Há 74 anos, quase ao sol do meio-dia, ano: 1936. Há 33 anos e alguns meses, no pôr do sol, ano: 1977. Hoje, ficamos com o ano mais longínquo, mais feliz o nascimento do mito Maysa. Não esquecemos o segundo, mas quem disse que a obra vai junto com o corpo? Tudo permanecerá como sempre intacto em nossa memória, é uma sequência, dias não são apagadores, mas canetas, que podemos –ainda bem- chamar de permanentes.
Paola R.
O maior amor do mundo
Foram 40 anos de vida, 20 anos de carreira, são 54 anos de canto. Se estivesse viva, seriam 74 anos comemorados exatamente hoje. Canto, música, amor, dor, renascimento. Sim, seria essa a palavra certa, renascimento. A cada dia é um renascimento maior, Maysa vive. Para os céticos pode ser um absurdo, para os apaixonados é a pura realidade.
Renascendo a cada dia mais em seus versos, suas letras, suas músicas. Como uma fênix renascida das cinzas ela ressurge, ressurge não das cinzas, mas sim dentro de corações, dos versos, versos que falam de amor, de dor, de vida. De sentimentos profundos que as almas não ousam gritar. Pois ela grita, grita e canta para nos ensinar, ensinar tudo aquilo que parecemos saber, mas tolos, iludidos, desenganados e sofridos não sabemos, não conseguimos aprender. Idiotamente iludidos, imbecilmente enganados, não conseguimos enxergar.
Aí ela vem, vem Maysa com seu canto, seu principal estandarte, o estandarte de um amor, de amores que sofreu, de todos os amores que viveu. Pois ela sofreu, caiu, enganou-se, iludiu-se, viveu ilusão. Não suportou, foi buscar amor. obstinada, partiu, foi, buscou, aventurou-se, encontrou. Encontrou e viveu mil amores, talvez o maior amor do mundo, talvez os mais dolorosos possíveis. O fato é que amou como ninguém jamais amou, como ninguém jamais teve a coragem de amar, como ninguém jamais amaria novamente e assim, entregou sua vida para amar, de corpo e alma.
Transcendeu os limites da própria vida, do próprio físico, ultrapassou barreiras inimagináveis, lutando como uma verdadeira amazona em busca da verdadeira felicidade a cada amor, mais dor, a cada dor, mais ressurgimento, mais amor. Um amor transcendental, inconsciente, absolutamente lindo, algo feito do mais belo possível, da alegria mais profunda, da felicidade mais plena. Na música transmitia tudo o que tinha, no canto mais profundo lá estava o amor pleno, o sofrer trágico e a beleza mais decantada.
Isto não é apenas um legado inestimável, é toda e principalmente uma história, a história da mais bela da vida que viveu, de uma vida vivida plenamente no mais claro sentido da palavra intensidade. Isto tudo é Maysa. não há ensinamentos mais plenos, é toda uma vida cantada em nome do amor. Talvez ninguém entenda este texto, outros podem se emocionar. Mas só quem sente e enxerga a verdadeira Maysa pode saber o que é esta história: O maior amor do mundo.
Vitor Dirami
Setenta e quatro anos de vida
Setenta e quatro anos de vida. Sim, de vida
Imagino agora como estaria Maysa hoje, aos setenta e quatro anos, seria vovó, estaria com rugas, são inevitáveis, talvez os cabelos estivessem curtos, quem sabe loiros, acho que manteria a forma magra, mas naturalmente, sem ajuda de remédios como antigamente, uma alternativa perigosíssima; não digo que abandonaria o vício terrível dos cigarros totalmente, acredito que continuaria, mas de maneira controlada, e esporádica, lá de vez em quando pra matar a saudade... Beber, não. Isso aprendeu com a vida, e com a pastilha de antabuse; lógico que a pastilha já não teria mais efeito, mas a lição de determinação que ficou em Maysa, seria para sempre. Acho que hoje estaria vivendo uma vida tranqüila, longe do mundo que não a interessasse. Talvez tivesse se acostumado com o novo ritmo de maricá, e ficado por lá mesmo, ou senão, quem sabe, ido a algum outro lugar mais calmo, creio que também perto do mar... Agora, a dúvida maior que paira sobre nossas cabeças é a se Maysa estaria ou não acompanhada; teria encontrado o amor? Estaria casada, solteira, separada, viúva? Creio que deveria estar acompanhada e amando, pois não é possível acreditar que chegaria a esta idade sozinha; mas amor é o que não faltaria, devia estar rodeada de amigos, talvez poucos, mas os bons; curtiria o filho e os netos; teria vários cachorros, e um pequenininho, um vira- latinha que seria seu xodó, o cachorrinho de colo; assim imagino.
Continuaria com as mãos soltas e leves mesmo com o peso da idade, pintando como nunca, uma espécie de nostalgia artística, pintando as coisas vividas e almejadas.
Mas acho que em relação a musica, não estaria mais cantando, por vários motivos, principalmente pelos rumos que a música acabou tomando... Mas tenho uma aposta quente que Maysa estaria brilhando na televisão como atriz, e das mais renomadas, ou até quem sabe, no teatro, fazendo jus ao enorme talento sob a luz dos holofotes...
E continuaria compondo como nunca, afinal, o longo da vida toda foi sua maior inspiração. O poeta de sempre estaria reinando dentro de Maysa como uma criança; Talvez, quem sabe, tivesse realizado o antigo plano do livrinho de poemas escrito por ela. Poemas que emudeceram o grande Jorge Amado, honra para poucos.
O lirismo lhe brotava como a beleza inefável, que mesmo com o passar dos anos se mantinha intacta. Trazendo no rosto a história vivida, a história mais do que vivida, a história sentida; nos olhos podendo ver como um filme cada movimento feito em busca de nada mais, que a felicidade, por toda a vida.
Ah, são tantas coisas que poderiam estar acontecendo hoje, que seria impossível conseguir imaginá-las por inteiro; Enfim...
Parabéns amada; desejo-te todo amor e felicidade do mundo, que é tudo o que você sempre quis e mereceu. E isso, nem a morte pode impedir que tenhas.
Com todo amor,
Marina M.
A luz do Sol
E de repente, não mais que de repente ela vem
Vem Maysa, é ela, a Maysa de todos nós
Não creio que possa haver figura mais deslumbrante
Bela, iluminada, translúcida. A singular Maysa, singular como uma musa
Ela surge no horizonte, no mais belo crepúsculo da manhã
Vem crescendo sua figura em meio aquele céu alaranjado sob a praia
Vem batendo os pés na areia, areia esta que parece dançar conforme a melodia do vento
Vem o mar, esse mar azul poético, decantado. Ondas dançam, dançam conforme o compasso do vento na brisa suave do amanhecer
Em meio a este cenário lírico, paira a figura de Maysa. Altiva,magnética, cabelos ao vento, vem com sorriso no rosto iluminado pelos raios de Sol e poesia no olhar
Vem caminhando sobre aquelas águas claras e andando sobre a areia branca, fina como um véu de noiva
Como hipnose, me encanto, nem o céu aquarelado e o mar límpido me fazem tirar os olhos de Maysa, lírica como uma deusa. Com ela vem amor e paz
Vem cantando aquelas coisas que só ela sabe cantar e dizendo tudo aquilo que só ela diz
Joga na cara tudo aquilo que sentimos mais profundamente e no entanto, não temos a coragem de dizer
Caminhando entre pedras ela diz as mais puras verdades, todas aquelas verdades que queremos ouvir e só ela sabe dizer
Agora me calo, sei que nada mais poderei dizer, não posso explicar, não há como, não posso sequer falar, estou em transe.
Ela passa, passa como o vento, soprando poesia no ar,
Fascinante Maysa
Encantadora Maysa
Estonteante Maysa
Não posso mais. Agora me calo.
Vitor Dirami
Revivendo Maysa
"Eu vou ficar a vida a tua espera
Não te percas dos meus passos
Os que andei por ti saber
Da minha história e a que virá
Não vou poder mais despedidas no meu tempo
Vou te contar meu longo amor eu te prometo
E de uma vez vem pra valer
Que há tanto amor pra se encontrar."
Maysa Figueira Monjardim
(06/06/1936 + 22/01/1977)