O tempo parece voar cada vez mais rápido, hoje são quarenta anos sem Maysa... Quanto tempo se passou. Dizem que o tempo é o remédio para cicatrizes profundas, como a morte, mas mesmo que o tempo seja capaz de estancar uma ferida na pele, a memória conserva uma cicatriz interior; estas são mais profundas. Como a ausência de Maysa.
[...] "Ao ler que não foi só cantora, compositora e atriz, mas também pintora, escultora e poeta, e sem entrar na avaliação de seu mérito em cada uma dessas formas de expressão, não tenho impressão de insegurança, superficialidade ou vaidade em busca de sucesso. Imagino antes que em cada tentativa de Maysa para se afirmar num setor de criação, havia a procura lancinante de forma de doação ao mundo – a forma definitiva. E essa doação seria de amor, no sentido mais perfeito da palavra, que é antes estético do que sentimental, ou seja, o ajuste completo das potencialidades do ser às potencialidades do mundo, em harmoniosa composição.
Por tudo isso, teria de sacrificar-se. Uma bela mulher talentosa que não se satisfaz com sua beleza nem com seu talento e procura alguma coisa mais do que isto, sem encontra-la, não por serem limitados os seus dons, mas porque a vida se encarrega de gerar situações críticas. Sobrevém o choque, o desejo subterrâneo de auto-imolação, que vai cortando as possibilidades da artista. O amor-criação não encontra correspondência adequada no grupo social, que deseja apenas aplaudir a cantora da dor-de-cotovelo e da solidão, sem perceber que atrás dessa música dolente há um enorme coração ligado a uma irrecusável ansiedade artística. E esse coração destrói-se aos poucos.
Seu fim, mesmo inesperado, é compreensível. Uma vida cheia de tensões, de insubmissão às regrinhas miúdas do jogo, teve o desfecho dramático que coroa sua tragicidade espiritual" [...]
Carlos Drummond de Andrade - Maysa na pintura e na lembrança, Folha de S. Paulo, 22/06/1978
[...] "Quando alguém me pergunta o que é amor eu sinceramente não sei o que responder. Está certo: amor é uma palavra muito bonita, mas não define coisa alguma. Hoje em dia, acho que o meu maior ato de amor é cantar. A pena é que cantar, para mim, ainda não se transformou – apesar de tudo – numa forma de expressão, no sentido realmente completo do termo. Pelo contrário, é apenas uma maneira de ganhar dinheiro. Mas acredito que chegará o dia em que conseguirei cantar como se fosse a coisa mais natural do mundo, assim como comer ou escovar os dentes; um ato absolutamente natural. Então, cantar vai deixar de ser apenas profissão. Porque quando me perguntam qual é a minha profissão, faço questão de dizer que minha profissão é ser."
Maysa, depoimento à revista Fatos & Fotos, 01/1976
Maysa
6 de junho de 1936 - ad infinitum
Hoje retornei ao seu blog porque sabia que você não deixaria essa data passar em branco. É verdade que Maysa já não está mais aqui. Na verdade, sua matéria não está. Já a sua essência vencerá o tempo e a tudo atravessará. Ela é o próprio tempo.
ResponderExcluirEla foi embora,mas a obra ficou.
ResponderExcluirSinto que depois de minissérie,ela não foi muito citada.
Passou os 80 anos dela,agora os 40 anos do falecimento e não soube que nenhum show ou especial para lembrar essas datas.
Infelizmente o Brasil é um País sem memória. Maysa foi importante na música brasileira não só por suas interpretações profundas mas por ser o elo que ligou a fase final do samba-canção tradicional com a bossa-nova de Menescal, Bôscoli, Tom e Vinicius. Saudade da amiga, prima e companheira de boemia no Rio e SP e de seu pai, Tio Cibide, o maior boêmio que já conheci! Abraços
ExcluirQue bom que vocês ainda tentam postar aqui e lembrar da nossa grande ídola!
ResponderExcluirMe emociono todas as vezes que leio algo sobre maysa.
ResponderExcluirMe emociono todas as vezes que leio algo sobre maysa.
ResponderExcluirMe emociono sempre,todas as vezes que leio sobre maysa dá um aperto no peito....
ResponderExcluirMe emociono sempre,todas as vezes que leio sobre maysa dá um aperto no peito....
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