14 de novembro de 2011

Especial: Maysa e Paris - Uma História de Amor




Eu tenho certeza absoluta que vocês devem estar estranhando – e muito – a temática dessa postagem, e eu até posso entender este estranhamento inicial, mas posso apostar que vocês também devem estar curiosíssimos para ler do que se trata essa tal história de amor entre Maysa e Paris. Pois bem, deleitem-se!
O que Paris representa? Paris representa beleza, amor, sofisticação, refinamento, afeto, sensibilidade, glamour, deslumbre e até uma certa melancolia. Em suma, Paris pode ser tudo e muito mais. Notaram alguma coisa? Maysa parece um pouco com Paris. Maysa pode não ser tudo, mas também representa muita coisa. Ela também escondia muitas personalidades numa só e Paris também é assim. Paris é tudo que se quiser, só depende do que você quer e de como você a vê. É muito Maysa, demais.
Pode parecer bizarro e até meio estúpido comparar uma cidade com uma pessoa, mas é verdade que uma cidade representa muito do que você é, pois assim como cada ser humano, a cidade guarda uma personalidade própria muito maior do que qualquer coisa. A cidade é uma criação, uma concepção humana e não é nada mais natural que ela tenha um comportamento quase humano, é como uma longa história com vida própria, mas sem fim.
Maysa amava Paris, e eu ouso dizer porque. Porque em Paris, Maysa poderia ser o que quisesse, em Paris todas as faces de Maysa brotavam à flor da pele, porque Paris é tudo e lá o seu todo desabrochava a sombra da Torre Eiffel. Creio que Paris recordava outros tempos para Maysa, talvez Paris fosse melancólica para ela (porque Paris é romântica e também melancólica ao mesmo tempo). Lembro que ao fugir para Paris no fim dos anos 50, Maysa buscava solidão e paz na Cidade Luz, com certeza ela encontrou o primeiro objetivo, mas não o segundo, porque paz não combina com Paris, muito menos com Maysa. Na ocasião, ela gostava de ficar debruçada sobre o cais do rio Sena, desde alta madrugada até depois do amanhecer. Disse que o Sena era “um convite para uma morte lírica”, de fato, para um olhar melancólico deve haver uma certa dose de tristeza no caminhar das águas do sábio e lento rio francês, que carrega em sua alma o fluir das paixões intensas e amores fracassados...o lirismo da morte cortejava Maysa e corteja aquela vislumbrante esplanada histórica recheada de passado.
A primeira de suas tristezas em Paris foi chegar a cidade e ouvir “Ouça” tocando no rádio, chorou copiosamente. Maysa foi a Paris para viver em companhia da sua solidão, passava os dias trancafiada na suíte do hotel La Trémoille remoendo velhas amarguras e alimentando tristezas, ela só saia de lá na calada da noite quando caia pela cidade afora buscando algo que preenchesse suas noites vazias. Houve noites – e dias – em que ela não retornou ao seu hotel situado no coração do Triangle d’Or. Dormia nas ruas, em bancos de praças, por várias vezes foi encontrada perdida pelas ruas da cidade. Mas não se assuste com a ilustração um pouco intensa demais, isso tudo para ela era muito natural e ainda mais porque estava em Paris, definitivamente, em Paris Maysa podia ser apenas Maysa.
Pigalle, Montparnasse, Montmartre...Maysa não demorou a encontrar seu próprio pedaço de Paris, e a melancolia, amargura e tristeza de outrora não demoraram muito (mesmo que só um pouquinho), a serem substituídas pela boemia. Maysa se juntou aos clochard, os vagabundos de Paris e seguidores fiéis do existencialismo, os quais ela passou a viver em companhia e agir como tal. Maysa desceu ao submundo de Paris, chegou a vender quadros na Place du Tertre para poder comer. Enfim, tornou-se íntima da cidade.
Paris não foi má para Maysa. Maysa também foi cantora em Paris, e a cantora Maysa consagrou-se plenamente no Olympia de Paris. Aquele palco mítico em que cantores podem se legitimar em verdadeiros deuses. Maysa foi um deles, lá ela foi aplaudida exaustivamente de pé por vários minutos seguidos, cantando em francês para os franceses. Mesmo que ela tenha desmistificado o glamour desta apresentação com uma certa soberba que lhe era peculiar, todos nós sabemos a emoção que foi para Maysa – e seria para qualquer artista – se consagrar num teatro como é o Olympia. Definitivamente, em Paris todos os sonhos podem se tornar realidade.






3 comentários: