30 de novembro de 2011

Imprensa: Buraco da fechadura - Maysa


Buraco da fechadura: Maysa


· Seu verdadeiro nome é Maysa Monjardim.

· Nasceu no Rio, num dia 6 de junho.

· Compõe desde pequena.

· Já fez “ponta” (participação) em vários filmes nacionais.

· É desquitada.

· Tem um filho (Jayme) de dois anos e meio de idade.

· Torce pelo Fluminense, mas gosta, também, do Flamengo.

· Nunca participa de conversas sobre “piches” (falar mal dos outros).

· Não se considera econômica, mas também não é perdulária.

· Reside em Copacabana num lindo apartamento.

· É temperamental.

· Aos 12 anos de idade compôs o seu primeiro Samba-Canção.

· Gosta de ir a praia para ver o mar.

· Lê em Francês e Inglês.

· Seu passatempo predileto é tocar violão e piano.

· É fã do bom cinema.

· Não sai de casa sem pintura (maquiagem).

· Gosta de ouvir suas gravações.

· Não acredita em superstições.

· Alimenta-se bem, porém em pouca quantidade.

· Mede 1,68 e pesa 62 quilos.

· Adora ficar olhando a Lua cheia.

· Seu perfume favorito é “Dioríssimo”.

· Começou cantando em São Paulo, na Rádio e TV Record.

· Seu costureiro é o Dener, de São Paulo.

· Prefere os escritores estrangeiros.

· Calça sapato 37.

· À noite, prefere os trajes leves.

· Deita tarde e nunca levanta antes do meio-dia.

· Considera-se muito franca e sincera.

· Dificilmente discute política.

· Sua maior vontade é conhecer o mundo.

· Acredita no coração das criaturas.

· É desprendida.

· Não guarda rancor do que lhe fazem.

· Veste-se dentro da moda.

· Não dispensa uma seresta musical.

· Tem muitos amigos de verdade.

(publicado no nº 482 da Revista do Rádio em 1958)


22 de novembro de 2011

Imprensa: Maysa ensina sua filosofia de vida em doze passos.


MAYSA ensina sua filosofia de vida em doze passos.






1º. — "Todos os dias, quando acordo, só penso em fazer aquilo que tenho vontade, somente isso".


2º. — "Não gosto de ouvir ninguém tentando corrigir-me de qualquer falha... Somos todos uns “falhados”... E, afinal, estamos no mundo para pagar nossos pecados."


3º. — "Quando me sinto aflita apelo para o meu "Anjo da Guarda", e só "vou" a Deus em última instância. Sei que as minhas aflições são causadas por mim mesma.”...


4º. — "Não me meto com a vida de ninguém para que ninguém se meta com a minha. Embora se metam. Mesmo assim, o que me interessa é o meu juízo".


5º. — "Tenho exata noção dos dias presentes. Do amor, da alegria, e (para que negar?) do sofrimento".


6º. — "Sei que a mocidade é um sopro da vida que só pode ser julgado quando caminhamos para a velhice".


7º. — "Se querem ver em meus cabelos um toque de minha personalidade, até isso admito. Uso-os com a mesma espontaneidade com que guio a minha vida".


8º. — "Se minhas músicas representam o estado da minha alma, até isso é verdade. Vivo-as todas as vezes que as interpreto. Se sou excessivamente romântica, não vejo desdouro nenhum nessa afirmativa. A vida sem amor é uma queda no vácuo".


9º. — "Aqueles que dizem que não penso no futuro, revelam apenas um dom frustrado de profeta. Faço o que quero, quando quero
e porque quero!”



10º. — "Faço minhas as palavras de Vinicius de Morais: — "O poeta só é grande se sofrer".


11º. — "Os fãs, na ânsia de confortar seus favoritos, mais aumentam os sofrimentos, já que deles jamais poderão participar.”


12º. — "Sou assim: minha vocação explodiu dentro de mim como um vulcão. Por isso me considero inconsequente, incoerente, leviana, matusquela. Falam como se tudo isso pudesse mesmo de longe atingir os meus sofrimentos. Um dia, e na esperança desse dia, muitos dirão que "afinal de contas não sou má pessoa."



(publicado na Revista do Rádio no fim dos anos 50)

14 de novembro de 2011

Especial: Maysa e Paris - Uma História de Amor




Eu tenho certeza absoluta que vocês devem estar estranhando – e muito – a temática dessa postagem, e eu até posso entender este estranhamento inicial, mas posso apostar que vocês também devem estar curiosíssimos para ler do que se trata essa tal história de amor entre Maysa e Paris. Pois bem, deleitem-se!
O que Paris representa? Paris representa beleza, amor, sofisticação, refinamento, afeto, sensibilidade, glamour, deslumbre e até uma certa melancolia. Em suma, Paris pode ser tudo e muito mais. Notaram alguma coisa? Maysa parece um pouco com Paris. Maysa pode não ser tudo, mas também representa muita coisa. Ela também escondia muitas personalidades numa só e Paris também é assim. Paris é tudo que se quiser, só depende do que você quer e de como você a vê. É muito Maysa, demais.
Pode parecer bizarro e até meio estúpido comparar uma cidade com uma pessoa, mas é verdade que uma cidade representa muito do que você é, pois assim como cada ser humano, a cidade guarda uma personalidade própria muito maior do que qualquer coisa. A cidade é uma criação, uma concepção humana e não é nada mais natural que ela tenha um comportamento quase humano, é como uma longa história com vida própria, mas sem fim.
Maysa amava Paris, e eu ouso dizer porque. Porque em Paris, Maysa poderia ser o que quisesse, em Paris todas as faces de Maysa brotavam à flor da pele, porque Paris é tudo e lá o seu todo desabrochava a sombra da Torre Eiffel. Creio que Paris recordava outros tempos para Maysa, talvez Paris fosse melancólica para ela (porque Paris é romântica e também melancólica ao mesmo tempo). Lembro que ao fugir para Paris no fim dos anos 50, Maysa buscava solidão e paz na Cidade Luz, com certeza ela encontrou o primeiro objetivo, mas não o segundo, porque paz não combina com Paris, muito menos com Maysa. Na ocasião, ela gostava de ficar debruçada sobre o cais do rio Sena, desde alta madrugada até depois do amanhecer. Disse que o Sena era “um convite para uma morte lírica”, de fato, para um olhar melancólico deve haver uma certa dose de tristeza no caminhar das águas do sábio e lento rio francês, que carrega em sua alma o fluir das paixões intensas e amores fracassados...o lirismo da morte cortejava Maysa e corteja aquela vislumbrante esplanada histórica recheada de passado.
A primeira de suas tristezas em Paris foi chegar a cidade e ouvir “Ouça” tocando no rádio, chorou copiosamente. Maysa foi a Paris para viver em companhia da sua solidão, passava os dias trancafiada na suíte do hotel La Trémoille remoendo velhas amarguras e alimentando tristezas, ela só saia de lá na calada da noite quando caia pela cidade afora buscando algo que preenchesse suas noites vazias. Houve noites – e dias – em que ela não retornou ao seu hotel situado no coração do Triangle d’Or. Dormia nas ruas, em bancos de praças, por várias vezes foi encontrada perdida pelas ruas da cidade. Mas não se assuste com a ilustração um pouco intensa demais, isso tudo para ela era muito natural e ainda mais porque estava em Paris, definitivamente, em Paris Maysa podia ser apenas Maysa.
Pigalle, Montparnasse, Montmartre...Maysa não demorou a encontrar seu próprio pedaço de Paris, e a melancolia, amargura e tristeza de outrora não demoraram muito (mesmo que só um pouquinho), a serem substituídas pela boemia. Maysa se juntou aos clochard, os vagabundos de Paris e seguidores fiéis do existencialismo, os quais ela passou a viver em companhia e agir como tal. Maysa desceu ao submundo de Paris, chegou a vender quadros na Place du Tertre para poder comer. Enfim, tornou-se íntima da cidade.
Paris não foi má para Maysa. Maysa também foi cantora em Paris, e a cantora Maysa consagrou-se plenamente no Olympia de Paris. Aquele palco mítico em que cantores podem se legitimar em verdadeiros deuses. Maysa foi um deles, lá ela foi aplaudida exaustivamente de pé por vários minutos seguidos, cantando em francês para os franceses. Mesmo que ela tenha desmistificado o glamour desta apresentação com uma certa soberba que lhe era peculiar, todos nós sabemos a emoção que foi para Maysa – e seria para qualquer artista – se consagrar num teatro como é o Olympia. Definitivamente, em Paris todos os sonhos podem se tornar realidade.