31 de agosto de 2011

O álbum de Maysa: Casamento


Há 56 anos, no dia 24 de janeiro de 1955, as 17:30 da tarde, era realizada a cerimônia de casamento do noivado mais badalado dos últimos tempos. Sob o altar da suntuosa – e recém inaugurada – Catedral da Sé de São Paulo, Maysa Monjardim e André Matarazzo receberam a benção do Papa Pio XII, que mandara uma mensagem aos noivos, diretamente de Roma, lida pelo Cardeal dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, que presidiu a cerimônia de casamento.
O casamento da década, como fora descrito pelas colunas sociais por dias seguidos, contou com a presença dos mais pomposos membros da alta sociedade quatroncentona paulistana, como manda o figurino – já que não era todos os dias que se casava um herdeiro da tão nobre família Matarazzo. Maysa estava deslumbrante, a adolescente de apenas 17 anos, reluziu num belíssimo vestido de cetim italiano branco, de mangas longas e gola alta, bordado com finíssimas pérolas e lantejoulas. A beleza e juventude da noiva eram decoradas por um belo bouquet de orquídeas (a flor preferida de Maysa), que dialogavam em harmonia com a decoração da Catedral – ornamentada de delicadas angélicas, permeadas por alvos antúrios.
A chegada da noiva ao templo, num legítimo Rolls-Royce, causou furor entre os curiosos, que se amontoavam ao redor da Catedral para ver a chegada de Maysa. Talvez, estivessem achando que aquilo era um verdadeiro conto de fadas, e a primeira vista, de fato era.
A festa de casamento, realizou-se no luxuoso Buffet Copacabana, onde os convidados puderam se esbaldar no finíssimo menu composto do mais legítimo champagne, uísque, Martini, coquetéis de frutas, caviar, mexilhões, camarões a dorê, pasteizinhos chilenos, churrasquinhos de filé à l’oriental, salpicão de galinha, presunto tender made à Virginia, peru à brasileira, docinhos vienenses, damascos e outras coqueluches. Para ressaltar o luxo do enlace, cada convidado foi presenteado com uma finíssima caneta Parker 51, e as convidadas com uma jóia personalizada. Enquanto a festa correu solta pelas altas horas da noite, os recém-casados preparavam-se para embarcar para Buenos Aires, de onde pegariam o vôo que os levaria à Europa, onde completariam a lua-de-mel. No velho mundo, o casal pode aproveitar o romantismo do inverno europeu na Espanha, França, Itália, Portugal e Suíça.
As imagens e fotografias não negam, Maysa estava muito feliz. Os sempre raros sorrisos de Maysa, naquele dia foram distribuídos aos montes. Mas é claro, seu semblante escondia uma ansiedade e agonia iminente, como se já imaginasse tudo que viria a seguir. Como se quisesse mascarar uma imensa alegria que estava sentindo.









22 de agosto de 2011

Especial: Maysa no embalo das telas



Pode não parecer, mas, faz muito tempo que Maysa embala as mais variadas trilhas sonoras ao redor do mundo. E não estou só falando dos corações apaixonados que dançam sob sua canção até hoje, não. Seja na tela grande, ou no conforto da poltrona, faz tempo de vez em quando podemos ter a coqueluche de sermos envoltos pela voz de Maysa no cinema ou na televisão.
Destaquei algumas trilhas famosas da TV e do cinema nas quais Maysa já brilhou, para contar um pouquinho mais sobre este passeio. Divirtam-se!

A aventura de Maysa nas trilhas sonoras, começa exatamente no ano de 1963 – e em grande estilo. A cantora passava uma temporada na capital francesa, quando Michel Magne, diretor musical do filme Le Repos du Guerrier (no Brasil: “O Repouso do Guerreiro”), pediu-lhe para que gravasse uma canção para a trilha sonora do longa metragem. Maysa gravou a canção “100.000 Chansons” (Cent Mille Chansons)  de Eddy Marnay e Michel Magne, como tema do filme do premiado cineasta Roger Vadim, baseado no romance de Christiane Rochefort. Que tinha ninguém mais, ninguém menos, como protagonista, que a deslumbrante Brigitte Bardot – no auge da beleza e do sucesso. Na trama, Maysa embala as desventuras de Geneviève Le Theil (Bardot), uma bela mulher que salva do suicídio o desequilibrado Renaud Sart (Robert Rossein). Durante o desenrolar do filme, Geneviève se apaixona por Renaud, que se mostra cada vez mais doente, submetendo-a a todo tipo de humilhação e infidelidade, em nome de uma estranha paixão. É um dos mais belos e prestigiados filmes da carreira de Bardot, e dos mais importantes da nouvelle vague francesa.
Em 1968, Maysa daria novamente o ar de sua graça em um filme europeu. Agora, o longa-metragem em questão era Ad Ogni Costo (no Brasil: “A Todo Custo”), um rififi de Giuliano Montaldo”, com cenas gravadas no Rio de Janeiro. A trama do filme girava em torno de um grande assalto e contava com estrelas no elenco, como Janet Leigh, Hobert Hoffman e Klaus Kinski. A trilha-sonora ficara a cargo do prestigiado Ennio Morricone (criador de trilhas sonoras de sucesso, como a do belíssimo Cinema Paradiso), que convidou Maysa – que estava em temporada na Itália – para gravar duas canções para a película de Montaldo. Maysa gravou “Dirgli Solo No” e “Vai Via Malinconia”, para embalar as aventuras do filme de Giuliano Montaldo.
Em 1976, pela primeira vez, Maysa experimentou o que é o furor de ver uma canção sua, obter o sucesso na trilha sonora de uma telenovela. E esta novela foi o enorme sucesso Estúpido Cupido, de Mário Prata, na Rede Globo. Lançada em 1976, um ano antes da morte da cantora, a novela de grande sucesso também se tornou memorável por sua trilha sonora, que remetia o clima nostálgico da trama da novela. Na trama ambientada nos anos 60, jovens viviam os amores, as expectativas e as ansiedades da juventude. O grande sucesso de Maysa – “Meu Mundo Caiu” – ecoava novamente no país, como tema do casal Maria Teresa e João, interpretados pelos atores Françoise Forton e Ricardo Blat, quase 20 anos depois do seu lançamento. Foi um grande sucesso, e primeiro de Maysa em uma trilha-sonora de telenovela.
Em 1986, viria outro grande sucesso de Maysa numa trilha-sonora de televisão, agora, desta vez, em uma minissérie. Que também conservaria o clima nostálgico e alcançaria bastante sucesso. Em Anos Dourados, de Gilberto Braga, que abordava a vida da juventude carioca, no bairro da Tijuca, em meio ao esplendor dos anos 50. A música “Franqueza” de Denis Brean e Oswaldo Guilherme, gravada por Maysa com muito sucesso em 1957, serviu de pano de fundo para o romance de Glória (Betty Faria) e Dornelles (José de Abreu). Ela, era uma mãe desquitada, ele, um major da aeronáutica que vivia um casamento fracassado. Ao longo da trama, desenrola-se o enlace das dificuldades do romance entre os dois, tudo isso ao som daquele desbragado samba-canção na voz de Maysa. A minissérie, tornou-se uma, das de maior sucesso da história da Rede Globo.
Em 1987, o novo filme do prestigiado diretor espanhol Pedro Almodóvar, traria, além da polêmica do filme, uma grande surpresa para todos. No longa metragem La Ley Del Deseo (no Brasil: “A Lei do Desejo”), o cineasta incluiu uma de suas canções preferidas na trilha-sonora. Tratava-se da canção francesa “Ne Me Quitte Pas”, interpretada por Maysa. A eterna canção de Jacques Brel, interpretada com sofreguidão por Maysa, parece traduzir toda a tragédia da trama de Almodóvar, que se tornou premiada, mas não pode escapar da polêmica, ao abordar temas fortes como a homossexualidade e o incesto. Tudo isto, entre personagens altamente dramáticos, que giram entre a tristeza e a comédia, num maravilhoso filme.
Em 2001, a música de Maysa voltaria a causar um furor, que talvez nunca houvesse experimentado. Novamente, a música era a histórica “Ne Me Quitte Pas”, escolhida como tema de abertura da minissérie Presença de Anita, de Manoel Carlos, baseada no livro de autoria de Mário Donato. A polemica minissérie que esbarrava em cenas fortes de sexo e nudez, abordava paixões arrebatadoras, amores impossíveis e casamentos fracassados. Tudo girava em torno da linda jovem Anita (Mel Lisboa), uma garota misteriosa e envolvente, com ares de Lolita. Que engata um triângulo amoroso com Nando (José Mayer), um escritor preso a um casamento sem amor, e Zezinho (Leonardo Miggiorin), um jovem que acabara de despertar para a vida e descobrira seu primeiro amor nos braços de Anita. Tudo isso, embalado pela voz mágica de Maysa interpretando o seu inesquecível “Ne Me Quitte Pas”. Com o rebuliço causado pela minissérie no país, a cantora – que andava um pouco esquecida – retornou a tona em grande estilo.
Como se vê, seja na tela grande ou na tela pequena, Maysa é sempre Maysa! Sinônimo de boa música e sucesso.



Na cena no filme de Roger Vadim, toca a versão instrumental de "100.000 Chansons" cantada por Maysa.


No filme italiano de 1967, Maysa interpretava duas canções do prestigiado maestro Ennio Morricone.


No polêmico filme do cineasta Pedro Almodóvar a canção "Ne Me Quitte Pas" por Maysa dava o tom dramático da história.


A canção "Ne Me Quitte Pas", interpretada por Maysa, no tema de abertura de Presença de Anita, causou muito sucesso e um furor inigualável.

10 de agosto de 2011

Poema: "Canto Vagabundo"


Poema 


"Canto Vagabundo"

Ouve, vai te ouvir na vida
sem recados, sem partidas
deixa o peito se entregar.

Tantas verdades escondidas
em desculpas tão perdidas
que te escondeu o coração.

Se tu precisas dos pedaços
que ficaram nos caminhos
que tu queres apagar,
se quer ser arrependida,
sem ter por quê,
pára de uma vez com a tua busca,
se o que tu foste te assusta
vê se podes te esquecer.

Pinta teu negro de branco,
faz de ti um adeus
ou pede ao poço teu fundo.

Ouve o teu coração, ouve!
Que a dor é preciso
para a paz que te agoniza.

Maysa