22 de dezembro de 2012

Imprensa: Maysa, dias sem vinho e com rosas - Revista Manchete (19/11/1966)


Maysa, dias sem vinho e com rosas

Nossa capa: Maysa, a melhor intérprete brasileira do Festival da Canção (foto de José de Castro)


Reportagem de Durval Ferreira · Fotos de Mituo Shiguihara

“Às vezes acredito que meu corpo não foi feito para morrer.” As palavras são de Maysa, a Maysa de hoje, uma pessoa inteiramente outra, de corpo e espírito. Os quilos perdidos (está pesando apenas 56) acentuaram-lhe a silhueta; e como que também aumentaram o tamanho dos seus olhos, intensamente acesos no rosto de menina. O sucesso do seu casamento com o industrial espanhol Miguel Azanza e o amor ao filho, hoje com 10 anos, deram-lhe a paz de espírito que tanto tempo lhe faltou. A nova Maysa é, antes de tudo, uma mulher tranqüila, de fala mansa, compreensiva e adulta, acima das paixões e das disputas. Mas, também, dona de opiniões seguras e, por vezes, contundentes – a lembrar a Maysa de ontem, essencialmente polêmica. Quando, por exemplo, se refere ao ié-ié, as expressões duras lembram a outra Maysa.
-         Ié-ié é música para debilóides. E digo mais: somente no Brasil ainda se houve o ié-ié.
O recente insucesso no Festival da Canção Popular, quando o Dia das Rosas, que interpretou, não chegou à classificação internacional, não lhe deu qualquer amargura. “Festival é assim mesmo.” Segura, ela sabe que a canção (cuja letra é sua) é bela; e que sua interpretação foi correta – opinião que coincidiu com a dos jurados do Festival, que lhe deram o prêmio da melhor cantora brasileira. E é com Dia das Rosas que Maysa irá defender nos próximos dias, no Festival Internacional da Canção, em La Plata, o nome do Brasil. O convite lhe foi feito pelo Itamarati quando ela ainda se encontrava no Maracanãzinho, na última noite do Festival Internacional.
Maysa não gosta do ié-ié, mas em compensação também não gosta da Banda, do seu amigo Chico Buarque de Holanda:
-         Sinceramente, não gosto. Gosto da letra, mas acho a linha melódica sem expressão. Isto não quer dizer que não considere Chico Buarque um dos melhores compositores brasileiros de hoje. Chico, Verinha Brasil (autora da melodia de Dia das Rosas), Vinicius e Edu Lobo – não há maiores do que eles.
E cantoras? Bem, Maysa não cita as suas preferidas, mas aponta, imediatamente, pelo menos uma das que não gosta.
-         Não gosto de Maysa. Isto mesmo: não gosto de Maysa cantora.
Mais adiante, em meio à conversa, ela acaba por indicar Elizeth Cardoso como a intérprete que mais lhe agrada. “Ela não envelhece nunca. Nem ela, nem a sua voz.”
Ainda com Dia das Rosas, Maysa estará participando do Festival de San Remo, em janeiro próximo. Depois, irá ao Festival de Cannes; em seguida, voltará à Argentina para cumprir um contrato que já foi assinado. E depois, os Estados Unidos. É possível, assim, que o Brasil não a veja por muito tempo. Cumpridos seus compromissos artísticos, Maysa, seu marido e seu filho irão viver no sul da Itália, “numa praia qualquer muito bonita e numa casa também muito bonita”.
-         Lá faremos a nossa base. E ao Brasil só virei esporadicamente, para matar saudades. Sabe porque? Eu preciso de Sol – descobri que no Brasil não tem mais Sol. Parece que cassaram o Sol.
Do Festival do Maracanãzinho, diz que não podia ser mais perfeito – como organização e como qualidade artística. “O Brasil lavrou um tento. Os europeus não teriam feito melhor.”
Suas preferências, no Festival, foram para a Áustria; depois, para Portugal. E como interpretação, daria o primeiro lugar ao representante russo. “Ele é verdadeiramente fenomenal – mil pontos acima da Japonesa Chiemi Ieri, a vencedora.”
Sobre Saveiros, de Dori Caymmi e Nélson Motta, que conquistou o segundo lugar no Festival, Maysa é incisiva: “Sou suspeita para falar no assunto, mas não tenho medo de Dizer que Saveiros não merecia aquela colocação.” As composições de Vera Brasil e Edu Lobo, defendidas por Elis Regina, e mesmo o meu Dia das Rosas, deveriam ser premiados.
Agora é ela quem dá novo rumo à conversa, falando de sua vida – “uma vida bem engraçada, muito tumultuada, e se desenrolando numa velocidade quase supersônica, que às vezes chegava a me atordoar. Não falo dos dias presentes, tão tranquilos. Mas de um passado onde dissabores, tristezas, desencantos e exuberantes momentos de felicidade se sucediam vertiginosamente, como as sequências de um filme cuja máquina de projeção tivessem disparado. Não sei como consegui sobreviver. Sobrevivi, felizmente, mas herdei desses dias tão terríveis uma série de neuroses”.
Maysa faz uma pausa, fixa os enormes olhos num ponto vago, acende outro cigarro:
-         Mas não pense que estou a maldizer a vida que tive. Se não a tivesse tido, não poderia saber como sou feliz agora. Também não tenho medo da morte. A morte é uma coisa que tem de acontecer, embora eu pense às vezes que não vou morrer nunca. É isso mesmo: tenho a impressão de que jamais morrerei. Sinto que meu corpo não foi feito para morrer. Mas se não tenho medo de morrer, tenho outros medos. O maior deles é esse irremediável pavor do público. É terrível o pavor que tenho dele, principalmente do público paulista. Agora sei: não é o público brasileiro, nem o estrangeiro, que me mete medo – é o de São Paulo. Porque? Não sei direito. Talvez porque foi lá que comecei minha carreira artística, quando não tinha ainda qualquer experiência, apenas vontade de cantar. Mas o fato é que ainda hoje um auditório paulista me gela a espinha. Sinto-me, diante dele, como se estivesse a bordo de um avião. E eu tenho horror de avião. 



Esbelta, loura, reconciliada com a felicidade, ela diz que hoje só tem um pavor irremediável: "É o pavor do público. Principalmente o de São Paulo."

Especial: 3 anos do Blog Oficial Maysa


3 anos do Blog Oficial Maysa!


Hoje, o blog comemora 3 anos sua existência. Três anos são muita coisa. Nestes 36 meses de trabalho dedicados a Maysa, posso dizer que só colhi bons frutos. O trabalho não é fácil, pelo contrário, é árduo. Não é fácil manter viva a memória de uma cantora já falecida no Brasil, mas tenho conseguido vencer este desafio com bastante sucesso. O Blog é especial porque faz é feito com carinho, com ética e com comprometimento à sua homenageada Maysa, - e é isso que o torna único na web. Quero agradecer a todos que de alguma forma contribuíram e continuam contribuindo para a realização deste blog, e aos leitores, sempre tão assíduos. Quero dizer que este trabalho não acabará tão cedo, pois o que me move é a grande admiração que sinto pela cantora Maysa, e meu objetivo não pode ser outro, senão o de manter vivo o seu legado, para sempre. Muito obrigado!

Vitor Dirami

10 de dezembro de 2012

Imprensa: Maysa foi encontrada na plateia do teatro - Diário da Noite (19/09/1968)


Maysa foi encontrada na plateia do teatro 


Maysa, a imortal criadora de "Meu Mundo Caiu", sem dúvidas um verdadeiro hino de amor e "Ouça", há dois dias está em São Paulo. Procurou desembarcar incógnita. Como está bem mais magra e usava grandes óculos escuros, pode dirigir-se à casa de seus pais sem problemas. Embora esteja cantando em Madri e seja um verdadeiro cartaz, no momento Maysa veio apenas visitar seus pais que moram no centro da cidade. Disse mais: veio matar saudades do Brasil e de um modo especial de São Paulo. Veio acompanhada de seu cunhado. E foi com ele que Maysa no último sábado, imaginou que poderia assistir a Maria Bethânia no Teatro Ruth Escobar sem ser reconhecida. Procurou sentar-se numa lateral do teatro, quase encostada à parede. Como Maria Bethânia em seu atual espetáculo vem até a plateia, reconheceu a genial intérprete. Quando anunciou sua presença e afirmou que dedicava sua estreia a Maysa, o teatro veio abaixo. Provavelmente a cantora que a anos não atua no Brasil, ficou perplexa com a reação do público. Todos em pé não cessavam de aplaudi-la. Procurada por amigos e jornalistas, a todos Maysa atendeu com atenção, afirmando que retornará à Madri no próximo dia 28, mas em breve voltará a São Paulo. Falar sobre esta cantora é quase desnecessário pois as emissoras não se cansam, mesmo nesta época de "ié-ié-ié", de tocar os discos da cantora que, por sinal nunca caem da moda. Suas músicas falam de amor, de tristeza e ingratidões, sentimentos que estão sempre lado a lado com o ser humano. 

3 de dezembro de 2012

Show: Au Bon Gourmet apresenta Maysa - 1963


Au Bon Gourmet apresenta Maysa

Maysa em show no Au Bon Gourmet acompanhada por Eumir Deodato e conjunto.

Maysa andava bastante distante do público brasileiro, quando resolveu retornar ao país para uma visita de poucos meses. A cantora, então, residia em Madri, ao lado do novo marido – o belga-espanhol Miguel Azanza. E tentava se adaptar à nova vida doméstica. Em 3 de abril de 1963, Maysa, – acompanhada do seu novo amor, e seus dois cachorrinhos Baltazar e Gaspar  –, desembarcou no porto de Santos, do navio inglês Amazon, vindo da Europa.
Emendando um novo contrato artístico, Maysa veio ao Brasil gravar dez videoteipes para a TV Tupi carioca. O musical – Maysa como ela é, seria retransmitido em cadeia nacional pelas Emissoras Associadas, todas as quartas-feiras, às 21:25 da noite.

Dias depois, Maysa deveria estrear uma temporada na boate Au Bom Gourmet do empresário Flávio Ramos, sob direção musical do veterano Aloysio de Oliveira. Na data marcada, ela chegou à boate vestindo um longo preto, de costas nuas e portando um vison branco sobre os ombros. Numa entrada cheia de rapapés, Flávio Ramos chegou a estender o tapete vermelho para Maysa passar, incluindo um Cadillac preto rabo-de-peixe, que ia busca-la em casa e traze-la ao Bon Gourmet todas as noites. Só a superestreia de Maysa, com dotada de requintes dignos de uma estrela internacional, já deu o que falar.
No show, Maysa era acompanhada pelo conjunto de Eumir Deodato (arranjos, piano e órgão), Ugo (vibrafone), Contra-baixo (Sergio), Copinha (Flauta) e João Palma (bateria). Na abertura, uma introdução magistral com a flauta de Copinha e o piano dedilhado por Eumir Deodato, tocava os primeiros acordes de “Ouça”, a plateia logo aplaudia, mas em seguida, de repente, tudo mudava e logo entrava a voz de Maysa interpretando “Demais”, de Antônio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira. Maysa se apropriara tanto daquela música, que de tão associada a ela, parecia até uma composição de sua própria autoria. Em seguida, dava luz á sua face jazzwoman, emendando uma versão turbinada de “I’ve Got You Under My Skin”, o grande clássico de Frank Sinatra.

O show seguia com outras interpretações de velhos sucessos dos últimos discos – “Por Causa de Você”, da falecida amiga Dolores Duran, “Dindi”, mais uma das parcerias entre Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, “Quem Quiser Encontrar o Amor”, “Fim de Noite”, “O Amor Que Acabou”, “Bom Dia, Tristeza” e encerrava com “Bouquet de Izabel”, de Sergio Ricardo, lançada por ela cinco anos antes. No fim, o conjunto fazia um encerramento com os instrumentais de “Ouça”, – de autoria de Maysa –, e “Rio”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Eram interpretações densas, carregadas de emoção e sentimentalismo, num show bastante intimista. Ela sequer se comunicava com a plateia.

Foi uma temporada de muito sucesso. Maysa conseguira lotar a boate Bon Gourmet todas as noites. Repercurtindo o sucesso do show, a imprensa também teve de dar o braço a torcer, e não poupou elogios a nova performance da cantora. Porém, não demorou muito para que os problemas do passado ressurgissem para estragar o presente. Maysa passou a faltar sistematicamente às apresentações. Maysa se atrasava, desaparecia, ou então sumia sem mandar dizer onde estava. O Cadillac que devia busca-la e leva-la ao Bon Gourmet, acabou por adiantar de nada.

Apesar do sucesso inquestionável, o dono da boate, Fávio Ramos, teve que encerrar a temporada antes do previsto. Não podia manter no cartaz uma cantora que ninguém sabia onde estava. Assim como a temporada no Bon Gourmet, o programa da TV Tupi acabou tendo o mesmo final. Os programas foram tirados abruptamente do ar, sem maiores explicações da emissora.

De tudo isso, restou o disco gravado ao vivo durante o show no Au Bon Gourmet, produzido e dirigido por Aloysio de Oliveira. O álbum lançado pela gravadora Elenco, de Aloysio de Oliveira, só sairia no ano seguinte, em 1964, quando Maysa já estava bem longe do Brasil. O layout da capa, assinada por César G. Villela, é uma das mais emblemáticas do selo Elenco, e também da discografia de Maysa. Trazendo apenas os olhos da cantora, em preto-e-branco e alto contraste. Na contracapa, um texto assinado por Aloysio de Oliveira dizia:

“Existem poucos artistas que possuem a terceira dimensão.
A terceira dimensão é uma força de personalidade que permite ao artista ‘hipnotizar’ o público.
Maysa tem essa força.
Por isso gravamos esse LP durante um dos seus shows, ao vivo, tal como aconteceu.
Um documentário musical desta fabulosa voz, desta fabulosa personalidade, desta fabulosa intérprete que é Maysa.”

Maysa e o marido Miguel Azanza nos bastidores das gravações da TV Tupi.

27 de novembro de 2012

Curiosidades: Maysa e Agostinho dos Santos - "Meu Castigo"


"Meu Castigo"

Agostinho dos Santos e Maysa em fragrante da Revista do Rádio, 1958.

Em 1958, Maysa gravou uma participação na valsa "Meu Castigo" de Onildo Ameida, interpretada por Agostinho dos Santos, declamando um poema de sua autoria. Gravada com acompanhamento da Orquestra RGE regida pelo maestro Enrico Simonetti, o disco foi lançado em 78 RPM pela gravadora RGE, mesma fábrica em que Maysa gravava. Ao que parece, a participação de Maysa não foi creditada no disco.
O registro da récita da cantora em "Meu Castigo", parece ter sido ignorado ao longo dos anos. Tanto é, que  sua participação na música nunca foi incluída em sua discografia oficial. O que pode ser visto como uma preciosidade quase inédita.
Apesar da rara gravação, os versos declamados por Maysa - "Hoje eu estive pensando, longo tempo, sem chorar, sem sofrer também, apesar de pensar em você..." são bem conhecidos do público. Esse poema de autoria de Maysa, seria musicado pelo maestro Simonetti, na canção intitulada "Você", - lançada no disco Convite para ouvir Maysa Nº 4, dali a pouco tempo, em fevereiro de 1959.
Fato quase desconhecido da carreira de Maysa, ouça agora, aqui no blog, essa bela canção. Uma verdadeira joia das carreiras de dois grandes nomes da MPB. Bravo!



16 de novembro de 2012

Imprensa: Maysa e Caubi marcados pelo destino - Revista do Rádio (1958)


Maysa e Caubi marcados pelo destino...


Texto de Borelli Filho · Fotos de Percílio

Eles têm muito em comum. A começar pela idade, que é quase a mesma, indo até as circunstâncias em que alcançaram indiscutível popularidade. Caubi fez o seu nome quase num abrir e fechar de olhos, projetando-se sensacionalmente após os êxitos dos seus primeiros discos. O mesmo aconteceu à Maysa: fez e cantou melodias que logo se converteram em sucessos. Daí por diante, praticamente juntos, ela e ele chegaram ao estrelato. E porque isso aconteceu, ao mesmo tempo foram marcados pelo destino. Não puderam fugir ao aspecto negativo que acompanha todos os vitoriosos, especialmente àqueles que alcançam sucesso em tão pouco tempo. Falam de um e de outro: nunca tantos se preocuparam com tão poucos. Caubi é vítima das calúnias, Maysa é marcada pelos comentários maldosos. Dir-se-ia que é moda falar-se dos dois artistas. Fruto, naturalmente, da evidência que conquistaram.
Um e outro (eles próprios já o confessaram) têm experimentado o sabor amargo das notícias desairosas. Sofreram na marcação impiedosa dos que nada perdoam aos vitoriosos. Tem, agora, uma resistência maior a tudo isso. Mas, ainda não pagaram ao destino o “pecado” de sua popularidade.
Talvez, unidos pelo sofrimento comum (porque os ídolos também sofrem, a par das emoções felizes vividas com os fãs) é que Maysa e Caubi sejam tão amigos. Sabem que ainda não passaram por tudo, que muito lhes falta para fugir à marcação do destino – que é, afinal, o próprio público, representado numa parcela que nada perdoa. Resistiram, e mais do que nunca, lutando contra tudo e contra todos os tabus. Desta vez para a luta que ainda não terminou – mas que os fará vitoriosos.
- Nem a maledicência, nem as calúnias nos farão voltar atrás (dizem, a uma só voz). O destino que nos marcou seguirá o seu caminho, amanhã melhor do que hoje.




5 de novembro de 2012

Imprensa: Maysa abre o seu coração (Revista do Rádio - 1963)


Maysa abre o seu coração


  • Meu nome completo é Maysa Monjardim.
  • Nasci do Rio de Janeiro mesmo.
  • Eis a data do meu aniversário: 6 de junho.
  • Batizei-me na Igreja da Glória, também no Rio.
  • Meus padrinhos de batismo são Jaime Fernandes Figueira e Zina Guaraná Monjardim.
  • Fiz minha primeira comunhão também na Igreja da Glória.
  • Meu padrinho de crisma chama-se Noni Monjardim.
  • Meus pais são Iná e Alcebíades Guaraná Monjardim.
  • Tenho um filho, Jayme, de sete anos de idade.
  • Sou desquitada.
  • Resido em Copacabana, quando estou no Rio.
  • Minha altura é 1,70m.
  • Peso, normalmente, 70 quilos.
  • Meu manequim é de número 46.
  • Meus olhos são verdes.
  • Não conheço nada de política. Portanto, não tenho preferências.
  • Adoto a religião católica.
  • Meu maior desejo, atualmente é... (surpresa!).
  • Eis a minha filosofia de viver: simplesmente viver.
  • Uma coisa que me dá tristeza é gente burra.
  • Torço pelo Botafogo.
  • Minha hora de dormir é esta: quando chega o sono.
  • Tenho um irmão, Alcebíades Figueira Monjardim.
  • Meu santo de devoção é São Judas Tadeu.
  • Meu perfume preferido chama-se "Miss Dior".
  • Não tenho preferência por este ou aquele sabonete.
  • Pasta dentrifícia, idem.
  • Meu coração, biologicamente, vai bem.
  • Sentimentalmente falando, meu coração anda adoravelmente, como sempre.
  • Meu temperamento é... Bem, vocês devem conhecê-lo melhor que eu...
  • Confesso que não tenho boa memória.
  • Todas as orações são minhas favoritas.
  • Gosto dos filmes de Antonioni, Fellini e companhia.
  • A única coisa que sei fazer, fora da vida artística é... Cantar!
  • Minha cor preferida é aquela que esteja de acordo com meu estado de espírito. Mas este sempre muda. E eu também.
  • Quando comecei a cantar, jamais imaginei tornar-me profissional.
  • De todos os países que visitei, o que guardo melhores recordações é do Japão, talvez pelo exotismo oriental.
  • Tenho meus dias de tristeza e de alegria. Quando estou aborrecida, não falo com ninguém.
  • O primeiro presente que recebi foi uma boneca, quando tinha apenas onze anos.
  • O exterior para mim é melhor, artisticamente falando. Principalmente a Europa, onde sempre tive boa acolhida como artista.
  • Acho que o mal desse mundo é que quase todos querem ver os defeitos dos outros, esquecendo-se dos seus. Eu sou o contrário: pouco me importa a vida dos outros. Vivo a minha vida, faço o que bem entendo e acho que estou certa.
  • Engraçado como certa gente fica se metendo com a minha vida. Está certo que me critiquem, porém artisticamente. Mas na minha vida particular, não.
  • Faço sempre o que quero. E não me arrependo. E não tenho de dar satisfações a ninguém, pois sou independente. Tenho profundo respeito pelos meus pais e adoração pelo meu filho.
  • Sou uma mulher que sabe o que faz. A vida é uma passagem. Devemos fazer aquilo que queremos.
  • Sou inteiramente contrária a todo e qualquer convencionalismo. Tudo o que for pré-determinado, terá a minha antipatia.
  • O dinheiro, para mim, é coisa que não ligo muito. O que mais aprecio é ter paz de espírito.
  • Preocupo-me muito com o futuro do meu filho. Tanto que já coloquei em seu nome alguns imóveis que comprei com o dinheiro ganho em atividades artísticas. 

25 de outubro de 2012

Discografia: Contracapa de Maysa (1966)


Maysa (1966)

Contracapa


"Aqui está um novo disco para sua coleção de LP's de Maysa. 
Com ele volta nossa alegria ao vê-la novamente brilhando na constelação dos maiores astros da música popular brasileira, no mesmo lugar que até agora ninguém conseguiu, ou seja, o da maior intérprete romântica da nossa música. Esse disco está associado à nova série de programas de televisão produzidos pela Guelmay, firma criada por Maysa e Miguel, seu marido, e que é responsável direta por essa sua nova temporada entre nós, depois de tanto tempo fora. Como Maysa primou sempre por apresentar criações moldadas especialmente para o seu temperamento, esse LP não poderia fugir à regra, assim como também o seu programa, no qual vocês terão oportunidade de ver uma Maysa completamente realizada artisticamente. E se compararmos esse disco ao seu primeiro, teremos a exata impressão de que ela está começando tudo outra vez, tal a beleza com que está cantando e dizendo aquelas coisas, com aquele desejo enorme de transmitir, como só ela sabe fazer.
Todos os números constantes desse LP fazem parte dos três primeiros programas já gravados, e que contam com a equipe dirigida por Abelardo Figueiredo, também grande responsável pela volta de Maysa ao cenário artístico. Aqui vai a relação de músicos e maestros que tiveram participação mais direta nessa produção, pois aparecem com Maysa na televisão:
Na Fantasia de Cellos, composta de três músicas / PRIMAVERA / EURÍDICE / e / CANÇÃO DO AMANHECER / estão 10 cellos da Sinfônica e Filarmônica de São Paulo, com o solo de Corazza, e, nos violinos, o solo de espala Gino Alfonsi, e a harpa de Elza Guarnieri. Arranjos de Chico de Moraes.
Para a Fantasia de Trombones, composta por LUANDA / DEMAIS / UM SUSSURRO DE MEU MUNDO CAIU / I'M GETTING SENTIMENTAL OVER YOU / e PRECISO APRENDER A SER SÓ / vieram especialmente do Rio de Janeiro, os irmãos Maciel e Lira, além de Bill e Toucinho, de São Paulo. Arranjos de Erlon Chaves.
Em / TRISTEZA / Maysa nos demonstra a sua versatilidade, cantando essa música de carnaval, acompanhada pela Escola de samba do Salgueiro. Participação de Menescal.
Em / NE ME QUITTE PAS / e / AS MESMAS HISTÓRIAS / acompanha o magnífico solo de violino de Elias Slom. Arranjos de Chico de Moraes.
Temos ainda uma nova composição de Maysa, / CANÇÃO SEM TÍTULO / com arranjo de Erlon Chaves; / CANTO LIVRE / música que abre o primeiro programa na televisão; e / MORRER DE AMOR / que a cantora considera uma das coisas mais sérias da atualidade.
Essas duas são também arranjos de Chico de Moraes.
Por fim, o já famoso / CANTO DE OSSANHA / que, no programa, conta com o ballet de Mercedes Batista. Arranjo de Erlon Chaves.
Eis portanto o novo LP de Maysa, na sua estreia, com a RCA VICTOR, produzido pela Guelmay.
Parabéns a todos nós, obrigado a Maysa, a Abelardo Figueiredo e principalmente à RCA VICTOR, por mais esse grande presente musical que nos oferece."

Roberto Corte Real

23 de outubro de 2012

Maysa está na área do dólar - Diário da Noite (22/08/1960)


Maysa está na área do dólar


Maysa entrou na área do Dólar, como cantora. Após longa ausência (mais de um mês), regressou ontem à tarde, num Super-H da Real, procedente de Tóquio e de algumas cidades norte-americanas, trazendo um cãozinho, “Talismã”, que lhe custou nos Estados Unidos, 250 dólares, e que tem dado sorte à sua dona, desde que ela o adquiriu.
Foi somente depois de comprar “Talismã”, que Maysa assinou contrato de três anos com uma organização norte-americana, que lhe proporcionará vultoso cachê. Sua primeira temporada artística nos “States”, durará três meses e está prevista para breve. Maysa, por isso, voltou feliz e consciente de que penetrou mesmo na área do Dólar, trouxe um novo secretário.

Chegou ontem dos “States” – assinou contratos fabulosos – passou pelo Rio rumo a São Paulo

· Viagem cara

O rapaz é brasileiro com forte sotaque norte-americano. Ela o descobriu nos Estados Unidos, onde ele residia a cerca de dez anos. O novo secretário mostrou-se desembaraçado, durante as negociações de Maysa com o Blue Angel, onde ela atuará brevemente (Nova York) e foi logo contratado pela cantora. Maysa, o secretário e Talismã, não se demoraram, ontem à tarde no Galeão: estavam em trânsito para São Paulo.
A viagem de Maysa (partiu de São Paulo dia 5 de julho) foi das mais dispendiosas: gastou desde o dia de sua partida mais de Cr$ 1 milhão e meio – mas isso não a deixa triste:
-         O contrato que obtive com o Blue Angel compensará perfeitamente esses gastos e ainda vai sobrar alguma coisa – disse ela ao DN.

· “Globe-Trotter”

jamais artista algum brasileiro cumpriu tão estranho e longo programa, em tão curto tempo, quanto Maysa. Senão, vejamos: ela partiu dia 5 de julho, rumo a Tóquio, no vôo inaugural da linha da Real entre o Brasil e o Japão. Depois de alguns dias de permanência em Tóquio, resolveu “dar um pulinho” (36 horas de vôo) a Nova York, para tratar, com o seu empresário, uma temporada nos “States”. Demorou-se 43 horas e regressou a Tóquio, para cumprir programa na TV. Neste vai-e-vem de 72 horas, escalou duas vezes no Alasca e “pousou” menos de dois dias em N.Y.
Findo o contrato com a TV Japonesa, embarcou em Tóquio no Super-H da Real (que trouxe seus companheiros de viagem inaugural), mas interrompeu o vôo em Los Angeles. Dali foi a Las Vegas – e retornou a Los Angeles. Tomou um jato e desceu em Nova York, onde ultimou as negociações iniciadas em sua viagem-relâmpago de dias anteriores.

· Volta ao Rio

Maysa voltará a atuar nas Emissoras Associadas do Rio, Porto Alegre e Belo Horizonte, e nas Emissoras Unidas de São Paulo durante só três semanas, porque já no dia 15 de setembro estará estreando em Montevidéu, numa temporada de 15 dias. Na sua curta permanência em nosso país antes de partir para o Blue Angel em Nova York, cantará ainda em Salvador, Recife, Campina Grande e João Pessoa.
Esta semana, a intérprete de “Meu Mundo Caiu” cantará amanhã em Belo Horizonte, quarta-feira em São Paulo, quinta-feira em Porto Alegre, sexta na TV Tupi e na rede Tupi-Mayrink, no Rio. Portanto, a viagem de Maysa continua, desta feita, entre nós. E suas crônicas para o DN refletirão as impressões da artista dos lugares onde ela estiver. 


11 de outubro de 2012

Maysa sem pressa - Correio da Manhã (08/03/1969)


Maysa sem pressa


Luís Carlos Sarmento · Fotos: Manuel Gomes

- Não tenho mais pressa de viver

Enquanto ela falava, parecia sentir tristeza de seu próprio olhar. Aquilo que ficou de um mito pré-fabricado. Precisamente Maysa que surgiu de Maysa.
Desta vez, o papo foi no apartamento da Rua Bolívar, em Copacabana, que ela alugou por uma temporada de seis meses. Tem telefone, mas ela ainda não decorou o número. Nota-se o seu abafamento. Além de estar preparando um programa para a TV (é a TV Tupi e o produtor é Carlos Alberto (Loffler), seu amigo “antigo do futuro”) ela ensaia também um show para a Boate Sucata que deve estrear no dia 29 de abril.
- O nome do show será Maysa, nada de Maysa voltou ou coisa parecida. Acho ruim demais. Porque volta se eu sempre estive aqui?
O apartamento é grande e Célia, a empregada, vem com a bandeja do café. E diz que está bom.
- Cheguei com uma paciência ilimitada. Você sabe o que é uma paciência ilimitada? Pois é. Aquela eterna briga que existia dentro de mim já não existe mais. Aprendi a ter carinho comigo mesma. Estou mais coerente comigo. Passei a me aceitar. É difícil. Mas eu me aceito. Hoje eu já escuto os meus próprios diálogos. Repito: os aceito. Aprendi a ter respeito humano.
O café acabou, e ela continua:
- Maysa antiga era uma criança caprichosa, voluntariosa, inconsequente, que os outros descobriram antes de mim. Engraçado, todos me conheciam, ou melhor, conheciam Maysa. Menos eu. Eu não me conhecia. Não me davam oportunidade de me conhecer. Quer ver um fenômeno? Quando eu passava e via cartazes em portas de boates anunciando Maysa eu me perguntava: quem é essa de que tanto falam? Eu não me conhecia.
Lá na outra sala, ouve-se a voz dela no gravador. “Tarde Triste”.
- É a música que mais gosto. Fiz. Não tenho mais físico para cantar “Meu Mundo Caiu”. Coisas de uma Maysa antiga. Não aguento mais. Obrigavam a uma Maysa a seguir uma linha sem reta. Pré-fabricação pura. Hoje não tenho mais aquela pressa que me exigiam. Não tenho mais pressa de viver. Aprendi a ver as horas... Compreendi que o amanhã vai nascer com uma manhã linda de sol. De sol ou de chuva. Mas tenho certeza que vai nascer um amanhã. E isto é importante. Quero viver com calma. Quer ver os amanheceres. Sem pressa. Sem susto. Sem nada. Simplesmente.
 O telefone toca. Maysa pede licença, e se engasga com o número. Era engano. Senta novamente e pede um cigarro.
- Bem forte, daqueles mata-rato. Você tem? Não quero com filtro. Acho ótimo cigarro forte. Pra mim, “Petit-Londrino” ou “Cubanos”. É tão bom. Trago-os com amor. A propósito: foi engano. Na rua, quando eu saio, muita gente se engana comigo. Ninguém me reconhece. Que bom. Ontem na praia disseram que eu tinha os olhos idênticos aos de Maysa. Achei graça. Não disse nada. Que bom ter os olhos idênticos aos de Maysa.
Miguel, o marido, interrompe. Diz qualquer coisa, mas volta logo para a outra sala.
- Ele é ótimo. Tudo para mim agora é lindo. É bom. É lindo. Sinto saudades apenas de meu filho de doze anos que está estudando na Espanha. Está um rapagão. Mas ele virá nas férias. Por falar em Espanha, acabamos de comprar uma casa em Cascais, uma espécie de bairro perto do Estoril, em Lisboa. É linda, mas só vou pensar nela para o ano. Eu nunca sei quanto tempo vou ficar num lugar. Aqui, pretendo ficar até dezembro. Em 70 tenho muita coisa a fazer: tournée pela América do Sul, lançamento de disco na Itália e outras coisas mais. Vou ficando. Meus pais mudaram-se para o Rio. São meus vizinhos.
Célia volta para apanhar a bandeja e Maysa aproveita para dizer:
- Ela é uma boa amiga que eu tenho. Cozinha bem. Eu lá fora emagreci 28 quilos. Mas logo que cheguei aqui ataquei de feijão com arroz, farinha e carne seca durante uma semana. Não aguento mais de saudades.
E música. O que você achou ou está achando do que se tem feito?
- Você não entendeu que eu procurei fugir desse papo? Não quero falar. Sinto-me um pouco desatualizada. Mas posso perceber que o que estão fazendo em matéria de música não é autêntico. Não é música brasileira. Não é puro. Vi muita confusão. Vi gente atacando gente sem se preocupar com o principal que é compor. Produzir. Criar. O importante é criar. Vejo muita confusão. Atacam a Bossa Nova. Porque? Que mal fez ela? Uma coisa eu digo: o que anda por aí nunca foi música brasileira. Nem aqui e nem na África. É confuso, entende?
- E o público?
- Não sei como o público vai me receber. De uma coisa estou certa: estou imune e com muita paciência para aturar tudo. Paciência até demais. Outro dia um colunista escreveu: “Maysa voltou sóbria mas não sabe até quanto tempo ficará sóbria.” Ora, isto é para qualquer um arrumar as malas e voltar. Para nunca mais aparecer. Talvez em outros tempos eu fizesse isto. Agora não. Sou outra. Quero ser entendida da mesma forma como procurei entender-me. 


1 de outubro de 2012

IV Festival Internacional da Canção (1969)


IV FIC 


Realizado pela Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara com o apoio da Rede Globo de Televisão (então TV Globo), a IV edição do Festival Internacional da Canção se realizou entre os meses de setembro e outubro de 1969, mais uma vez no Estádio do Maracanãzinho, na cidade do Rio de Janeiro. Apesar do sucesso retumbante das edições anteriores, o IV FIC foi uma das piores edições do Festival Internacional da Canção – o formato já começava a dar sinais de desgaste, e a decadência da Era dos Festivais.

Como a maioria dos grandes intérpretes e compositores das edições anteriores – Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil – haviam partido para o exílio, o IV FIC sofreu muito com a qualidade musical das canções inscritas na edição. Somado a isso, o endurecimento da Ditadura Militar no Brasil impunha uma certa censura ao festival. O temido AI-5 fora imposto pelo regime no ano anterior, e o ano de 1969 já vira a imposição de mais de cinco outros Atos Institucionais. Portanto, a IV edição do festival teve inscrições bem menores de canções de protesto. Além disso, vários convidados internacionais recusaram participar do festival, ou então cancelaram a vinda em cima da hora. Como foi o caso do Beatle George Harrison, que anunciou que não viajaria a um país onde o embaixador norte-americano – Burke Elbrick, acabara de ser seqüestrado por um grupo militante de esquerda. Sendo assim, o organizador do festival – Augusto Marzagão, temia um fracasso retumbante.

Marzagão foi pessoalmente à casa de Maysa, convence-la à participar da IV edição do festival, para isso, usou de um argumento tentador: a cantora seria homenageada pela direção do festival. O Troféu Galo de Ouro para o melhor intérprete da fase nacional receberia justamente o nome de Troféu Maysa Monjardim. Ela, que havia jurado nunca mais participar de um outro festival, acabou aceitando. Naquela época, o nome de Maysa andava muito em alta, a cantora era bem apreciada pela mídia e fazia grande sucesso de público. Portanto, seu nome serviria mais como uma tentativa de chamar atenção do público para o festival, numa edição carente de grandes nomes e aparições.

Não deu outra, seu nome foi um dos mais bem cotados do festival, e a música “Ave Maria dos Retirantes” foi logo apontada como uma das favoritas. A excelente canção da dupla de baianos Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo, era de longe uma das de maior qualidade da edição. A temática de seca e imigração era inédita do repertório de Maysa, um atraente ao público, acostumado com as canções românticas da cantora. E mostrava um Maysa mais madura e segura de si, sem medo de experimentar o novo.

E foi assim, como favorita do IV FIC, que Maysa subiu ao palco do Maracanãzinho no dia 27 de setembro de 1969, para cantar “Ave Maria dos Retirantes”, com arranjo do tropicalista Rogério Duprat. Entre os outros destaques da edição, estavam Os Mutantes defendendo “Ando Meio Desligado”  (Arnaldo Batista/Rita Lee/Sérgio Dias),  Jorge Ben & Trio Mocotó com “Charles, Anjo 45” (Fritz Escovão/Nereu Gargalho/Joãozinho Paraíba) e Beth Carvalho cantando “O Tempo e o Vento” (Jorge Omar/Billy Blanco). O IV FIC contou ainda com a participação de Cláudia com o Quarteto Fórmula 7 – “Razão de Paz Para Não Cantar”, Marcos Valle – “Beijo Sideral”, Golden Boys – “Minha Marisa”, MPB-4 – “Minha Marisa” e Egberto Gismonti – “Mercador de Serpentes”.

Foi um festival sem brilho, sem muitos destaques, sem concorrência e que deixou muito pouco à que se recordar. A vaia permaneceu como a principal instituição do Festival Internacional da Canção. Na IV edição, ela coube a Jorge Benjor (ainda Jorge Ben), que cantou “Charles, Anjo 45” com o Trio Mocotó. Mas, a chuva de apupos só não foi maior que aquela que o estreante Jards Macalé recebeu quando cantou a atípica “Gotham City”, vestido num traje de gosto duvidoso, que fazia alusão ao herói Batman.

Passadas as duas eliminatórias, a final da fase nacional deu-se em 28 de setembro. “Ave Maria dos Retirantes” ficou em oitavo lugar na final nacional, um resultado bem abaixo do esperado. A fase nacional fora vencida por “Cantiga por Luciana” (Edmundo Souto/Paulinho Tapajós), interpretada pela cantora Evinha, que também ganharia a disputa internacional do festival. Maysa não gostou nenhum pouco, saiu ressentida e bradou: “É absurdo que a música brasileira, em seu estágio atual, tenha regredido a ponto de uma música como ‘Cantiga por Luciana’ ficar em primeiro lugar. Isso é a pior coisa que o Paulinho Tapajós já fez na vida. E este FIC não serviu pra porcaria nenhuma.” Contudo, o IV FIC não foi de todo ruim, e serviu para mostrar uma nova faceta de Maysa – agora, mais ousada. O que mais chamou mesmo a atenção do público, foi o figurino usado pela cantora. Um vestido com o busto feito de tecido transparente, que deixou seus seios quase à mostra. Numa das fases mais bonitas de sua vida, então com 33 anos, Maysa arrancou muitos suspiros e zooms das câmeras de televisão.

A fase internacional, foi tão insossa quanto a primeira. Com quarenta países representados, também foi vencida por Evinha, com “Cantiga por Luciana”. Um dos poucos grandes momentos do festival, foi à apresentação de “Love is All” (Lês Reede/Barry Mason), por Malcolm Roberts – cantor com pinta de galã, representante da Inglaterra. Num momento verdadeiramente emocionante, o cantor levantou o Maracanãzinho num coro de 30 mil pessoas, interpretando uma canção absolutamente romântica. Malcolm Roberts ficou em terceiro lugar na classificação da final internacional do IV FIC. E mais uma vez, o resultado não agradou nem a gregos, nem a troianos.









24 de setembro de 2012

Maysa julgada pelos próprios artistas - Revista do Rádio (1959)

Maysa julgada pelos próprios artistas


Aqui estamos, mais uma vez, com um “julgamento” de artista. Em que o júri é todo, também, de astros e estrelas do rádio e da TV. Não há “crime”, apenas as opiniões de gente famosa, analisando um aspecto da carreira ou particularidade de alguém do seu próprio meio. Razões para suscetibilidades? Nenhuma. Porque, inteligente e sensato, o artista sabe que todos lhe querem bem. E que não seria esse “julgamento” que iria torna-lo menos querido de todos. Por isso mesmo, Maysa não ficará zangada quando os colegas respondem a esta indagação:

Os acontecimentos da vida particular de Maysa prejudicam seu prestígio artístico?

Paulo Gracindo


-         Não, não acredito. Haja visto, que Elizabeth Taylor, com uma vida particular muito pior, até agora não foi prejudicada. Maysa tem personalidade demais e se sobrepõe a isto tudo. Parece até que melhoram suas composições e interpretação.

Julie Joy


-         Não, não prejudicam, muito ao contrário. Ela é cada vez mais popular, vende mais discos, etc. Acho até que Maysa faz tudo isto deliberadamente com o fim de conseguir maior publicidade e maior divulgação. Até agora ainda não falhou...

Ivon Curi


-         Eu gosto demais de Maysa, mas reconheço que ela não procura se fazer simpática ao público. Ela não se preocupa com o que possam pensar a seu respeito e a falta de cumprimento de certos compromissos, prejudicam seu prestígio.

Bibi Ferreira


-         Aqui no Brasil parece que não prejudica. Na Europa, e principalmente em Portugal, o caso é diferente, mas manda a verdade que se diga, que lá os fãs se ocupam muito é com as atividades artísticas, somente.

Ângela Maria


-         Prejudica a Maysa como prejudica a qualquer outra cantora, que faça a mesma coisa que ela faz, sem refletir no que possa acontecer com sua carreira artística. A vida particular do artista é uma das coisas que mais o público se preocupa.

José Vasconcelos


-         Absolutamente. Uma coisa independe completamente da outra. Para ela foi uma publicidade positiva. Agora, se ela fosse uma péssima cantora ou sem personalidade, a divulgação dos fatos de sua vida particular poderiam prejudica-la.

Dóris Monteiro


-         Não, não acho. Porque ninguém tem nada a ver com a vida particular de Maysa e sim com a sua vida artística. Os escândalos que inventam apenas podem prejudica-la perante os que não a  conhecem bem.

Marlene


-         Poderão afetar um pouco, se bem que ninguém tem nada a ver com a vida particular dos outros. Se Maysa corresponder artisticamente ao público, sua vida particular – esta é a minha opinião – não afetará nunca seu prestígio artístico.

Vera Lúcia


-         A publicidade em torno da vida pública de um artista às vezes ajuda a projetar o seu nome, como foi o caso do principio da carreira de Maysa. Mas, a publicidade em torna de sua vida particular, vai fatalmente prejudica-la.

Sylvinha Telles


-         Acho que Maysa tem um grande valor como cantora e como compositora, por isso não posso compreender, que ela permita que sua carreira seja prejudicada por faltas a compromissos e por publicidade em torno de sua vida particular.

Dolores Duran


-         Não acredito que isso possa acontecer, em absoluto. Ao público o que interessa realmente é que a artista cante bem. Enquanto ela puder cantar e compor com agrado, o público a aceitará de qualquer forma.

Carminha Mascarenhas


-         Absolutamente, pois foi o que mais deu oportunidades à ela. Acho que Maysa está certa, porque faz tudo com simplicidade, sem qualquer fim deliberado e não está buscando conseguir publicidade. Às vezes desvirtuam as suas boas intenções.

Ary Barroso


-         Acho que não, porque apesar de tudo o que aconteceu com ela, continua sendo uma grande estrela. Isto deve ser porque ela é uma grande artista e compositora, do contrário a publicidade negativa que tem recebido já a teria derrubado.

Neuza Maria


- Acho Maysa uma grande cantora, com uma bela e grande personalidade. Na minha opinião ela não precisava de escândalo para vencer. Ela apareceu assim, e as “ondas”, em vez de a prejudicarem, aumentam ainda mais seu cartaz.



Originalmente publicado na Revista do Rádio, em 1959.

27 de agosto de 2012

Maysa chega ao Rio de Janeiro vinda de São Paulo - Última Hora (05/04/1959)


Desembarque de Maysa no aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro, vinda de São Paulo.

Fotos de J. Gomes































Data: 05/04/1959
Acervo: Arquivo Público do Estado de São Paulo.