26 de abril de 2010

Coluna: Música da Semana


"Nós e o Mar"


LP: Canção do amor mais triste (1962)
Autoria: Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal

Análise: 
‘Lá se vai mais um dia assim e a vontade que não tenha fim esse Sol’
Os versos iluminados de "Nós e o Mar" não deixavam dúvidas aos ouvintes: Aquela música era um autêntico número de bossa nova, um dos melhores já interpretados por Maysa. Um dos maiores sucessos da grande dupla formada por Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal logo se tornaria um dos maiores clássicos da bossa nova. Maysa não poderia deixar de dar o seu tom personalíssimo aos versos ensolarados da canção.

Mas ainda há quem possa se enganar diante da música, talvez pelo título sugestivo do álbum do qual ela faz parte: Canção do amor mais triste.  À despeito do título, não é mesmo um disco de fossa, e é aí que entram os famosos equívocos que sempre acompanharam Maysa. Realmente é possível se enganar diante de um disco com título tão sugestivo e até o selo pode cristalizar essa impressão: Maysa voltava à RGE em um trabalho freelancer, depois de fumado o cachimbo da paz junto à gravadora. Mas nem isso basta para que se defina erroneamente o álbum. Um LP que carrega em si a ensolarada "Nós e o Mar", a ginga de "Água de Beber", o balanço de "Louca de Saudade" e a leveza de "Ah! Se eu pudesse", pode ser tudo, menos um disco de fossa.

E é essa mesmo ginga e o intimismo de Maysa, que nos permite sentir as ondas crescendo e batendo e a brisa suave desse mar azul à nossa frente. É também toda essa suavidade entre sorrisos que nos faz contemplar esse céu azul tão lindo com os pés na areia dessa praia infinita.

Entre o balanço das ondas crescendo, ela nos conduz à poesia de "Nós e o Mar", como se velejasse por todo esse mar azul ao lado do barquinho dos amigos Bôscoli e Menescal. Mas assim, como o barquinho deles vai sumindo nesse horizonte azul, nossa praia tão linda também desaparece na imensidão da noite e a Lua vem brilhar no céu.
E a nós, só nos restam dizer muito obrigado à todos eles por tanta poesia.

24 de abril de 2010

Especial: Di Mônaco apresenta Maysa


Di Mônaco apresenta Maysa


Em agosto de 1972, Maysa estrearia na boate Di Mônaco em São Paulo uma de suas mais polêmicas temporadas. Quando o show estreou no dia 15 de agosto foi algo totalmente surpreendente, Maysa entrava em cena mais ousada do que nunca, deixando a platéia boquiaberta. Belíssima, ela aparecia com plataformas de pasmem  mais de 20 centímetros; e um vestido rosa-choque com uma enorme fenda na lateral. Sensualíssima e provocante ela se sentava sobre o piano e cruzava as pernas deixando a plateia acuada com a visão de suas pernas inteiramente nuas. Com o inseparável copo de uísque à mão, recitava poemas e citava trechos marcantes de entrevistas concedidas à imprensa ao longo da carreira, além de lançar vários impropérios ao microfone, divertindo e assustando os espectadores ao mesmo tempo.

Debochada, fazia uma imitação de Elis Regina cantando "Arrastão" e rodopiando os braços como a própria Elis fizera no histórico festival da TV Excelsior de 1965, e ainda ameaçava cantar "Detalhes", o hit do momento da dupla Roberto e Erasmo Carlos, mas após os primeiros versos da canção dava sinal ao maestro Guto Graça Mello parando de repente e gritando ao microfone: ‘Chega, não aguento mais essa música.’

Maysa parecia querer chocar cada vez mais o público. Para a segunda parte do espetáculo ela voltava ao palco com um vestido preto, o detalhe principal era que ainda nos camarins ela achara que a roupa estava lhe apertando nos quadris e simplesmente rasgou o vestido nas laterais improvisando um modelo semelhante ao anterior.

O repertório era inédito e surpreendente: Maysa interpretava músicas de Milton Nascimento ("Nada Será Como Antes"), Chico Buarque ("Atrás da Porta") e Caetano Veloso ("A Tua Presença Morena"), canções que ela jamais registraria em disco e somente a plateia da Di Mônaco teria a oportunidade única de ouvir. Na já famosa interpretação para "Ne Me Quitte Pas", Maysa terminava de joelhos no palco como num apelo sem resposta. A plateia em êxtase tinha que se recompor para depois finalmente aplaudi-la.

Pouco tempo antes da estréia, a temporada foi adiada várias vezes, Maysa chegara a comunicar aos jornais que o futuro namorado Carlos Alberto havia saído da produção do show, em seu lugar entraria André Valli; a direção artística ficara a cargo de Raul Cortez e a musical sob a batuta do maestro Guto Graça Mello. Contrariando o que dissera aos jornais, Carlos Alberto continuava na equipe após contornado o desentendimento. No show, ele dividia o palco com Maysa, declamando poemas e textos especialmente escritos para o espetáculo, além disso era ele quem soprava as letras das músicas e poemas no ponto eletrônico, pois Maysa estava encontrando cada vez mais dificuldade em decorar os números, diria Carlos Alberto ao biógrafo de Maysa, Lira Neto. Porém o aparelhinho pré-histórico resolvia parar de funcionar justo nos momentos de maior necessidade e então ocorriam pequenas gafes engraçadas durante o show; se o ponto enguiçasse justamente na hora em que ela estivesse cantando, Maysa parava e dizia ao microfone: ‘Carlos Alberto? Carlos Alberto? Fala mais alto que eu não estou ouvindo porra nenhuma.’

Com grandes doses de ousadia e polêmica, era de se esperar que a temporada na Di Mônaco se tornasse um grande sucesso, poucas vezes o público pôde ver Maysa de forma tão provocante e ácida. Porém, a badalada temporada paulistana foi interrompida três dias antes do término, em 12 de setembro, por motivos nebulosos, noticiaram-se várias suposições, nenhuma confirmada. A verdade é que Maysa foi internada mais uma vez para tratamento de desintoxicação alcoólica, ao sair da clínica, em meados de outubro, assumiu de vez o relacionamento com o ator Carlos Alberto.

(Consulta bibliográfica: Maysa – Só Numa Multidão de Amores, de Lira Neto)


22 de abril de 2010

Coluna: Disco da semana


Maysa



Ano: 1966
Gravadora: RCA Victor
Faixas: 1- Fantasia de Trombones – Demais/Meu Mundo Caiu/Preciso Aprender a Ser Só
              • (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira)
               • (Maysa)
               • (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle)
            2- Canto Livre (Bené Nunes/Dulce Nunes)
            3- Just in Time (Styne/Creem/Comden)
            4- Canto de Ossanha (Baden Powell/Vinicius de Moraes)
            5- As Mesmas Histórias (Edu Lobo/Vinicius de Moraes)
            6- Ne Me Quitte Pas (Jacques Brel)
            7- Tristeza (Haroldo Lobo/Niltinho)
            8- Fantasia de Cellos – Primavera/Valsa de Eurídice/Canção do Amanhecer
                • (Carlos Lyra/Vinicius de Moraes)
                • (Vinicius de Moraes)
                • (Edu Lobo / Vinicius de Moraes)
            9- Canção Sem Título (Maysa)
           10- Morrer de Amor (Oscar Castro Neves/Luvercy Fiorini)

Análise:
Lançado em junho de 1966, o disco que comemorava os 10 anos de carreira de Maysa nascia de um projeto muito ousado. O álbum era fruto de um projeto da produtora artística independente de Maysa, a Guelmay. Era um investimento financeiro alto e extremamente arriscado; dezenas de músicos da Orquestra Filarmônica de São Paulo e quatro maestros (Erlon Chaves, Oscar Castro Neves, Lindolpho Gaya e Chiquinho de Moraes) foram contratados pela própria Maysa. No final a Guelmay conseguiu negociar o disco com a poderosa RCA Victor, porém, o destino da produtora já estava fadado ao fracasso.

O LP em si é um dos mais grandiosos trabalhos de toda carreira da cantora. Ela ressurge esplendorosa, impecável, a voz parece estar no melhor ponto, inigualável. A expressiva foto da capa fora tirada ainda em Madri e fazia parte do material de divulgação das turnês pela Europa, a contra-capa era assinada por Roberto Corte-Real como no primeiro disco dez anos antes.

O LP é aberto pela glamourosa Fantasia de Trombones, um pot-pourri monumental repaginado pelo toque jazzístico do maestro Erlon Chaves, que também surpreendia todos em "Just in Time"um número legítimo de jazz interpretado brilhantemente por Maysa. 
No "Canto de Ossanha", um dos afro-sambas de Vinicius de Moraes e Baden Powell, Maysa cantava com imponência e autoridade. O próximo destaque era a  "Ne Me Quitte Pas", em sua mais famosa versão, àquela altura a canção já era estava totalmente associada à figura de Maysa. "Tristeza", um número autêntico do samba foi gravado ao lado da bateria da escola de samba do Salgueiro, incrivelmente, a música tem em Maysa uma de suas melhores versões.

Depois de todos esses números arrebatadores ainda está por vir a melhor faixa do álbum, que sem sombra de dúvidas é a fantástica Fantasia de Cellos. Me faltam adjetivos para classificar esse pot-pourri magnífico que transmite as mais sublimes emoções; é talvez uma das mais belas canções gravadas por Maysa. Grandioso, terno, singular e emocionante, as músicas se casam perfeitamente formando um conjunto sublime.

Por fim, há a não menos emocionante "Morrer de Amor", uma canção singular em toda discografia de Maysa, sobre ela, não tenho mais o que falar, me calo diante de tanto sentimento. Também há que se destacar a autobiográfica "Canto Livre" de Bené e Dulce Nunes, e a autêntica "As Mesmas Histórias", clássico da dupla Edu Lobo e Vinicius de Moraes; uma música de letra simples e singela, mas que imprime muita verdade pois ‘Só é triste quem não tem por quem chorar.’ A compositora Maysa só aparece na "Canção Sem Título", com ela Maysa quebrava um jejum de quase 6 anos sem músicas inéditas em disco.
É um LP irretocável em todas as faixas, supreendente e muitíssimo bem produzido. Nele, Maysa se renova como intérprete mostrando novas nuances e uma grande bagagem de 10 anos de carreira. É a nossa Maysa de sempre, a Maysa de todos nós.


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19 de abril de 2010

Coluna: Música da semana


"A Noite do Meu Bem"


Autoria: Dolores Duran
LP: Sings Songs Before Dawn (1961)

Análise:
‘Hoje eu quero a rosa mais linda que houver e a primeira estrela que vier para iluminar a noite do meu bem’. Havia ternura, havia amor, havia beleza no coração da saudosa Dolores Duran ao compor "A Noite do Meu Bem", mas como falar de amor em se tratando da grande Dolores? Uma mulher que viveu e morreu do coração. É só isso, não há definição, Dolores era apenas um coração. Frágil, sensível e apaixonado. 

Para Maysa, restaria o desejo eterno de homenagear a querida Dolores e ela jamais deixaria de registrar isso em sua discografia. "A Noite do Meu Bem" é uma gravação inédita do mítico LP norte-americano Sings Songs Before Dawn, que nunca chegou a ser lançado oficialmente no Brasil. Gravado em Nova Iorque, em 1961; nele Maysa mostrava versatilidade ao interpretar clássicos em quatro idiomas, curiosamente "A Noite do Meu Bem" é a única música em português do álbum, o que deixa bem claro a vontade de Maysa em homenagear a saudosa amiga.

Sua letra representa tudo aquilo que a sua autora sentia - amor, ternura, paz, beleza e luz. Tudo para enfeitar a noite do seu amor. A rosa mais linda, a estrela, flores desabrochando. É o clamor do coração, é o coração que clama pelo bem do seu amor, clama por paz e luz.
Maysa é também todo um coração, recheado de luz e de amor. Ah Maysa, todos nós clamamos por você! ‘Eu já nem sei se terei no olhar toda ternura que tenho pra dar.’

12 de abril de 2010

Coluna: Música da semana


Título: Suas Mãos

LP: Convite Para Ouvir Maysa nº 3 (1958)


Ando Só Numa Multidão de Amores (1970)


Autoria: Antônio Maria/Pernambuco

Análise:
Suas Mãos é um dos maiores clássicos do samba-canção obra da grande dupla Antônio Maria e Pernambuco, autores de grandes sucessos como O Amor e a Rosa e Canção dos Seus Olhos. Maysa conseguiu captar de imediato a emoção dos versos angustiados e passionais da canção. Suas Mãos é uma das muitas letras que ela eternizou como intérprete, logo se tornou um clássico do seu repertório, sempre associada a ela, Maysa dava o tom perfeito da interpretação intensa e dramática que a consagraria como uma deusa da canção intimista. Sua primeira gravação é de 1958, do álbum Convite Para Ouvir Maysa nº 3. Um disco polêmico e pouco celebrado, porém recheado de grandes sucessos como Conselho, Eu Não Existo Sem Você e a própria Suas Mãos, facilmente alçada á categoria de obra-prima em uma interpretação intensa, passional e muito emocionante, acompanhada de um belíssimo arranjo de piano e violinos. Os versos da letra que parecem clamar por um amor perdido nos remetem a antigas paixões e amores do passado, como se fosse um lamento por um amor que já não está ao nosso lado. A música ganharia uma linda regravação com roupagem suave e moderna no emblemático LP Ando Só Numa Multidão de Amores de 1970. Viva Maysa!

8 de abril de 2010

Coluna: Disco da semana


Convite Para Ouvir Maysa Nº 4


Gravadora: RGE
Ano: 1959
Faixas:
1- Você (Maysa / Simonetti)
2- Pelos Caminhos da Vida (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
3- Noite de Paz (Dolores Duran)
4- Exaltação ao Amor (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
5- Tema da Meia-Noite (Nazareno de Brito)
6- Negro Malandro de Morro (Maysa)
7- Amargura (Radamés Gnattali)
8- Deserto de Nós Dois (Maysa / Simonetti)
9- Toda Tua (Maysa)
10- Outra Vez (Tom Jobim)
11- Malatia (Armando Romeo)
12- Dois Amigos (Ary Barroso)

Análise:
Convite Para Ouvir Nº 4 é talvez um dos álbums mais grandiosos e bem produzidos de toda a discografia da cantora. Lançado no início de 1959, na capa Maysa aparecia dedilhando as cordas de um violão, loira, com os lábios vermelhos e um semblante triste, porém logo uma aliança na mão esquerda denunciava que era uma foto antiga, ainda dos tempos de casada.  No LP, ela assinava quatro canções: Toda Tua, Negro Malandro de Morro, Você e Deserto de Nós Dois, estas duas últimas em parceria com o maestro Enrico Simonetti, que também assinava os arranjos e regência do LP. Àquela altura, Maysa já figurava no seleto hall das maiores compositoras da MPB, mas havia quem censurasse o fato dela estar passando a compor somente em parceria. Novamente ela incluía canções da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes, então, uma das duplas mais requisitadas do Brasil; eram elas a dramática Pelos Caminhos da Vida e a teatral Exaltação ao Amor, em interpretações intensas e grandiosas. De Dolores Duran, Maysa incluíra no disco a belíssima Noite de Paz. Também tinham destaque a  sentimental Tema da Meia-Noite, de Nazareno de Brito; a inédita excursão da Rainha da Fossa ao mundo do samba ligeiro em Negro Malandro de Morro, (música de sua própria autoria gravada originalmente em 1957), e a bela Deserto de Nós Dois. O clima melancólico do disco era conduzido por outro clássico: Amargura de Alberto Ribeiro e Radamés Gnattali, provavelmente em sua melhor versão, e Dois Amigos, de Ary Barroso. Por fim Maysa fazia uma releitura do beguine Malatia, música do napolitano Armando Romeo. Era sem dúvidas um disco grandioso e arrebatador, onde interpretações intensas e explosivas reafirmaram Maysa como a máxima do gênero romântico.

5 de abril de 2010

Coluna: Música da semana


Título: "Não Sei" (No Other Love)

LP: Maysa (1974)



Autoria: Paul Weston / Bob Russel / Vrs. Aloysio de Oliveira

Análise:
"Não Sei" (No Other Love) é uma popular canção norte americana, de 1950. A letra é de autoria de Bob Russel e a música creditada à Paul Weston, mas é realmente derivada da melodia clássica "Tristesse" de Frédéric Chopin. A versão para o português é de Aloysio de Oliveira.

É impossível não se encantar com a sutileza das harpas de "Não Se"i, é de uma beleza incrível, que se une perfeitamente à voz madura e grave de Maysa. A música adquire um caráter intimista diante do questionamento ''Do que somos, aonde estamos e para onde vamos''. É um questionamento existencial, que se entrelaça perfeitamente ao espírito livre e independente de uma Maysa madura, sem máscaras ou fantasias. É uma peça essencial dentro do conjunto de um álbum de serenidade e paz inigualáveis, são quase 20 anos de carreira somados na balança da vida e pelos tantos caminhos percorridos.

"Não Sei" é a própria Maysa, aos olhos de quem a vê, de quem vê a verdadeira Maysa. Diante de tanta verdade gritando aos nossos ouvidos, continuamos nos perguntando ''O que somos, aonde estamos e para onde vamos'' diante disto, destes gritos sem resposta, só nos basta dizer: Não Sei.

A canção foi interpretada por Maysa em um especial antológico do programa Fantástico da TV Globo, em 1975, numa época em que a televisão brasileira produzia verdadeiras preciosidades musicais de alta qualidade com os maiores nomes da MPB. São materiais que devem ser visualizados pelas próximas gerações.




3 de abril de 2010

Registro Histórico: Maysa no Olympia de Paris



Maysa no Olympia de Paris



A artistas que tem a sorte ou o talento de ressurgirem do nada, Maysa era uma pessoa desse tipo. Como no tema da fênix grega, que ressurge das próprias cinzas, uma gloriosa Maysa reaparecia surpreendente depois de uma longa ausência.

Ao sair do Brasil no fim de 1962, em uma situação delicada, atacada pela mídia e magoada com a imprensa, só se soube dela novamente meses depois, quando foi anunciado que estava fazendo uma temporada de sucesso no Cassino Estoril de Lisboa, acompanhada do pianista Pedrinho Mattar. Indo a Paris {a passeio, logo lhe organizaram um recital no Olympia, promovido pela Rádio Europa Nº 1, em benefício da Associação Soutien Confraternel dês Journalistes. Seria para este episódio histórico que a revista Fatos & Fotos abrira matéria de quatro páginas em fevereiro de 1963 para anunciar a conquista meteórica de Paris por Maysa, tratada como uma diva internacional ela ressurgia das cinzas como a fênix grega.

Não se tratava apenas de uma apresentação qualquer, realmente era um feito histórico para uma cantora brasileira se apresentar na mítica casa de espetáculos parisiense, um dos maiores Music-Hall do mundo, considerado o templo máximo da canção francesa e palco de estrelas gigantes como Edith Piaf, Dalida, Gilbert Bécoud, Charles Aznavour e Johnny Halliday.

Em Paris, ela enfrentou 15 graus abaixo de zero no rigoroso inverno europeu. Seria apenas uma única apresentação, uma única noite que ficaria registrada para sempre na carreira da cantora. Naquela noite ela enfrentou uma casa lotada por um público tedioso de corsos que só estavam ali para a apresentação do também corso, cantor Tino Rossi no qual o recital de Maysa foi encaixado. Ela enfrentou burocráticos aplausos da platéia durante seus nove números quando no final preparou uma surpresa que consagraria sua apresentação. 

Acompanhada da orquestra do cantor e compositor Jacques Brel, que havia feito questão de lhe emprestar os seus músicos ao observar a dificuldade de Maysa com os músicos do Olympia que a acompanhariam nos números de bossa nova e samba, ela reservou para o fim do recital um número de "Ne Me Quitte Pas", do mesmo Jacques Brel. Foi um sucesso estrondoso, aplaudida de pé por mais de cinco minutos, Maysa voltaria ao palco do Olympia mais três vezes para repetir a canção e retribuir os aplausos do público.

Bastou apenas esse feito grandioso, para que nos próximos dias já circulassem pelos jornais parisienses as mais diversas notícias sobre o recital e a carreira de Maysa. A fértil imprensa francesa logo fez divulgar notas curiosas como a do vespertino Paris-Presse: ‘A fortuna do seu marido, Sr. Matarazzo, segundo se diz, representa dez vezes a dos Rockfeller’. Outro periódico a identificava como a Edith Piaf sul-americana, por causa de sua voz e a vida movimentada. O L’Aurore, impunha: ‘É a imperatriz da Bossa Nova.’


Com toda essa publicidade ao seu redor, não demorou muito para Maysa ser chamada à se apresentar na televisão francesa para cantar "Ne Me Quitte Pas". A famosa gravadora parisiense Barclay também já anunciava o lançamento de seu disco pela casa. O famoso álbum francês jamais seria lançado no Brasil.

É esta a nossa Maysa, marcada por desmoronamentos e ressurgimentos gloriosos. À todos ela deixou claramente imprenso nos versos de "Meu Mundo Caiu": ‘Se meu mundo caiu, eu que aprenda á levantar.’ 


Maysa se apresenta no Olympia de Paris: Um feito inédito e histórico para uma cantora brasileira.


A imprensa parisiense logo impunha: ‘É a imperatriz da Bossa Nova’.