28 de outubro de 2013

Imprensa: Maysa estreia no Blue Angel - Diário da Noite, 31/10/1960


Maysa estreia no Blue Angel


NOVA IORQUE, 31, (de João Rezende, pelo telefone) – As colunas especializadas dos jornais nova-iorquinos abrem espaço, hoje, para noticiar a estreia, logo mais, na boate “Blue Angel” da cantora brasileira Maysa Matarazzo. Há grande expectativa entre o público: mesas foram reservadas por antecipação e a boate, horas antes da estreia da nossa cantora está com a lotação esgotada.

Nos seus comentários sobre o “debut” de Maysa, os colunistas se referem ao seu jeito manso de cantar, aos seus olhos grandes e tristes, à nostalgia que se desprende de suas canções – e salientam que este será um espetáculo diferente dos que costumam apresentar aqui, artistas brasileiros.

Não se trata de puro exotismo, de balangandãs, e chapéus enfeitados com bananas – mas de uma cantora de fama internacional, dentro do estilo norte-americano mas nem por isso sem perder as suas qualidades brasileiras. “Teremos o outro lado do samba, o samba triste” – dizem as colunas.

ESTÁ COM TUDO

Ao chegar a Nova York muito bem disposta, Maysa foi surpreendida com a longa programação que lhe reservaram. Seu contrato que era de três meses, já se estende por oito e provavelmente será cumprido também um giro pelas principais capitais da Europa.

A cantora “associada” e colunista do DN desembarcou de um avião das Aerolíneas Argentinas. Estavam a espera vários membros da colônia brasileira, que logo mais estarão no Blue Angel. 


(Reportagem publicada originalmente no DIÁRIO DA NOITE, em 31 de outubro de 1960)

20 de outubro de 2013

Imprensa: Um ano sem Maysa - Revista Manchete, 1978


Um ano sem Maysa



Uma jornalista uruguaia recorda momentos de ternura e angústia da cantora de Ouça. E fala da sua última carta, recebida no dia do desastre que a matou

Texto de Sara Tinsky · Fotos MANCHETE

“Não quero morrer. Apesar de tudo, eu gosto da vida”, disse Maysa, em sua última entrevista para a TV, em janeiro de 1977, dias antes de se despedaçar com seu carro num desastre. Viajava sozinha para seu refúgio na praia de Ponta Negra, em Maricá, RJ. Levava no carro uns discos de Frank Sinatra e Chico Buarque e sua esperança de recomeçar tudo. Havia escrito: “Vou ser avó exatamente quando desejo ser mãe de novo. Terei amadurecido aos 40?”
Pelo menos, parecia ter acabado de se construir e fixar raízes no chão, deixando de ser aquela mulher que eu conheci em Punta Del Leste, imensa, toda de negro, só olhos (“dois oceanos não pacíficos”, segundo Manoel Bandeira). Em 1961, voltando ao Uruguai, ela acabou por descobrir que eu a seguia – como se segue um mito –, ouvia todas as suas audições e era autora de uma carta tão carinhosa que se tornara ríspida. Caiu nos meus braços no estúdio de televisão: “Só sou amarga quando noto a falta de afeto. Se encontro o carinho, como ousaria ser agressiva?”
No fim das suas apresentações, Maysa gostava de dizer: “Parei de cantar, para continuar vivendo.” E apesar de não conseguir ser livre, de lutar contra tudo e principalmente contra si mesma – “De 58 a 63 minha vida foi um pileque só” –, esforçava-se para só cantar o que queria. Tinha coragem de acreditar no sofrimento e, se fosse necessário, de preferi-lo ao tédio. “Sempre sofri e continuo sofrendo. Mas agora aprendi o valor de cada coisa.”
Seus inimigos a acusavam de viver entregue à autopiedade. De procurar em seus seguidos romances após o casamento fracassado um homem que não existia, um ser mitológico, um escudo contra a gordura, a feiúra imaginária e a sede avassaladora. Mas foi ela mesma quem declarou: “A mulher livre, quando ama, só usa a sua liberdade para defender o amor.” Era tão desassombrada que parecia desaforada. Atreveu-se a se apresentar na Europa para público tão exigente quanto o do Olympia. Teve coragem de ser jurada de programa de televisão, de gravar com jovens, de subir ao palco carioca usando uma capa de vison quando o vison significava o passado Matarazzo – e personagens desse passado estavam na plateia, com diamantes verdadeiros e senso crítico talvez falso. Prontos para julga-la. Ela saiu, coberta de flores.
Quando um dos seus discos foi lançado, em 1974, ela me mandou dois exemplares para o Uruguai. Temia que um deles se quebrasse e tinha essas crises de delicadeza: “Se um deles se perder, você fica com o outro.”
Nesse disco estava o arrastado e doente Você Abusou. Maysa achava que o cantava com toda a sua hipersensibilidade, “a sensibilidade da fera que não é bela”. Para ela, belos eram os outros: Miguel a quem amou, o filho Jayme para quem cantava Dindi e até Carlos Alberto, com quem partilhou seu último esconderijo, a casa branca de Ponta Negra, diante do mar aberto. Em 1975, nós nos encontramos outra vez e Maysa parecia ter vencido definitivamente a bebida e a gordura.
Começou logo a me dar notícias e ordens, sorria, mudava de humor a cada 10 minutos, falava de suas poesias inéditas, estava decidida a trabalhar em telenovela, em teatro, em tudo. E, um tanto pateticamente, me recomendou: “Cuidado para ninguém parar no bar.”
Realmente os fantasmas de Maysa eram compulsivos. Por isso é que, em cada uma de suas canções, ela parecia defender a própria vida. Quando estendia a mão, dava a ideia de se atirar inteira em busca do apoio tão difícil. Um pouco como na letra daquela canção que ela cantava: “Vai lembrar de alguém/Que só carinho pediu/E você fez questão de não dar/Fez questão de negar”...
Maysa me mandou sua última carta em 16 de dezembro de 1976. Por coincidência só me chegou no dia 22 de janeiro de 77, quase na hora em que, rumo a Maricá, ela começava sua última viagem.




(Matéria publicada originalmente na Revista MANCHETE, em 1978)

7 de outubro de 2013

Imprensa: Maysa Matarazzo recebe - Radiolândia, 1957


Maysa Matarazzo recebe




Fotos de HILDO PASSOS

Um simpático cocktail em homenagem a RADIOLÂNDIA representada pelo Sr. Leônidas Bastos e pela equipe paulista desta revista – a cantora vai gravar músicas de outros compositores – confissão feita com muita simplicidade: – “Cantar, para mim, faz parte do ar que respiro!”

Na penumbra do elegante apartamento da rua Rego Freitas, residência do casal Alcebíades Monjardim, pais da cantora Maysa Matarazzo., realizou-se um cocktail seguido do que um cronista social chamaria de “canja amiga”, em homenagem a RADIOLÂNDIA, que foi representada nessa oportunidade por nosso chefe de publicidade, Sr. Leônidas Bastos. Com apenas vinte anos, Maysa alcançou o que muitas pessoas levam muito mais tempo para conseguir. É uma senhora da mais alta sociedade, mãe de um belo menino chamado Jaime e começou sua carreira como cantora gravando um long-playing na RGE sob o título “Convite para ouvir Maysa”, que chamou sobre si a atenção da crítica especializada, e que lhe valeu de parte do nosso colega Jair Amorim o título de “revelação do disco” em 1956. Com um encanto todo seu, Maysa atende seus convidados, enquanto se confessa entusiasmada por conhecer compositores do quilate de um Fernando César e de um Nazareno de Brito: – tu “Aliás, meu próximo disco vai ser “Segredo”, música do Fernando César, a outra face vai ser uma composição minha intitulada “Ouça”. Vou descansar um pouco, mas deverei voltar ao rádio e a TV muito em breve. Não, ainda não sei em que prefixo. Pode dizer que adoro cantar, que sinto em mim uma vocação irresistível desde muito pequenina. Cantar, para mim, faz parte do ar que respiro! – conclui com um gesto muito expressivo de quem quer abarcar o ar que a circunda. Deixamos Maysa entregue a suas ocupações como anfitriã e passamos a anotar os nomes dos presentes a essa simpática homenagem a nossa revista. Entre outros estiveram presentes o Sr. e Sra. Jacques Netter (ele, diretor dos discos RGE), Sra. Hélio da Fonseca, Sr. Francisco Vieira, Sr. e Sra. Paulo Frontin Werneck (ele, diretor da noite Oásis), Sr. e Sra. Fernando Silva, Sr. Hugi Hager, Sr. Caio Furtado, cronista social do “Correio Paulistano”, Sr. Bob Stewart, Sr. e Sra. Aurasil Brandão Joly, Srta. Elsa Laranjeira, Sr. Agostinho dos Santos, maestro Henrique Simonetti, Sr. Fernando César, compositor e cronista da revista “Você”, Sr. Leônidas Bastos, chefe de publicidade de RADIOLÂNDIA, Sr. Nazareno de Brito, compositor e gerente da filial do Rio de Janeiro da RGE, Sr. Mário Duarte, cronista de “O Mundo Ilustrado”, Sr. Leonel Gualter, assistente da filial do Rio da RGE, Sr. Randal Juliano, Sr. Milton Salles, Sr. Osvaldo Miranda,  da RADIOLÂNDIA, “Última Hora” e “Shopping News””, do Rio, Sr. Sílvio Túlio Cardoso, de “O Globo”, Válter Silva e Sra. (ele, divulgador da RGE), Max Gold, representando o departamento de divulgação da Rádio Record no Rio de Janeiro. 


(Reportagem publicada originalmente na revista RADIOLÂNDIA, em 1957)