15 de outubro de 2010

Coluna: Música da semana

"Molambo"



Autores: Jayme Florence / Augusto Mesquita
LP: Ando Só Numa Multidão de Amores (1970)

Análise:
“Eu sei que vocês vão dizer que é tudo mentira, que não pode ser / que depois de tudo o que ele me fez , eu jamais deveria aceita-lo outra vez.”
“Molambo” foi o maior sucesso de Jayme Florence e Augusto Mesquita e na voz de Maysa atinge a plenitude da interpretação. Lançada por Elizeth Cardoso em 1953 com enorme êxito, também ficaria marcada na voz de Cauby Peixoto, como um dos maiores sucessos dos nostálgicos Anos 50. E é justamente na voz de Maysa que “Molambo” tem sua melhor interpretação. Planejado para o nostálgico álbum Ando Só Numa Multidão de Amores de 1970, Maysa resgata a canção dos Anos Dourados para a abertura do disco.
“Molambo” foi uma música extremamente ousada para época. Não por tratar de tabus ou polêmicas, mas por expor a coragem da personagem de forma tão clara e sem rodeios, numa época em que a sociedade brasileira era mergulhada na hipocrisia e dominada por pseudoverdades pré-fabricadas. Lê-se isso muito claramente nos versos da canção, em que a personagem (já sabendo) dá de ombros aos comentários alheios e não se importa com a expiação pública ou com qualquer tipo de reprovação.
A introdução de violinos, por si só já é magnífica, mas não há nada melhor do que ouvir a interpretação sensual e provocante (à flor da pele), da voz cálida e rouca de Maysa consumindo aqueles versos “Pensei e assim procedendo / me exponho ao desprezo de todos vocês / lamento mas fiquem sabendo / que ele voltou e comigo ficou.”  Ela se rasga e se consome numa explosão de emoção, levando a boca todos os sentimentos escritos naquela letra, em uma explosão de paixão, dor, sensualidade e ardor.
Maysa nos revira com a loucura e a dor da mulher abandonada pelo amado. Ultrajada, revoltada e machucada, porém, eternamente apaixonada pelo homem que a abandonou, mas – para o bem ou para o mal – ela ainda o ama e esse é o seu grande dilema. Mas de repente (não mais que de repente) ele volta, volta para impedir que a loucura a tome por completo. Ela ignora, se expõe e se entrega “Ficou pra impedir que a loucura fizesse de mim um molambo qualquer / ficou desta vez para sempre / se Deus quiser.”

“Eu sei que vocês vão dizer...”

3 comentários:

  1. essa muisca além de bem arranjada, belíssimo, é bem ousada...Só Maysa teria a audácia de canta-lá, nao se importando com críticas ou "cara feia"... Pois só diz o que pensa, so faz o que gosta e aquilo que crê!!!!!
    bjossssss

    ResponderExcluir
  2. Aiaiai, Vitor é apaixonado pelo disco de 70 (rsrsrs). Não tem como não gostar esse disco é lindo de cabo a rabo. Ótimo trabalho do blog, continue assim *_____*.

    ResponderExcluir
  3. Obrigado pessoal!
    Maysa não teve nenhuma "audácia" de canta-lá, o que é interessante, é a coragem e um estilo arrojado da letra da canção para a época.

    ResponderExcluir