6 de março de 2010

Especial: Maysa pelo mundo


Maysa pelo mundo 

Todos sabem que Maysa foi uma artista de intensa carreira internacional, talvez, a mais bem sucedida e complexa entre as cantoras brasileiras. Mas há muitos mitos e vamos tentar dissecar e contar essa história.

Já no final dos anos 50, Maysa fazia inúmeras turnês pela Argentina e pelo Uruguai, onde realizou sua primeira turnê internacional em Punta Del Este. Ainda em 1959 Maysa cantou pela primeira vez na Europa, chegando ao velho continente para uma temporada de descanso e logo fechou um contrato para apresentações no Cassino Estoril em Lisboa. Foi o início de um longo casamento entre Maysa e o público português. Logo ela seguiu para Paris em uma época marcada por excessos, lá ela se apresentou na boate La Lousianne e cantou o clássico Ne Me Quitte Pas pela primeira vez.

Mas foi somente a partir 1960 que Maysa girou por todo mundo com destinos seguros e rumos certos. Logo era a primeira cantora brasileira a se apresentar no Japão, em outra hora, Maysa já partia para conquistar a América. Em 1960 assinou contrato com a ABC (Associated Booking Corporation) para apresentações nos Estados Unidos durante três anos. Lá, ela realizou uma temporada no famoso Blue Angel, um marco da noite nova-iorquina. A temporada, terminada antes do previsto não foi de glórias, mas muito menos de fracassos. Lá ela assinou contrato com a poderosa Columbia Records onde gravou o primeiro LP totalmente estrangeiro: Maysa Sings Songs Before Dawn, gravado em Nova York, raríssimo e muito sofisticado. Infelizmente nunca chegou a ser lançado no Brasil. A Columbia investiu alto em Maysa, que era apresentada como a maior cantora brasileira, "The new star of Columbia Records" (A nova estrela da gravadora Columbia). Infelizmente os contratos não foram renovados por motivos que veremos a frente, mas muitas glórias viriam pelo caminho.

No final de 1962, a cantora fez uma nova turnê de sucesso no Cassino Estoril acompanhada do pianista Pedrinho Matar. Ainda em Portugal ela recebeu um convite para se apresentar na mítica casa de espetáculos parisiense Olympia. Foi apenas uma única apresentação, encerrada com aquela que foi um dos maiores clássicos de sua carreira: Ne Me Quitte Pas. Foi um sucesso estrondoso, foi aplaudida de pé por mais de 5 minutos e ainda voltou para repetir o número mais 3 vezes! Os jornais parisienses lhe renderam bons elogios, que fariam com que ela fosse convidada a gravar um disco na famosa gravadora Barclay. Como o último disco americano este também nunca foi lançado no Brasil.

Enquanto isso no Brasil, começavam a chegar as boas novas européias, disseram que Maysa conquistou Paris, mas ainda vieram muitas conquistas pelo caminho.

Em 1963, logo depois das apresentações em Portugal e na França, Maysa fez um grande sucesso na Boate Flórida, na época, a mais famosa casa de espetáculos de Madri. Neste mesmo ano a cantora assumiu de vez o relacionamento com o empresário espanhol Miguel Azanza, fixando residência na Espanha. No início de 1964, Maysa regressou ao Brasil para uma temporada histórica no Au Bon Gourmet, felizmente lembrada em um LP ao vivo.

O ano de 1966, foi muito agitado em sua vida. Em junho foi lançado seu famoso LP sem título comemorando 10 anos de carreira, produzido pela RCA Victor e pela Guelmay -a produtora independente de Maysa. Em setembro, ela voltou as telinhas com Maysa para ver e ouvir na TV Record de São Paulo -canal 7. Neste mesmo mês Maysa participou de um movimento que sacudiu a música brasileira nos anos 60: os festivais de música.

Ela participou do II festival da TV Record defendendo duas canções: Renascença e Amor-Paz. Em outubro Maysa também participou do I festival internacional da canção, o popular FIC defendendo a marcha-rancho Dia das Rosas de Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo. Neste FIC ela ganhou o prêmio de melhor intérprete da fase nacional, mas logo no fim do ano Maysa arrumou as malas novamente e partiu para Europa com outro destino. Antes deixou uma famosa e corajosa declaração á revista Manchete: "Eu preciso de Sol. Descobri que o Brasil não tem mais Sol. Parece que cassaram o Sol no Brasil."

De 1967 a 1969, o mundo estava a volta de Maysa e ela queria explorá-lo. Lisboa, Paris, Madri, Milão estavam aos seus pés, as platéias do velho mundo se encantavam com o magnetismo e o talento da cantora brasileira, Maysa queria ver gente, queria conhecer gente, ela estava disposta a conquistar a Europa. Na Itália, morou em Milão em uma ótima temporada em Viareggio, no belíssimo litoral da Toscana. Lá fez uma temporada na Boate Bussola e pela mesma época seria convidada pelo renomado Enio Morricone para gravar duas canções como trilha sonora do filme Ad Ogni Costo de Giuliano Montaldo, foram essas: Vai Via Malinconia e Dirgli Solo No -duas gravações inéditas lançadas em compacto simples pela GTA Records, mais uma vez nunca lançadas no Brasil. A temporada italiana resultou também em mais um compacto lançado pela GTA Records, a primeira canção é uma verdadeira pérola: Per Ricomenciare a versão italiana para o clássico norte-americano Can’t Take My Eyes Off You de Bob Gaudio e Bob Crewe que ganhou versões em todos os idiomas e intérpretes possíveis. A outra canção era Et Maitenant, uma outra versão italiana para a música francesa de Gilbert Bécoud. Ao contrário do último compacto este foi lançado no Brasil pela gravadora Copacabana em tiragem limitada. Ainda em Milão a cantora fez uma pequena participação no filme Il momento de la veritá, do aclamado diretor napolitano Francesco Rossi.

Para Maysa tudo aquilo era muito pouco afinal, no Brasil ela ainda desfrutava do status de maior cantora do país e por isso ela e Miguel voltariam a Madri no final de 67, lá as perspectivas eram melhores e logo Maysa gravou um novo compacto para a RCA Victor espanhola com as canções Pálida Ausência de Luís Eduardo Aute e Reza de Edu Lobo e Ruy Guerra, que também não foi lançado no Brasil. Maysa ainda voltou mais vezes a Itália para turnês e apresentações na televisão. Tais apresentações resultaram no relançamento do disco Barquinho, com o nome de Tempo di Samba. Todos estes discos ilustram bem a face internacional de Maysa. Ela realmente era uma "cantora do mundo". Fluente em 5 idiomas com uma pronúncia totalmente ausente de sotaque ela excursionava desde o francês com que já fazia fama no Brasil, até o quase desconhecido italiano do seu repertório. Tudo isso contribuia para uma melhor desenvoltura nos palcos internacionais, aliado a um repertório todo especial para tais turnês. Nunca no Brasil se viu outra cantora que navegava com tamanha desenvoltura desde o samba-canção e a bossa nova até o sofisticado Jazz americano e a chanson française como Maysa. Enquanto girava pelo mundo vendo e encantando gente, ela conhecia e vivia experiências únicas que amadureceram sua carreira como artista lhe dando um refinamento e uma elegância única no modo de cantar, tudo isso era para ela um grande aprendizado que lhe proporcionou momentos únicos na carreira profissional e na vida pessoal, 30 quilos mais magra, jovem e belíssima. Os olhos e a voz da cosmopolitana Maysa brilhavam em Madri, Paris ou até no longínquo Japão.

Ela logo se tornou íntima da elite artística de Madri, mas não chegou a obter um sucesso estrondoso na capital espanhola. Diante desta situação ela planejou uma enorme excursão pela América Latina a ser cumprida no segundo semestre de 1968, lá seus discos eram continuamente relançados e Maysa tinha um público fiel. Começou pela Venezuela, logo depois Peru, Argentina, México, Porto Rico e Colômbia com uma breve passagem pelo Brasil e por fim voltou a Lisboa. Maysa estava prestes a fazer a excursão de maior sucesso de sua vida, por todos os países que passou foi recebida como uma celebridade internacional arrebatando todas as platéias para as quais se apresentou, foi um sucesso extraordinário. No Peru logo com a chegada da cantora, a subsidiária local da RCA Victor logo mandou prensar uma grande coletânea incluindo sucessos e gravações pouco conhecidas como Berimbau. Os peruanos também tiveram a sorte de receber uma edição do mítico LP norte-americano Sings Songs Before Dawn.

A apresentação de Maysa na TV Panamericana -o canal 5 de Lima-, foi anunciada como um acontecimento histórico celebrado em todos os jornais da capital. Maysa repetiu o sucesso e o êxito da turnê peruana por todos os países que passou. Já no fim da turnê em Lisboa ela recebeu um convite inusitado para viver uma experiência inédita em sua carreira, cantar na África acompanhada do Thilo’s Combo durante um mês de janeiro de 1969 até fevereiro. Maysa enfrentou uma série de shows e apresentações em boates, clubes e teatros de Angola. Ela não tinha a menor idéia de como era o público angolano e como este a receberia, mas boas novas estariam por vir. Maysa foi celebrada em todos os grandes jornais de Luanda, enfrentou platéias enormes em teatros e até cinemas populares da periferia da capital, sendo ovacionada em todas as apresentações, o público de Angola se rendeu aos pés da cantora. Foi uma das maiores experiências da carreira de Maysa. Na hora da volta, os jornais não davam adeus. mas sim, até logo. Infelizmente não haveria volta, Maysa jamais voltaria á África.

Ao regressar definitivamente ao Brasil em pleno carnaval de 1969 voltava a ser tratada como uma DIVA pela mídia. Seria um ano agitado, no auge da carreira, Maysa retornou a TV com Maysa Especial pela TV Tupi carioca, lançou um novo LP pela gravadora Copacabana, fez os shows Brasileiro, Profissão: Esperança no Canecão e Urso Branco em temporada antológica, foi homenageada pela direção do IV FIC e foi jurada do V Festival da TV Record. Maysa estava no auge da carreira. No começo de 1970 fez uma turnê pelo México altamente comentada pela mídia local, fazendo apresentações na TV e lotando boates da capital mexicana. Eles foram os primeiros a contemplar os célebres olhos verdes de Maysa com a transmissão a cores, dois anos adiantadas a frente do Brasil. Ela ainda fez uma última turnê na Argentina em 1971. Infelizmente foi sua última turnê internacional, encerrando assim uma carreira de sucesso por todo mundo.

Um dos maiores problemas apontados para o engate de uma carreira sólida na Europa e nos EUA era o gênio imprevisível e temperamento forte de Maysa. Oren Wade contou que a cantora chegou a destruir o cenário do programa que se apresentava na TV espanhola ao vivo, por que não achou nada adequado ao seu estilo o cenário tropical a lá Carmen Miranda. Na temporada americana em Nova York, Maysa chegou a dar vários canos em Max Gordon -dono do Blue Angel- quando sumia sem avisar na noite. Se durante sua apresentação o público conversava ou falava em voz alta, ela ficava revoltada ameaçando parar o show ou até tacar o microfone nos falastrões como fazia no Brasil. O problema é que o público norte-americano jamais aceitaria ser repreendido por uma cantora de origem latina em início de carreira nos EUA, sendo assim ficava impossível Maysa ser agenciada por uma gravadora do porte da Columbia Records, o mesmo aconteceu na Europa. Caso não fossem essas "incompatibilidades de gênero", ela com certeza teria alcançado uma carreira muito mais sólida no exterior. Mas seu êxito pelo mundo é inegável, principalmente por toda América Latina e Portugal. Maysa ainda hoje é conhecida por muitos países que passou, prova disso é que muitos de seus LPs foram relançados em CD até no Japão, país em que ela curiosamente fez apenas uma apresentação! Este é o brilho eterno da estrela. Viva MAYSA!


Compacto Italiano gravado durante a temporada de Maysa em Milão - ano de 1967 -, as canções foram tema do filme Ad Ogni Costo.

Maysa em Nova York: a temporada americana resultou no mítico LP Sings Songs Before Dawn.

Maysa em Madri já se preparando para a turnê na América Latina no fim de 1968.



Maysa se apresenta na TV Mexicana em 1970 em uma de suas últimas turnês internacionais.




Capa do LP Sings Songs Before Dawn, gravado em Nova York no ano de 1961. O LP jamais foi lançado no Brasil.


Segundo compacto italiano de 1968: trazia pérolas como a versão italiana do clássico norte-americano "Can’t Take My Eyes Off You".


Maysa na Angola: uma experiência única em toda sua carreira.


Compacto duplo francês de 1963: Maysa cantava em francês e gravava o clássico "Chega de Saudade", jamais registrado no Brasil.

Capa do compacto duplo português de 1968, lançado pela RCA Victor lusitana, para Maysa o público português era o mais carinhoso.


3 comentários:

  1. EXPLÊNDIDA, MARAVILHOSA!!
    Seja aqui ou no Japão Maysa sempre será sinônimo de sucesso! Viva MAYSA.

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  2. O blog está cada vez melhor. Por ele é possível conhecer melhor a trajetória de Maysa e isso sempre é importante. Só posso elogiar esse trabalho tão bem feito.
    VIVA MAYSA!

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  3. Muito Obrigado Cris!!
    Seu apoio e incentivo é sempre carinhoso e muito legal!! Obrigado (:

    Equipe blog oficial Maysa.

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