IV FIC
Realizado
pela Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara com o apoio da Rede Globo de
Televisão (então TV Globo), a IV edição do Festival Internacional da Canção se
realizou entre os meses de setembro e outubro de 1969, mais uma vez no Estádio
do Maracanãzinho, na cidade do Rio de Janeiro. Apesar do sucesso retumbante das
edições anteriores, o IV FIC foi uma das piores edições do Festival
Internacional da Canção – o formato já começava a dar sinais de desgaste, e a decadência
da Era dos Festivais.
Como
a maioria dos grandes intérpretes e compositores das edições anteriores – Chico
Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil – haviam partido para o exílio, o IV FIC
sofreu muito com a qualidade musical das canções inscritas na edição. Somado a
isso, o endurecimento da Ditadura Militar no Brasil impunha uma certa censura
ao festival. O temido AI-5 fora imposto pelo regime no ano anterior, e o ano de
1969 já vira a imposição de mais de cinco outros Atos Institucionais. Portanto,
a IV edição do festival teve inscrições bem menores de canções de protesto.
Além disso, vários convidados internacionais recusaram participar do festival,
ou então cancelaram a vinda em cima da hora. Como foi o caso do Beatle George
Harrison, que anunciou que não viajaria a um país onde o embaixador
norte-americano – Burke Elbrick, acabara de ser seqüestrado por um grupo
militante de esquerda. Sendo assim, o organizador do festival – Augusto
Marzagão, temia um fracasso retumbante.
Marzagão
foi pessoalmente à casa de Maysa, convence-la à participar da IV edição do
festival, para isso, usou de um argumento tentador: a cantora seria homenageada
pela direção do festival. O Troféu Galo de Ouro para o melhor intérprete da
fase nacional receberia justamente o nome de Troféu Maysa Monjardim. Ela, que
havia jurado nunca mais participar de um outro festival, acabou aceitando.
Naquela época, o nome de Maysa andava muito em alta, a cantora era bem
apreciada pela mídia e fazia grande sucesso de público. Portanto, seu nome
serviria mais como uma tentativa de chamar atenção do público para o festival,
numa edição carente de grandes nomes e aparições.
Não
deu outra, seu nome foi um dos mais bem cotados do festival, e a música “Ave
Maria dos Retirantes” foi logo apontada como uma das favoritas. A excelente
canção da dupla de baianos Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo, era de longe uma
das de maior qualidade da edição. A temática de seca e imigração era inédita do
repertório de Maysa, um atraente ao público, acostumado com as canções
românticas da cantora. E mostrava um Maysa mais madura e segura de si, sem medo
de experimentar o novo.
E
foi assim, como favorita do IV FIC, que Maysa subiu ao palco do Maracanãzinho
no dia 27 de setembro de 1969, para cantar “Ave Maria dos Retirantes”, com
arranjo do tropicalista Rogério Duprat. Entre os outros destaques da edição,
estavam Os Mutantes defendendo “Ando Meio Desligado” (Arnaldo Batista/Rita Lee/Sérgio Dias), Jorge Ben & Trio Mocotó com “Charles, Anjo 45” (Fritz
Escovão/Nereu Gargalho/Joãozinho Paraíba) e Beth Carvalho cantando “O Tempo e o
Vento” (Jorge Omar/Billy Blanco). O IV FIC contou ainda com a participação de
Cláudia com o Quarteto Fórmula 7 – “Razão de Paz Para Não Cantar”, Marcos Valle
– “Beijo Sideral”, Golden Boys – “Minha Marisa”, MPB-4 – “Minha Marisa” e
Egberto Gismonti – “Mercador de Serpentes”.
Foi
um festival sem brilho, sem muitos destaques, sem concorrência e que deixou
muito pouco à que se recordar. A vaia permaneceu como a principal instituição
do Festival Internacional da Canção. Na IV edição, ela coube a Jorge Benjor
(ainda Jorge Ben), que cantou “Charles, Anjo 45” com o Trio Mocotó. Mas, a
chuva de apupos só não foi maior que aquela que o estreante Jards Macalé
recebeu quando cantou a atípica “Gotham City”, vestido num traje de gosto
duvidoso, que fazia alusão ao herói Batman.
Passadas
as duas eliminatórias, a final da fase nacional deu-se em 28 de setembro. “Ave
Maria dos Retirantes” ficou em oitavo lugar na final nacional, um resultado bem
abaixo do esperado. A fase nacional fora vencida por “Cantiga por Luciana”
(Edmundo Souto/Paulinho Tapajós), interpretada pela cantora Evinha, que também
ganharia a disputa internacional do festival. Maysa não gostou nenhum pouco,
saiu ressentida e bradou: “É absurdo que a música brasileira, em seu estágio
atual, tenha regredido a ponto de uma música como ‘Cantiga por Luciana’ ficar
em primeiro lugar. Isso é a pior coisa que o Paulinho Tapajós já fez na vida. E
este FIC não serviu pra porcaria nenhuma.” Contudo, o IV FIC não foi de
todo ruim, e serviu para mostrar uma nova faceta de Maysa – agora, mais ousada.
O que mais chamou mesmo a atenção do público, foi o figurino usado pela
cantora. Um vestido com o busto feito de tecido transparente, que deixou seus
seios quase à mostra. Numa das fases mais bonitas de sua vida, então com 33
anos, Maysa arrancou muitos suspiros e zooms das câmeras de televisão.
A fase internacional, foi tão insossa quanto a
primeira. Com quarenta países representados, também foi vencida por Evinha, com
“Cantiga por Luciana”. Um dos poucos grandes momentos do festival, foi à
apresentação de “Love is All” (Lês Reede/Barry Mason), por Malcolm Roberts –
cantor com pinta de galã, representante da Inglaterra. Num momento
verdadeiramente emocionante, o cantor levantou o Maracanãzinho num coro de 30
mil pessoas, interpretando uma canção absolutamente romântica. Malcolm Roberts
ficou em terceiro lugar na classificação da final internacional do IV FIC. E mais uma vez, o resultado não agradou nem a gregos, nem a troianos.
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