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Relembramos hoje as últimas
gravações conhecidas de Maysa, registradas pela Som Livre em 1975, e que
permaneceram esquecidas até 2012. Em 1974, Maysa gravou seu último álbum, do
qual já se falou aqui recentemente. Lindo e pouco reconhecido. Nos dois anos
restantes que Maysa teve antes de partir, fez shows, fez música, cantou na
televisão, mas não gravou mais nada. Assim se pensava até o ano de 2012, quando
o produtor Rodrigo Faour resgatou o seu último e raríssimo compacto simples
lançado pela Som Livre em 1975.
No lado A, Maysa gravou a letra
que tinha escrito para o tema de abertura da novela Bravo!, composto pelo
maestro Júlio Medaglia para a telenovela das sete de Janete Clair, que estreou
em 16 de junho de 1975. Até ali, o público já havia escutado aquela canção ao
menos uma vez, quando Maysa cantou a sua criação mais recente acompanhada de
grande orquestra, no Fantástico da TV Globo, em cores. A versão em estúdio soou
muito mais modesta do que aquela ao vivo. Pela segunda vez consecutiva e igual
ao Tema de Simone quatro anos antes, uma música que Maysa fazia para as novelas
da Globo não era inclusa nos álbuns lançados com as trilhas sonoras pela Som
Livre.
No lado B, uma releitura
supersensível de Ouça, um dos seus maiores sucessos, lançado quase vinte anos
antes, mas sem o mesmo brilho da criação original. Curiosamente, cerca de um
ano depois do lançamento do compacto com Bravo!, Maysa voltaria às paradas de
sucesso através de uma outra novela da sete da Globo, Estúpido Cúpido, que incluiria
Meu Mundo Caiu como um dos principais temas sonoros da novela ambientada no fim da década de 1950.
Ainda que se trate de uma
gravação lançada sem divulgação e com pouquíssima ou nenhuma repercussão
(certamente foi impressa uma pequena e única tiragem, apenas para cumprir o
contrato), estranha o fato desse compacto da Som Livre nunca ter sido sequer
mencionado numa das biografias de Maysa escritas nos anos 2000. Só com o
lançamento do CD Super Divas – Maysa, produzido por Faour na EMI, em 2012 – dedicado
às pérolas do cancioneiro de grandes personalidades femininas da música popular
brasileira – as últimas gravações de Maysa em estúdio foram lançadas
remasterizadas, mas sem nenhum detalhe de sua produção em 1975.
Apesar da pouca divulgação do lançamento original (1975) – visto que, de fato, ela não era ouvida na novela, é possível que o compacto tão tenha satisfeito Maysa. Em sua última entrevista, concedida em novembro de 1976, em Curitiba, ao jornalista Aramis Millarch, ela declarara que o uso excessivo de cordas (ex: violinos, violoncelos) na instrumentação de uma obra musical atrapalha; uma possível referência seu último trabalho em disco – o compacto de Bravo!/Ouça. Basta comparar essa versão de Ouça com a rendição ao vivo, acompanhada de Paulo Moura e trêsmúsicos na TV Cultura, em novembro do mesmo ano de 1975, para entender o que Maysa estava falando. O jeito de Maysa cantar em 1975, não era igual ao que ela cantava em 1957 quando gravou Ouça pela primeira vez. Na regravação, o arranjo de Ouça foi tão fidedigno à versão de 1957 que deixou a gravação soando antiquada; muito inferior à recriação no programa Ensaio, aonde a solidão enorme do eu lírico contagia numa roupagem instrumental intimista. Também é possível que ela possa ter renegado o lançamento como já indicava ter feito com a música tema de Bravo!, durante uma entrevista coletiva antes da estreia do show na boate Igrejinha, ainda em novembro daquele ano, quando se recusou a falar dessa música. Esse comportamento era um efeito do fim do relacionamento de Maysa com o ator Carlos Alberto, protagonista de Bravo! e provável “alvo poético” da letra que ela fizera. E essa já era a segunda música de Maysa associada a ele; a primeira fora a quinta faixa do lado 1 do LP lançado um ano antes – Não é Mais Meu – que ela declarara ter feito como um carinho ao ator. Além dela e de Bravo!, Maysa veria nascer ainda uma nova música feita com Julio Medaglia – seu novo parceiro musical e afetivo – a seresta Nós, que ela não teve tempo de gravar em estúdio.
Para ouvir as músicas do compacto clique aqui e aqui.

