quis, em meio a uma sociedade hipócrita, preconceituosa, machista e arcaica. Foi uma transgressora muito antes do feminismo. Subsistiu contra todos aqueles que tentaram diminui-la, castra-la, e se tornou muito mais vitoriosa perante tudo e todos. “Se me agridem eu agrido, isto é humano!” Se é preciso pagar um preço pela liberdade, Maysa o pagou, e o aproveitou como bem quis. Se ela se orgulhava de suas virtudes, muito menos sentia vergonha de seus defeitos. Definitivamente, foi um ser humano violentamente vivo!


Vai ser difícil esquecer Maysa. “Duas vezes se morre: na carne e no nome”. Assim disse o poeta Manuel Bandeira.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."


Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.”

Maysa deixou muito mais que um nome marcante. Deixou um legado imenso e fértil. Ninguém vai esquecer o nome de Maysa.
Maysa, com sua escrita compulsiva e , intermitente, preenchendo mil folhas com seus mais de mil versos tristes. O olhar triste, furioso e divinamente belo, translúcido. Verde como a esmeralda que é arrancada da rocha fria. O carro correndo incessantemente a 100...120...200km por hora, nas vias de caminhos infinitos, que significavam as infinitas buscas daquele ser. O copo de bebida sempre a mão, velha companhia traiçoeira e amarga. A fumaça dos muitos cigarros fumados a todo tempo, inconseqüente. Fumaça de dores, amores, amarguras, tristezas sem fim. O coração sempre insensato e louco, feroz e insano. Sempre ignorando aquilo que a mente tem a dizer. Atormentando pelos muitos amores certos, com os vários homens errados. Consumindo-se, dilacerando-se, sempre. Todos os dias eram de amor, hoje é dia de amor!
Ah Maysa, ninguém vai esquecer você.


"Vou e venho...
Venho... Vi roça. Saudade,
não mais vou.

Sempre
meu tempo é estar,
depois não sei nada.

Confundo idiomas, amores, idiomas,
mas não sei... Ficar.

Vi roça. Saudade,
gigantes, tristezas,
caminhos sem volta
a nada. De nada.
Mas tenho que ir.
E porque preciso de outros poetas
preciso chegar..."

Maysa


Para Maysa

Vai menina moça!
Vai com quem te merece.
Você já fez o que tinha de ser,
Agora é tudo lindo por causa de você.
Não te importe com a ausência,
Que deixaste no meu coração,
Não...não.
Agora já amanheceu!
Já tem flor desabrochando,
No meu jardim.
Vai desabrochar lá menina moça!
Vai voar, vai amar, vai colorir.
Passeia com as estrelas, iguais a ti,
Não deixe que elas tenham inveja de você.
Luta de novo, briga de novo, ama de novo,
Vence de novo!
Não liga pro pranto tolo de mais um apaixonado...
Agora você já cresceu.
Agora você já pode ir.
Vai menina moça!
Agora você é uma estrela,
E ninguém nunca vai te esquecer.

Vitor Dirami


"...E pedras atirarei pelos caminhos,
por onde terei que arrastar meu corpo
pra que me machuquem
antes de que outras,
as mais duras,
abram minha cabeça
e descubram a minha inocência."

Maysa Figueira Monjardim
(1936 + 1977)