16 de dezembro de 2013

Imprensa: 5 anos sem Elis, 10 anos sem Maysa - Revista Manchete, 1987


5 anos sem Elis, 10 anos sem Maysa


Biografar Elis e Maysa é fácil. Retratar, impossível. De que adianta falar de suas vidas atribuladas até suas mortes trágicas? De que servem dados e datas, se às vezes o destino se faz irritantemente inexplicável? Talentosas, famosas, maravilhosas, elas não conheceram a paz. Se conheceram, foi-lhes dado apenas saborear em alguns momentos. Doces, porém poucos. Duas vidas consumidas em buscas incessantes, em procuras totais. Lutaram até o fim, por tudo. E tudo em ritmo intenso, incessante. Alucinante. Ao longo de suas tumultuadas carreiras tentaram a torturante tarefa de engolir a vida num só gole (no caso de Maysa, on the rocks). Para depois de tudo, de tanto, conseguirem se transformar em mitos musicais maiores. Mas isso é pouco – ou nada – pra quem teve tanta sede. O tempo passa, os mitos morrem, por isso é preciso sacudir a poeira da frágil memória nacional, de vez em quando. Principalmente quando se sabe que está fazendo cinco e dez anos que Elis e Maysa se calaram.

Texto de Renato Sérgio

“Por favor, não deixe ninguém subir. Nem minha mãe, nem meu pai, nem o Samuel e nem Deus!”
Era noite/madrugada do dia 18/19 de janeiro de 1982. Já de manhã o porteiro João Francisco atendeu pelo mesmo interfone. A voz era outra, mas também aflita. Pouco antes do meio-dia, Elis Regina Carvalho Costa dava entrada ao Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo, com parada cardio-respiratória, segundo a médica Elizabeth Nicodemo.

 Dos quatro coveiros que fizeram o enterro, Domingos José da Silva, 31 anos, salário mínimo, nunca teve um disco dela. Quando desceu o esquife ao túmulo 2.199 da quadra 7 do setor 5 do cemitério do Morumbi, sepultava um corpo, calava um canto. Era o ponto final de uma carreira turbulenta porém marcante. Uma das maiores estrelas de toda a historia da música popular brasileira. O fim de uma dura caminhada, começada num dia inesquecível – 31 de março de 1964 –, quando ela chegou ao Rio, com o pai e uma carta de apresentação do PTB gaúcho, batalhando um emprego na Cibrazem, já cantora amadora de só aplauso como pagamento por sua incrível voz.

 Entre a carta e o óbito, uma guerra nada santa. Foi dada à luz do palco poucos meses depois da chegada ao Rio – setembro de 64 – no berço (e tumba) da bossa nova, um bar chamado Bottles, numa ruela sem saída da Rua Duvivier, em Copacabana. Cantando como uma deusa. Guerreando como um diabo. Deusa e diabo na terra do som. O canto ficou em algumas – poucas – gravações. A fala, os ventos levaram. Uma: “Tenho o prazer de me danar e me recompor sozinha. Não preciso de muletas.” Teve mil vezes o prazer de se danar e se recompor, pensando que não precisava de muletas. Precisava, sim, e de muitas. Até que uma delas a derrubou.

“Monja, eu te adoro, Monja!”
 Era a tarde/noite do dia 22 de janeiro de 1977. Monja era como Maysa chamava o pai, Alcebíades Monjardim, tomado de um estranho pressentimento naquele sábado, diante de mais uma fase ultracarinhosa da filha. Pediu até que adiasse a viagem para o dia seguinte. Mas ela riu, dizendo que domingo é pior a estrada, por causa do pessoal que volta da região dos lagos para o Rio. Fizeram tudo para ela ficar mais um pouco. Mas ela queria ir embora. Os beijos, o carro, a arrancada. Pouco depois a Brasília azul, placa FJ-5505 de São Paulo, batia contra a mureta central que divide as duas pistas da Ponte Rio-Niterói, pouco antes das seis da tarde. Um choque fortíssimo: o volante entrou até a altura do banco traseiro. Foi socorrida quase imediatamente por dois agentes da Polícia Rodoviária, Augusto César e Orlando Rolim, e levada para o Hospital Antônio Pedro, em Niterói, mas morreu antes de qualquer providência médica possível. O rosto, perfeito, mas as pernas e o braço direito tinham fraturas expostas, além de afundamento do tórax. Maysa seguia, sozinha, para Maricá, no litoral fluminense, onde tinha uma casa de praia, levando utensílios, roupas e alimentos para o fim de semana que passaria com seus cachorros e gatos. Estava de calça jeans, blusa amarelo-claro e botas marrom-escuro. Pouco antes, tinha escrito uma poesia (ou letra de música) que dizia: “Há no ar um imenso desejo de adeus/não há a menor dúvida/não há a menor dúvida”.

 Não havia a menor dúvida.

- “Tenho muitos machucados, pelo corpo inteiro” – ela tinha dito, um dia. Morreu machucada. “Tenho uma profunda necessidade de dizer que amo as pessoas, mas só tenho coragem de fazer isso com a ajuda da bebida.” Bebeu. “E geralmente acabo destruindo aquele amor que estou querendo dar.” Destruiu. “Porque só bêbada assumo essa responsabilidade de relacionamento que não devo ter tido, quando criança.” Não teve. O colégio interno era o certo, no entender familiar. E lá foi ela para o Sacré-Coeur, deixando para trás o casarão da Rua Marquês de São Vicente, em Botafogo, Rio, onde se fartava de brincar, comer manga adocicada pelas mordidas de morcegos. Sentia muita falta da mãe, do perfume que a mãe usava, então pedia que levassem o vidro e derramava no travesseiro, só para sentir o cheiro. 

 Mas da infância também ficou o outro lado, o alegre, das férias em Vitória do Espírito Santo, terra dos parentes paternos, tendo o mar por quintal, comendo banana molhada de água salgada, usando árvore como trampolim.

“As pessoas estão ficando cada vez mais sós, cada vez mais ilhadas.” Ela, mais. Desde os anos – foram oito – de estudo de piano, daqueles vestidos cor-de-rosa que a avó fazia. E ficou, da infância também, o gostinho do licor que roubava do fundo dos copos das visitas, quando iam embora. Paladar fatal. “Ninguém gosta de bêbado!”

 Moça de muitos amores, mulher de muita coragem. Bêbada ou não. Artista de muitos caminhos, se não chegou nem perto do sonho de estudar medicina, não morreu sem concretizar outro sonho, o de ser atriz, duas vezes: em Woyzeck, de Georg Büchner, no palco, em O Cafona, de Bráulio Pedroso, na televisão. Teve uma butique de roupas, discos, livros e objetos usados, em Copacabana, pintou quase 100 quadros a óleo, principalmente entre 1974 e 77, fez esculturas e deixou mais de 200 poesias não divulgadas, além de muitas letras musicais guardadas.

 Uma:
“Eu fui te buscar no mais profundo do meu corpo/te amei antes e te amo agora que já não sei mais/inda outro dia olhei nos teus olhos/e só vi a minha imensa dor/que não era mais a minha.” Muitas rimas, muitos rumos. Todas as certezas que a angústia lhe deu, levaram-na a portos estranhos. “Mas que eu diria quase seguros/que eu não procurei/e vou indo inutilmente/numa busca que não é minha/que não posso/ que não sei.”

 Cessada a busca e calada a voz, restaram-lhe duas missas: uma no pequeno coreto da praça central do bairro Divinéia, em Maricá, com a presença de um maquiador da televisão e alguns veranistas, além do filho, do irmão, uma tia, uma prima, o prefeito, e a promessa de uma rua com seu nome. No sétimo dia, outra na Igreja Santa Margarida Maria, na Lagoa, Rio, com apenas três nomes conhecidos, ligados ao meio. Depois da comunhão, ao som de Ouça – seu maior sucesso –, o sermão:
“Na semana passada Maysa descobriu a resposta para todas as suas procuras e suas angústias, encontrando a paz e a felicidade. Vamos rezar para que ela, junto a Deus, encontre a ressurreição, vamos, principalmente, lembrar sempre da carga de bondade que ela levava em seu coração, vamos orar para que ela tenha passado para a vida eterna, onde não terá mais solidão, choro, sacrifícios ou sofrimentos.”
Assim tenha sido.

“Pisô malandro. Eu não quero esse acorde, quero este!”

 Elis tinha cabeça de músico. E só reclamava do que sabia, sabendo sempre o que queria. Uma das únicas cantoras brasileiras interessadas em onde iria caber um determinado acorde, sacando onde é que ele ia ficar melhor. Malícia e pureza, juntas, na voz. A gente pensava que sabia o que esperar dela, mas sempre pintava surpresa, novidade, o inesperado, enfim. 

 Cantando ou não. Os outros tentando sair da mesmice com uma cortininha atrás e uma luzinha de lado, passando apenas uma emoção pensada, dosada. Elis? Nunca! Elis tinha o grande lance do “eu quero, eu assumo”. Já na época em que a música começava a ficar uma coisa difícil, o coração mais ainda, ela armava mesmo, geral. Até em camarim, com filho pequeno dormindo, psiu, ela pedindo pra todos falarem baixinho pra não acordar, o garoto num canto, a garoto noutro.
Elis era assim.

 E continua vazio, o espaço feito vago por uma cantora que não deixou nada pra ninguém fazer: fez tudo a que tinha direito e até ao que não tinha. Só não cumpriu o papel planejado, capital inicial de sua carreira, que era o de carbono-concorrente de Cely Campello, cercada de rocks, calipsos e variedades outras, num disco chamado Viva a Brotolândia. Dezoito anos depois, dias antes de morrer, acusava as gravadoras de usarem o mesmo expediente, o de fabricar cópias de estilos que deram certo. Acontece que Elis era mais petulante e impertinente do que quem pretendia traçar seus caminhos. Mostrou isso o tempo inteiro, a vida toda, curta, de quase 40 anos.

“A gente faz parte de um grande teatro, cada um tem sempre uma carta escondida na manga. Ainda vou guardar uma dessas para o futuro, que não sou boba nem nada.”

 Pra guardar, deu; só não deu pra usar. Na verdade, poucos patrícios, de qualquer setor, deixaram uma marca tão profunda no inconsciente coletivo brasileiro. E talvez, no campo da música popular, ninguém tenha conseguido tanto, tenha voado tão alto.
“...e quando lavarem a água/digam o gosto pra mim.”
Ainda não lavaram. Pior: sujaram mais.

 E lá se foram cinco anos, depois daquela triste manhã de véspera de feriado, as multidões dizendo que ela tinha morrido e todos ficando sabendo, em comoção nacional, que Elis não era tão antipopular como ela mesma se rotulava.
“Dizem que eu sou a maior cantora brasileira, mas quem vende disco é a bunda da Gretchen!”

 Cada vez se acentua mais sua sentida ausência. Quanto às oscilações estilísticas, remetem-nas ao temperamento decididamente irrequieto, daqueles que não deixam ninguém indiferente. Do tipo ame-a ou deixe-a. Muitos a amaram, muitos continuam amando na saudade, muitos a deixaram, claro.

 Mas ninguém ficou indiferente. Porque ninguém deixou de ser atingido por suas rajadas, musicais ou não. E ninguém, nem nada, foi poupado. Sua exata noção da realidade do mundo artístico em geral, brasileiro em particular, era tão afinada quanto à sua inigualável voz. Nunca quis ser líder e foi, nunca quis ser imortal e é. Sábia, sabia que artista, nesta terra onde até o sabiá canta, só vive de caravanas rolidêi, desde os tempos da Rádio Nacional velha de guerra.

 Pobre daqueles que não viram/ouviram Elis!

 Preocupada com as pessoas: “Isso que está aí não aceito. Mas como acredito profundamente no ser humano, acho que nem tudo está perdido. E vou trabalhar para a melhoria do planeta, a meu jeito. Porque a cada dia que passa acredito mais acredito no grupo, na gargalhada, na leveza, na força do sol atuando em cima das pessoas.” Batalhando pela sua própria tranqüilidade, diante de si mesma e do espelho: “Continuo com os passarinhos, as flores, as cascatas, os rios. Sou uma pessoa antiga, não vou trair minha cabeça.” Vivendo e aprendendo a jogar.

“É mais provável me encontrar na cozinha, fazendo a comida dos meus filhos, do que numa chaise-longue, fazendo cara de Barbra Streisand.”

 Premonição ou não, ela não me pareceu nada feliz, quando me disse essa frase, naquele apartamento alugado da Rua Francisco Otaviano, Posto seis de Copacabana, pousada temporária durante os dias do show Saudade do Brasil. Rita no ombro, Pedro no outro, acrobacias no sofá da sala ensolarada.

 Foi a última vez que vi Elis. Depois de uma reaproximação meio mágica, nos bastidores do Canecão. Depois de 17 anos sem nos falarmos, por desígnio dos deuses e por vacilo de parte a parte. Dizendo-se, basicamente, uma pessoa que adorava viver. Foi a última vez que ouvi Elis.

 Melhor, então, ouvir Manuel Bandeira, poetando: “Cacei imagens delirantes/Maysa podia não gostar/Cassei o poema/muito simplesmente/Maysa não é isso mas Maysa tem aquilo/Maysa não é aquilo mas Maysa tem isso/Os olhos de Maysa são dois não sei que, dois não sei como diga, dois oceanos não-pacíficos.”

 Maysa Figueira Monjardim nasceu carioca, num dia 6 de junho. Gêmeos. Um irmão que tem uma linda filha, chamada Maysa, como ela. “Meus pais são maravilhosos, minha mãe é belíssima e meu pai tem os olhos mais azuis que já vi. Sempre foram meus amigos e companheiros, em tudo e para tudo. Só não gostaram quando comecei a cantar; hoje, porém, são meus fãs incondicionais.” A música sempre importante, desde pequena. A tia Lia era uma pianista excelente e, quando ela estudava, ficava horas e horas sentada ao seu lado. Aos três anos já sabia tocar qualquer coisa, com dois dedos. Ao seis ia dar seu primeiro concerto, mas ficou doente, com sarampo. Aos sete, outra vez, mas com catapora. Assim, nunca pode levar a sério uma carreira de pianista, uma de suas frustrações. “Já casada, esperando Jayminho, meu filho, numa festa em casa toquei algumas de minhas músicas que compunha desde os 13 anos. Estava lá o radialista e produtor fonográfico Roberto Corte-Real, que me convidou para gravar um disco, logo que o baby nascesse.”

 Assim nasceu um long-playing de alta fidelidade intitulado Convite Para Ouvir Maysa. Oito faixas, todas com letras e melodias dela: Marcada, Não Vou Querer, Agonia, Quando Vem a Saudade, Tarde Triste, Resposta, Rindo de Mim, Adeus. Um longa-duração, 33 rpm, inquebrável, microssulco, uma orquídea e um cartão de visitas estampado na capa, embaixo de três letras e quatro números insinuantemente cabalísticos: RLP-0013. na contracapa, o sobrenome de casada, Matarazzo, no rodapé, a recomendação:
 “Dê música, prova de bem querer.”


 Renda do disco revertendo em benefício da Campanha Contra o Câncer. Moça de fino trato, lançada na zorra do mundo da música. Em novembro de 1956 um crítico escrevia que ela tinha despontado como uma espécie de Cinderela às avessas, dispondo-se a descalçar seus sapatinhos de cristal. Gostava de cantar descalça, isso sim. E uma noite ficou descalça em cena, depois de atirar o sapato na mesa da boate liderada por um grã-fino que tinha cometido aquele golezinho a mais que faz qualquer um passar de gente boa a chato de galocha. Cinderela às avessas mesmo, incorporando as frustrações do pessoal que, no fundo, pensava que a felicidade estava só em quem era jovem, rica, bonita, de olhos verdes.

 Essa dark (autêntica) dos anos dourados estaria, hoje, com 50 anos. E agora?
“Agora retiram de mim a cobertura de carne, escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos. E aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo, um rascunho. Uma forma nebulosa feita de luz e sombra, como uma estrela. Agora eu sou uma estrela!”

 Agora Elis é uma estrela.

 Maysa cinquentona, pode? Pode, mestre Manuel Bandeira?
“Como é, então, que Maysa me comove e me sacode, me buleversa, me hipnotiza? Os olhos e a boca de Maysa se entendem/os olhos dizem uma coisa e a boca de Maysa se condói/se contrai se contorce como a ostra viva em que se pinga uma gota de limão/a boca de Maysa escanteia e os olhos de Maysa ficam sérios/meu Deus, como os olhos de Maysa podem ser sérios e a boca de Maysa pode ser amarga!/Boca da noite (mas de repente alvorece num sorriso infantil inefável)!/Maysa reapareceu depois de longa ausência/Maysa emagreceu/está melhor assim?/nem melhor nem pior./Maysa não é um corpo/Maysa são dois olhos e uma boca/essa é a Maysa da televisão/a Maysa que canta./A outra eu não conheço não/não conheço de todo/mas mando um beijo pra ela.”

 Se a voz de Elis transmitiu tudo ou quase tudo que podia e devia cantar e dizer, se de repente se calou, numa overdose etílico-alcalóide, nada mais a fazer, além de recordá-la:
“O que me abriu o olho foi o lance do Vinícius: o sorriso dele, morto, me deu a sensação de alguém que estava absolutamente satisfeito, porque fizera tudo que podia, tinha vontade e capacidade de fazer. Eu daqui a pouco tenho um enfarte e danço nesta vida, sem fazer nada do que gostaria de ter feito. E a vida não pode ser só isso aqui, não, senão não teria o menor sentido.”

 Ah, o restinho de licor dos copos das visitas, quando elas iam embora! Um gostinho mais tarde transformado em dependência e que fez de Maysa protagonista de histórias mirabolantes, que a fez chegar quase aos 100 quilos, quase desacreditada profissionalmente. Fases de altos e baixos astrais, onde o termômetro, o placar, eram a abstinência integral ou a entrega total. Uma vida ligada à distância que a separava dos copos. E sempre consciente, de tudo e de todos. Até nas contradições. “Só sei que não quero morrer!”

 Mas jamais pensou que as contingências a levassem a toda aquela confusão geral, só querendo se autodestruir. Mania, uma: contrariar todas as normas que lhe impunham. Precisava botar pra fora toda a angústia que sentia naquela gaiola de ouro em que estava metida. E perguntava, coerente: “Pode existir coisa mais besta do que ser feliz?”

 Elis dizia não entender as pessoas e talvez fosse morrer sem entende-las. Por isso não dava pra ficar incomodada. Preferia ser Macunaíma, confessadamente, o herói sem nenhum caráter. Maysa tentou suicídios, sabendo que era uma espécie de apelo, de pedido de proteção. Nos intervalos, períodos de muito carinho pela pele, de muito respeito pelo corpo e a cabeça. Mas preferia ter sido Milena, declaradamente. A amiga de Kafka.

 Almas meio-irmãs, Elis e Maysa morreram juntas: só que separadas por cinco anos menos três dias. E o que é esse tempo todo, diante de tanta eternidade, diante de tanta atualidade?





(Matéria publicada originalmente na REVISTA MANCHETE, em 1987)