27 de janeiro de 2015

Televisão: Maysa no Dia D - TV Record, 1970


Como já abordado num post aqui no blog, em 1970 Maysa tomou a dianteira do jornalístico Dia D da TV Record de São Paulo, após a saída da então apresentadora Cidinha Campos da emissora, tendo revelado um desempenho excelente como repórter.
Numa de suas reportagens para o programa, Maysa visitou o set de filmagens de A Herança (1970) obscuro filme do cineasta Ozualdo Candeias - pioneiro do chamado cinema marginal -, onde entrevistou um velho conhecido seu, o cantor Agnaldo Rayol, que fazia uma participação no filme. Rodado em Itapecirica da Serra (SP), a trama se baseava em Hamlet de William Shakespeare; transpondo a história para o cenário rural brasileiro. Nas imagens a seguir podemos ver Maysa ao lado de Rayol e do ator David Cardoso, protagonista do filme.














Fotos: fotógrafo não identificado
Acervo: Cinemateca Brasileira



22 de janeiro de 2015

Especial: 38 anos sem Maysa



Uma vida é feita de fatos e acontecimentos. Momentos de felicidade, tristeza, amargura, alegria, instantes em que podemos nos sentir completamente felizes ou eternamente derrotados. A certeza da momentaneidade dos sentimentos (a da felicidade, por exemplo) era uma crença muito forte de Maysa, afinal, quantas vezes ela não proferiu a célebre "Felicidade a toda hora é coisa de gente burra!" E é mesmo, não é? Digo isso para exemplificar o quanto Maysa era uma pessoa viva e consciente da vida à sua volta, dos seres humanos, das horas, do passar do tempo. Tempo, tempo esse que correu depressa demais, assim como ela também vivia rápido demais, em alta velocidade. Costumamos admirar ou até mesmo idolatrar aqueles que ousaram viver no sentido mais vibrante da palavra - pulsante, sem medo, com coragem. E como Maysa teve coragem! Percebam nesta curta história o quanto a morte estava distante e perto de Maysa, sim, porque a morte costuma estar sempre muito perto dessas pessoas que atravessam barreiras as quais os outros tem medo de encostar. E esta história, a de Maysa, é cheia dessas transposições de barreiras, de pioneirismos, de "insubmissões às regrinhas miúdas do jogo", - como o poeta Carlos Drummond de Andrade definiu perfeitamente. Esta história que será contada e recontada por muitos anos é quase tão forte quanto a própria música que Maysa criou; caneta na mão, dedos no piano (ou no violão), ela ia inconscientemente escrevendo a história da sua vida, numa época em que mulheres ainda custavam a escrever sozinhas as suas histórias, e que bonito é pensar que Maysa conseguiu isso. Numa de suas canções ela disse que precisava de tempo para poder se encontrar; acredito que em algum dia ela tenha se encontrado. Porque acho isso? Porque Maysa nunca desistiu, era uma batalhadora, ela não parece ter desperdiçado um segundo sequer do seu tempo, quando se encheu de cantar, foi pintar, esculpir, buscou nas artes plásticas um novo canalizador para tudo aquilo que sentia, que retinha dentro de si mesma e não podia mais pôr para fora através do canto. E claro, escrever, nunca parou de escrever, seus escritos - ao lado de suas canções - são o que de mais precioso temos dela, frutos de uma mente incrivelmente sã e um coração grande demais. Perto do fim, ela sabia o quão longa havia sido a caminhada, doce, amarga; ela parecia saber todos os gostos, ter experimentado todos os sabores da vida. Sobre ela, temos dezenas de músicas, poemas, fotografias, rastros profundos de uma história de vida que pode ser resumida à uma palavra muito importante: aprendizagem; mesmo que ela jamais tenha tido a intenção de ensinar alguma coisa, ela sabia o quanto ensinou às pessoas, tenham certeza, ela sabia o quanto tudo valeu a pena. O fim? Não penso num fim para Maysa, a fatalidade que lhe tirou a vida terrestre é pequena perto de uma história tão enriquecedora, não se trata de um "fim da linha", ou um "ponto final", é um entre-aspas que podemos usar para prosseguir para outras partes mais eloquentes desta história. O seu fim é passageiro, a trajetória dela é infinita.


"Havia uma mulher que
caminhava dentro de mim
já num passo capenga, sem
jeito, quase aberto,
sem medos pela inconsequência,
sem alma pelo
vazio que ela sabia a sua busca..."


Maysa Figueira Monjardim
(06/06/1936 - 22/01/1977)