3 de dezembro de 2012

Show: Au Bon Gourmet apresenta Maysa - 1963


Au Bon Gourmet apresenta Maysa

Maysa em show no Au Bon Gourmet acompanhada por Eumir Deodato e conjunto.

Maysa andava bastante distante do público brasileiro, quando resolveu retornar ao país para uma visita de poucos meses. A cantora, então, residia em Madri, ao lado do novo marido – o belga-espanhol Miguel Azanza. E tentava se adaptar à nova vida doméstica. Em 3 de abril de 1963, Maysa, – acompanhada do seu novo amor, e seus dois cachorrinhos Baltazar e Gaspar  –, desembarcou no porto de Santos, do navio inglês Amazon, vindo da Europa.
Emendando um novo contrato artístico, Maysa veio ao Brasil gravar dez videoteipes para a TV Tupi carioca. O musical – Maysa como ela é, seria retransmitido em cadeia nacional pelas Emissoras Associadas, todas as quartas-feiras, às 21:25 da noite.

Dias depois, Maysa deveria estrear uma temporada na boate Au Bom Gourmet do empresário Flávio Ramos, sob direção musical do veterano Aloysio de Oliveira. Na data marcada, ela chegou à boate vestindo um longo preto, de costas nuas e portando um vison branco sobre os ombros. Numa entrada cheia de rapapés, Flávio Ramos chegou a estender o tapete vermelho para Maysa passar, incluindo um Cadillac preto rabo-de-peixe, que ia busca-la em casa e traze-la ao Bon Gourmet todas as noites. Só a superestreia de Maysa, com dotada de requintes dignos de uma estrela internacional, já deu o que falar.
No show, Maysa era acompanhada pelo conjunto de Eumir Deodato (arranjos, piano e órgão), Ugo (vibrafone), Contra-baixo (Sergio), Copinha (Flauta) e João Palma (bateria). Na abertura, uma introdução magistral com a flauta de Copinha e o piano dedilhado por Eumir Deodato, tocava os primeiros acordes de “Ouça”, a plateia logo aplaudia, mas em seguida, de repente, tudo mudava e logo entrava a voz de Maysa interpretando “Demais”, de Antônio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira. Maysa se apropriara tanto daquela música, que de tão associada a ela, parecia até uma composição de sua própria autoria. Em seguida, dava luz á sua face jazzwoman, emendando uma versão turbinada de “I’ve Got You Under My Skin”, o grande clássico de Frank Sinatra.

O show seguia com outras interpretações de velhos sucessos dos últimos discos – “Por Causa de Você”, da falecida amiga Dolores Duran, “Dindi”, mais uma das parcerias entre Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, “Quem Quiser Encontrar o Amor”, “Fim de Noite”, “O Amor Que Acabou”, “Bom Dia, Tristeza” e encerrava com “Bouquet de Izabel”, de Sergio Ricardo, lançada por ela cinco anos antes. No fim, o conjunto fazia um encerramento com os instrumentais de “Ouça”, – de autoria de Maysa –, e “Rio”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Eram interpretações densas, carregadas de emoção e sentimentalismo, num show bastante intimista. Ela sequer se comunicava com a plateia.

Foi uma temporada de muito sucesso. Maysa conseguira lotar a boate Bon Gourmet todas as noites. Repercurtindo o sucesso do show, a imprensa também teve de dar o braço a torcer, e não poupou elogios a nova performance da cantora. Porém, não demorou muito para que os problemas do passado ressurgissem para estragar o presente. Maysa passou a faltar sistematicamente às apresentações. Maysa se atrasava, desaparecia, ou então sumia sem mandar dizer onde estava. O Cadillac que devia busca-la e leva-la ao Bon Gourmet, acabou por adiantar de nada.

Apesar do sucesso inquestionável, o dono da boate, Fávio Ramos, teve que encerrar a temporada antes do previsto. Não podia manter no cartaz uma cantora que ninguém sabia onde estava. Assim como a temporada no Bon Gourmet, o programa da TV Tupi acabou tendo o mesmo final. Os programas foram tirados abruptamente do ar, sem maiores explicações da emissora.

De tudo isso, restou o disco gravado ao vivo durante o show no Au Bon Gourmet, produzido e dirigido por Aloysio de Oliveira. O álbum lançado pela gravadora Elenco, de Aloysio de Oliveira, só sairia no ano seguinte, em 1964, quando Maysa já estava bem longe do Brasil. O layout da capa, assinada por César G. Villela, é uma das mais emblemáticas do selo Elenco, e também da discografia de Maysa. Trazendo apenas os olhos da cantora, em preto-e-branco e alto contraste. Na contracapa, um texto assinado por Aloysio de Oliveira dizia:

“Existem poucos artistas que possuem a terceira dimensão.
A terceira dimensão é uma força de personalidade que permite ao artista ‘hipnotizar’ o público.
Maysa tem essa força.
Por isso gravamos esse LP durante um dos seus shows, ao vivo, tal como aconteceu.
Um documentário musical desta fabulosa voz, desta fabulosa personalidade, desta fabulosa intérprete que é Maysa.”

Maysa e o marido Miguel Azanza nos bastidores das gravações da TV Tupi.

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