6 de junho de 2011

Especial: 75 anos de Maysa (parte 1)


“Um mito, creio eu, tem muitas biografias e como nós mortais, apenas uma vida”.
Roubo as palavras do compositor Ronaldo Bôscoli, para novamente vir aqui falar de Maysa em uma data tão especial.

Mas, como se faz um mito? Na maioria das vezes, os grandes mitos optaram por fazer da biografia e da vida pessoal uma só coisa – isto é ainda mais notável quando se fala sobre mulheres. Para o bem ou para o mal, mitos se criam por exercerem grande fascínio sobre os outros. Foi exatamente assim que aconteceu com Maysa, e como exerce este fascínio!


Dia 6 de junho de 1936, nascia Maysa Figueira Monjardim. Carioca, geminiana, viva, nascida no bairro de Botafogo, num outono feliz. Foram 40 curtos anos de longa vida. Hoje faria 75 anos de existência, findada há 34 anos atrás. Vida breve, intensa, furiosa, gloriosa, meteórica, incessante, insensata. Absolutamente divina.



Só disse o que pensava, só fez o que quis e naquilo que cria. Não se explicam existências com a de Maysa. Lutou veementemente, a vida inteira, pelo respeito, pela felicidade, pelo amor, por si própria. Lutou contra tudo que se pudesse estar predestinado a ela, que se possa chamar de destino. Contra as  míseras amarras que a vida lhe impunha, construiu sua própria história. Nunca se submeteu a nada, nem a ninguém. Renunciou ao espectro, um andróide, para ser Maysa. Maysa autêntica, sincera, verdadeira. Maysa que assumia sucessos e fracassos, que expunha sua dor em público, sem se importar com a maldade de quem nada sabe.


Tudo tem seu preço. Maysa plantou amor, carinho, afeto e muita emoção no coração das pessoas. Não recebeu menos que isso. Pagou um preço alto (até demais), por ter vivido apenas como quis, em meio a uma sociedade hipócrita, preconceituosa, machista e arcaica. Foi uma transgressora muito antes do feminismo. Subsistiu contra todos aqueles que tentaram diminui-la, castra-la, e se tornou muito mais vitoriosa perante tudo e todos. “Se me agridem eu agrido, isto é humano!” Se é preciso pagar um preço pela liberdade, Maysa o pagou, e o aproveitou como bem quis. Se ela se orgulhava de suas virtudes, muito menos sentia vergonha de seus defeitos. Definitivamente, foi um ser humano violentamente vivo!


Vai ser difícil esquecer Maysa. “Duas vezes se morre: na carne e no nome”. Assim disse o poeta Manuel Bandeira.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."


Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.”

Maysa deixou muito mais que um nome marcante. Deixou um legado imenso e fértil. Ninguém vai esquecer o nome de Maysa.
Maysa, com sua escrita compulsiva e , intermitente, preenchendo mil folhas com seus mais de mil versos tristes. O olhar triste, furioso e divinamente belo, translúcido. Verde como a esmeralda que é arrancada da rocha fria. O carro correndo incessantemente a 100...120...200km por hora, nas vias de caminhos infinitos, que significavam as infinitas buscas daquele ser. O copo de bebida sempre a mão, velha companhia traiçoeira e amarga. A fumaça dos muitos cigarros fumados a todo tempo, inconseqüente. Fumaça de dores, amores, amarguras, tristezas sem fim. O coração sempre insensato e louco, feroz e insano. Sempre ignorando aquilo que a mente tem a dizer. Atormentando pelos muitos amores certos, com os vários homens errados. Consumindo-se, dilacerando-se, sempre. Todos os dias eram de amor, hoje é dia de amor!
Ah Maysa, ninguém vai esquecer você.


"Vou e venho...
Venho... Vi roça. Saudade,
não mais vou.

Sempre
meu tempo é estar,
depois não sei nada.

Confundo idiomas, amores, idiomas,
mas não sei... Ficar.

Vi roça. Saudade,
gigantes, tristezas,
caminhos sem volta
a nada. De nada.
Mas tenho que ir.
E porque preciso de outros poetas
preciso chegar..."

Maysa


Para Maysa

Vai menina moça!
Vai com quem te merece.
Você já fez o que tinha de ser,
Agora é tudo lindo por causa de você.
Não te importe com a ausência,
Que deixaste no meu coração,
Não...não.
Agora já amanheceu!
Já tem flor desabrochando,
No meu jardim.
Vai desabrochar lá menina moça!
Vai voar, vai amar, vai colorir.
Passeia com as estrelas, iguais a ti,
Não deixe que elas tenham inveja de você.
Luta de novo, briga de novo, ama de novo,
Vence de novo!
Não liga pro pranto tolo de mais um apaixonado...
Agora você já cresceu.
Agora você já pode ir.
Vai menina moça!
Agora você é uma estrela,
E ninguém nunca vai te esquecer.

Vitor Dirami


"...E pedras atirarei pelos caminhos,
por onde terei que arrastar meu corpo
pra que me machuquem
antes de que outras,
as mais duras,
abram minha cabeça
e descubram a minha inocência."

Maysa Figueira Monjardim
(1936 + 1977)

3 comentários:

  1. Muito bom - incrível a capacidade de se renovar a cada texto e cada homenagem. Sempre com um gosto de novidade muito saboroso. Parabéns e viva Maysa - hoje e sempre.

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  2. Olá Vítor, que linda essa postagem, acompanho o blog a alguns meses (inclusive pelo rss) e ainda vasculho as postagens antigas, parabéns pelo blog. Tenho 19 anos e infelizmente só a conheci através da mini série. Cara, simplesmente não tenho palavras pra descrever como ela é incrível pra mim, está gravada na minha alma, a laser, fogo...tudo.
    As vezes brinco que me lembrarei dela mesmo se eu tiver alzheimer.
    Parabéns pelo prazer (afinal, não acho que seja um trabalho falar nela).

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  3. Lindo,lindo..adorei! Que pana que a nossa diva não está mais entre nós :( Leiam minha homenagem à ela no meu blog também >> http://luiza-mariano.blogspot.com/2011/06/que-memoria-de-maysa-permaneca-para.html

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