Eles agora são da família mineira
Reportagem de ANTONIO DE PÁDUA · Fotos de NÉLSON ARANHA
Poderia ser um script de novela de TV. Cantora e ator
famosos, com casamentos terminados, unem-se para buscar, fora da agitação das
grandes cidades, o clima propício à criação artística. Esta história está
acontecendo.
De repente, recém casados, Carlos Alberto e Maysa resolveram
sair em busca do tempo perdido, viajando Brasil afora. Pegaram o carro e deram
adeus às coisas que os prendiam ao Rio.
Chegaram a Minas pelo sul, e pouco a pouco foram subindo. Em
Belo Horizonte, resolveram parar uns dias para conhecer melhor a cidade.
Acabaram tomando a decisão: ficariam lá. Acharam o povo atraente, as condições
de vida na capital mineira “espetaculares”. Não resistiram. Maysa explica:
UM ROMPIMENTO COM O PASSADO
-
O mineiro é um povo fechado, todo mundo sabe disso. Mas quando
aceita um estranho, o torna parte da sua vida. Foi o que aconteceu conosco.
Pessoas maravilhosas querem nos ajudar. Sabe, é uma pena que não tenham
descoberto a velha Minas Gerais. E eu me sinto muito feliz por tê-la descoberto
a tempo.
Os novos planos dos dois não implicam em rompimento total
com o passado. Querem sair da rotina anterior, mas de forma racional, sem
precipitações.
Seus projetos incluem um programa de televisão numa emissora
de Belo Horizonte. Seria algo diferente do que se tem feito até agora. Músicas,
entrevistas e jornalismo, sobretudo jornalismo, tudo concebido e executado
pelos dois. Carlos Alberto no seu papel de ator, e Maysa no de cantora. Ela já
tem até um show marcado para o ano que vem, num teatro de Belo Horizonte.
-
Vai ser a primeira vez que vou cantar num teatro. Até agora,
pensava que meu público fosse gente que gosta de bebericar enquanto me ouve.
Aqui eu vi que é diferente. Carlos Alberto também não vai cortar de uma vez o
que andava fazendo. Um de nossos desejos é montar uma peça também. Com exceção
da gente, usaríamos só atores mineiros. Achamos que esta terra tem muita gente
boa inaproveitada. No meu show, por exemplo, todos os músicos serão mineiros,
inclusive o maestro.
Outro projeto do casal, para ser posto em execução em Belo
Horizonte, é a criação do Ponto de Encontro, uma espécie de feira aberta das
artes. Carlos Alberto fala dele com entusiasmo:
-
O Ponto de Encontro vai ser um lugar para a reunião de
artistas, intelectuais e todas as pessoas que se interessem por arte em geral.
Teremos lá discos importados, livros, quadros e outras coisas. Aqui ainda não
há uma casa deste tipo, e quero torna-la realidade tão logo possa para
aproveitar a potencialidade de Minas Gerais. Na minha opinião está se
processando em Belo Horizonte um dos maiores movimentos de arte do mundo,
sobretudo no campo da pintura. Em nenhum outro lugar consegui observar tanto
qualidade. O interesse da juventude mineira é uma coisa muito séria.
Além da razão artística, Carlos Alberto vê outro motivo para
estar amado pelas montanhas de Minas, estado que ele acha esquecido até pelos
próprios mineiros.
-
Eu sou um homem que busca a paz. Aqui em Minas eu a encontrei.
A vida inteira procurei a mim mesmo, o sentido de viver, uma resposta para a
minha existência, e parece que tudo está aqui. Esta terra é maravilhosa. Sou o
gaúcho mais mineiro que existe.
(Reportagem publicada originalmente na revista FATOS E FOTOS em 1972)
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