29 de dezembro de 2025

As últimas gravações de Maysa (1975)

 



    Relembramos hoje as últimas gravações conhecidas de Maysa, registradas pela Som Livre em 1975, e que permaneceram esquecidas até 2012. Em 1974, Maysa gravou seu último álbum, do qual já se falou aqui recentemente. Lindo e pouco reconhecido. Nos dois anos restantes que Maysa teve antes de partir, fez shows, fez música, cantou na televisão, mas não gravou mais nada. Assim se pensava até o ano de 2012, quando o produtor Rodrigo Faour resgatou o seu último e raríssimo compacto simples lançado pela Som Livre em 1975.

    No lado A, Maysa gravou a letra que tinha escrito para o tema de abertura da novela Bravo!, composto pelo maestro Júlio Medaglia para a telenovela das sete de Janete Clair, que estreou em 16 de junho de 1975. Até ali, o público já havia escutado aquela canção ao menos uma vez, quando Maysa cantou a sua criação mais recente acompanhada de grande orquestra, no Fantástico da TV Globo, em cores. A versão em estúdio soou muito mais modesta do que aquela ao vivo. Pela segunda vez consecutiva e igual ao Tema de Simone quatro anos antes, uma música que Maysa fazia para as novelas da Globo não era inclusa nos álbuns lançados com as trilhas sonoras pela Som Livre.

    No lado B, uma releitura supersensível de Ouça, um dos seus maiores sucessos, lançado quase vinte anos antes, mas sem o mesmo brilho da criação original. Curiosamente, cerca de um ano depois do lançamento do compacto com Bravo!, Maysa voltaria às paradas de sucesso através de uma outra novela da sete da Globo, Estúpido Cúpido, que incluiria Meu Mundo Caiu como um dos principais temas sonoros da novela ambientada no fim da década de 1950.

    Ainda que se trate de uma gravação lançada sem divulgação e com pouquíssima ou nenhuma repercussão (certamente foi impressa uma pequena e única tiragem, apenas para cumprir o contrato), estranha o fato desse compacto da Som Livre nunca ter sido sequer mencionado numa das biografias de Maysa escritas nos anos 2000. Só com o lançamento do CD Super Divas – Maysa, produzido por Faour na EMI, em 2012 – dedicado às pérolas do cancioneiro de grandes personalidades femininas da música popular brasileira – as últimas gravações de Maysa em estúdio foram lançadas remasterizadas, mas sem nenhum detalhe de sua produção em 1975.

    Apesar da pouca divulgação do lançamento original (1975) – visto que, de fato, ela não era ouvida na novela, é possível que o compacto tão tenha satisfeito Maysa. Em sua última entrevista, concedida em novembro de 1976, em Curitiba, ao jornalista Aramis Millarch, ela declarara que o uso excessivo de cordas (ex: violinos, violoncelos) na instrumentação de uma obra musical atrapalha; uma possível referência seu último trabalho em disco – o compacto de Bravo!/Ouça. Basta comparar essa versão de Ouça com a rendição ao vivo, acompanhada de Paulo Moura e trêsmúsicos na TV Cultura, em novembro do mesmo ano de 1975, para entender o que Maysa estava falando. O jeito de Maysa cantar em 1975, não era igual ao que ela cantava em 1957 quando gravou Ouça pela primeira vez. Na regravação, o arranjo de Ouça foi tão fidedigno à versão de 1957 que deixou a gravação soando antiquada; muito inferior à recriação no programa Ensaio, aonde a solidão enorme do eu lírico contagia numa roupagem instrumental intimista. Também é possível que ela possa ter renegado o lançamento como já indicava ter feito com a música tema de Bravo!, durante uma entrevista coletiva antes da estreia do show na boate Igrejinha, ainda em novembro daquele ano, quando se recusou a falar dessa música. Esse comportamento era um efeito do fim do relacionamento de Maysa com o ator Carlos Alberto, protagonista de Bravo! e provável “alvo poético” da letra que ela fizera. E essa já era a segunda música de Maysa associada a ele; a primeira fora a quinta faixa do lado 1 do LP lançado um ano antes – Não é Mais Meu – que ela declarara ter feito como um carinho ao ator. Além dela e de Bravo!, Maysa veria nascer ainda uma nova música feita com Julio Medaglia – seu novo parceiro musical e afetivo – a seresta Nós, que ela não teve tempo de gravar em estúdio.

    Para ouvir as músicas do compacto clique aqui e aqui.