1 de outubro de 2012

IV Festival Internacional da Canção (1969)


IV FIC 


Realizado pela Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara com o apoio da Rede Globo de Televisão (então TV Globo), a IV edição do Festival Internacional da Canção se realizou entre os meses de setembro e outubro de 1969, mais uma vez no Estádio do Maracanãzinho, na cidade do Rio de Janeiro. Apesar do sucesso retumbante das edições anteriores, o IV FIC foi uma das piores edições do Festival Internacional da Canção – o formato já começava a dar sinais de desgaste, e a decadência da Era dos Festivais.

Como a maioria dos grandes intérpretes e compositores das edições anteriores – Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil – haviam partido para o exílio, o IV FIC sofreu muito com a qualidade musical das canções inscritas na edição. Somado a isso, o endurecimento da Ditadura Militar no Brasil impunha uma certa censura ao festival. O temido AI-5 fora imposto pelo regime no ano anterior, e o ano de 1969 já vira a imposição de mais de cinco outros Atos Institucionais. Portanto, a IV edição do festival teve inscrições bem menores de canções de protesto. Além disso, vários convidados internacionais recusaram participar do festival, ou então cancelaram a vinda em cima da hora. Como foi o caso do Beatle George Harrison, que anunciou que não viajaria a um país onde o embaixador norte-americano – Burke Elbrick, acabara de ser seqüestrado por um grupo militante de esquerda. Sendo assim, o organizador do festival – Augusto Marzagão, temia um fracasso retumbante.

Marzagão foi pessoalmente à casa de Maysa, convence-la à participar da IV edição do festival, para isso, usou de um argumento tentador: a cantora seria homenageada pela direção do festival. O Troféu Galo de Ouro para o melhor intérprete da fase nacional receberia justamente o nome de Troféu Maysa Monjardim. Ela, que havia jurado nunca mais participar de um outro festival, acabou aceitando. Naquela época, o nome de Maysa andava muito em alta, a cantora era bem apreciada pela mídia e fazia grande sucesso de público. Portanto, seu nome serviria mais como uma tentativa de chamar atenção do público para o festival, numa edição carente de grandes nomes e aparições.

Não deu outra, seu nome foi um dos mais bem cotados do festival, e a música “Ave Maria dos Retirantes” foi logo apontada como uma das favoritas. A excelente canção da dupla de baianos Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo, era de longe uma das de maior qualidade da edição. A temática de seca e imigração era inédita do repertório de Maysa, um atraente ao público, acostumado com as canções românticas da cantora. E mostrava um Maysa mais madura e segura de si, sem medo de experimentar o novo.

E foi assim, como favorita do IV FIC, que Maysa subiu ao palco do Maracanãzinho no dia 27 de setembro de 1969, para cantar “Ave Maria dos Retirantes”, com arranjo do tropicalista Rogério Duprat. Entre os outros destaques da edição, estavam Os Mutantes defendendo “Ando Meio Desligado”  (Arnaldo Batista/Rita Lee/Sérgio Dias),  Jorge Ben & Trio Mocotó com “Charles, Anjo 45” (Fritz Escovão/Nereu Gargalho/Joãozinho Paraíba) e Beth Carvalho cantando “O Tempo e o Vento” (Jorge Omar/Billy Blanco). O IV FIC contou ainda com a participação de Cláudia com o Quarteto Fórmula 7 – “Razão de Paz Para Não Cantar”, Marcos Valle – “Beijo Sideral”, Golden Boys – “Minha Marisa”, MPB-4 – “Minha Marisa” e Egberto Gismonti – “Mercador de Serpentes”.

Foi um festival sem brilho, sem muitos destaques, sem concorrência e que deixou muito pouco à que se recordar. A vaia permaneceu como a principal instituição do Festival Internacional da Canção. Na IV edição, ela coube a Jorge Benjor (ainda Jorge Ben), que cantou “Charles, Anjo 45” com o Trio Mocotó. Mas, a chuva de apupos só não foi maior que aquela que o estreante Jards Macalé recebeu quando cantou a atípica “Gotham City”, vestido num traje de gosto duvidoso, que fazia alusão ao herói Batman.

Passadas as duas eliminatórias, a final da fase nacional deu-se em 28 de setembro. “Ave Maria dos Retirantes” ficou em oitavo lugar na final nacional, um resultado bem abaixo do esperado. A fase nacional fora vencida por “Cantiga por Luciana” (Edmundo Souto/Paulinho Tapajós), interpretada pela cantora Evinha, que também ganharia a disputa internacional do festival. Maysa não gostou nenhum pouco, saiu ressentida e bradou: “É absurdo que a música brasileira, em seu estágio atual, tenha regredido a ponto de uma música como ‘Cantiga por Luciana’ ficar em primeiro lugar. Isso é a pior coisa que o Paulinho Tapajós já fez na vida. E este FIC não serviu pra porcaria nenhuma.” Contudo, o IV FIC não foi de todo ruim, e serviu para mostrar uma nova faceta de Maysa – agora, mais ousada. O que mais chamou mesmo a atenção do público, foi o figurino usado pela cantora. Um vestido com o busto feito de tecido transparente, que deixou seus seios quase à mostra. Numa das fases mais bonitas de sua vida, então com 33 anos, Maysa arrancou muitos suspiros e zooms das câmeras de televisão.

A fase internacional, foi tão insossa quanto a primeira. Com quarenta países representados, também foi vencida por Evinha, com “Cantiga por Luciana”. Um dos poucos grandes momentos do festival, foi à apresentação de “Love is All” (Lês Reede/Barry Mason), por Malcolm Roberts – cantor com pinta de galã, representante da Inglaterra. Num momento verdadeiramente emocionante, o cantor levantou o Maracanãzinho num coro de 30 mil pessoas, interpretando uma canção absolutamente romântica. Malcolm Roberts ficou em terceiro lugar na classificação da final internacional do IV FIC. E mais uma vez, o resultado não agradou nem a gregos, nem a troianos.









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