Convite Para Ouvir Maysa
Gravadora: RGE
Ano: 1956
Faixas: *
1- Marcada
2- Não Vou
Querer
3- Agonia
4- Quando
Vem a Saudade
5- Tarde
Triste
6- Resposta
7- Rindo de
Mim
8- Adeus
* Todas
as canções de autoria de Maysa.
Análise:
Todos já conhecem a
famosa história de como Maysa foi descoberta, e de como se sucedeu o convite
feito por Roberto Corte-Real a Maysa, para a gravação de um disco. Também como
todos sabem, o marido de Maysa – André Matarazzo, foi contra. Apenas depois de muita
insistência, André consentiu que Maysa gravasse esse disco. Como ela estava
grávida na época, uma das condições impostas por André, foi a de que Maysa só
gravasse o disco depois do nascimento do seu filho.
Uma das
curiosidades que envolveram esse disco, é que o produtor Roberto Corte-Real,
era funcionário da gravadora Columbia na época, e quando levou aos seus
superiores a ideia de gravar um disco de Maysa. Mas, aos olhos do diretor da
gravadora, gravar um disco de uma senhora da sociedade, desconhecida e que
sequer era uma cantora, parecia um absurdo. Corte-Real teve que engolir a seco
a resposta do diretor da Columbia: “Quantas cópias o marido dela vai comprar?”
Corte-Real procurou
então o amigo José Scatena, dono da pequenina RGE, que até então só se limitava
a gravar jingles publicitários e discos de quase nenhuma repercussão. Segundo o
próprio Scatena revelou anos depois, ele sinceramente não acreditava no sucesso
daquela empreitada, mas diante do ineditismo do projeto, resolveu topar pra ver
do que daria toda aquela maluquice.
Passado o
nascimento do bebê Jayme e o período de resguardo, Maysa pôs-se a gravar. Todas
as 8 faixas do LP de 10 polegadas, foram preenchidas com composições de autoria
de Maysa, ela não aceitava sugestões e só gravava aquilo que queria.
Acompanhada pela Orquestra RGE, conduzida pelo maestro Rafael Puglielli – que
ficou famoso pelo programa Música & Fantasia da TV Record na época –
também era o responsável pelos arranjos do álbum.
As gravações do
primeiro disco de Maysa não foram nada fáceis. Ela era uma novata, nunca tinha
entrado em um estúdio de gravação antes e na época, a tecnologia arcaica exigia
que se repetissem as gravações de uma mesma música várias vezes até encontrar a
melhor versão, porque ainda não existiam os modernos aparelhos de edição
atuais. Era quase final de 1956 quando o disco foi finalmente “lançado” nas
lojas. Entre a série de restrições impostas por André Matarazzo, estava a de
que Maysa não podia exibir seu rosto na capa do disco (por isso a foto da capa
é a de um arranjo de orquídeas), nem usar o sobrenome Matarazzo – que só
aparece na contracapa do álbum. E o mais importante, era que o disco seria
feito em caráter beneficente, toda a renda seria destinada ao Hospital do Câncer, de Dona Carmen Annes
Dias Prudente – o que vetava qualquer possibilidade de carreira profissional de
Maysa.
Todas as canções do
disco seguem a mesma temática: amores acabados, sofrimentos e tristezas.
Qualquer ouvinte perceberia rápido que ali estava uma cantora característica do
estilo Samba-Canção – e das boas. São canções que refletem a infelicidade de
Maysa em seu casamento e já prenunciavam o fim do enlace matrimonial. Em
“Marcada”, “Não Vou Querer” e “Tarde Triste” (seu primeiro grande sucesso),
isto fica bem claro. A exceção era “Adeus”, sua primeira composição, escrita
por ela quando tinha só 12 anos. É uma letra que fala sobre amizade e
despedida, quase banal, mas que ganhou roupagem densa do maestro Puglielli.
Puglielli usou
instrumentos mais utilizados em música erudita do que num disco de música
popular – Harpa, Oboé e Violoncelo – estão presente nas faixas deste LP.
Convite Para Ouvir Maysa é um bom disco, mas o excesso de cordas em algumas
faixas prejudica as músicas e a voz pequena e quase rouca de Maysa, o que acaba
dando uma cara de “datada” as músicas.
Convite Para Ouvir
Maysa era um disco que tinha tudo para não ter acontecido, para dar errado. Um
disco de uma cantora desconhecida, que ninguém tinha ouvido falar, e que sequer
tinha seu rosto na capa do LP. Era um álbum fadado ao fracasso. José Scatena
sabia disso e por isso chamou o locutor Walter Silva (famoso pela dublagem do
personagem Pica-Pau no Brasil), um grande entendedor do assunto, pra que ele
ajudasse na divulgação do disco de Maysa.
E mais uma vez ela
conseguiu driblar a censura de André Matarazzo. Junto com Walter Silva, os dois
perambularam pelas rádios de São Paulo e do Rio de Janeiro, na tentativa de
desempacar as primeiras 500 cópias do LP. O argumento de Maysa para André
Matarazzo foi genial: Não se pode gravar um disco em caráter beneficente sem
que ele venda. O disco precisava tocar nas rádios e afinal de contas, gerar
alguma renda para que aí sim ele tivesse seu caráter reconhecido.
E não demorou muito
pra que isso acontecesse. Em pouco tempo a qualidade daquele trabalho era
reconhecida e a voz de Maysa estourava no eixo Rio-São Paulo. A RGE, que estava
à beira da falência, foi salva pelo disco desacreditado de Maysa e mandou
prensar mais 500 cópias depois daquelas primeiras 500 e assim por diante. A
jovem cantora começou a receber vários convites de rádios, shows e
televisão...e o resto desta história a gente sabe muito bem qual é.
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