16 de julho de 2010

Análise musical: O Estilo Maysa


O estilo Maysa


Dona de um estilo único, personalista, Maysa é o que se pode chamar de um canto singular em toda a história da música brasileira. Além de ser uma compositora extraordinária, autora de clássicos da MPB, Maysa interpretava de maneira muito intimista, emocionante, com toda a voz, sentimento e expressão sendo um dos maiores nomes deste gênero. Um canto gutural, ensejando momentos de tristeza e de grande expressão afetiva, muitas vezes, com uma caracterização altamente dramática. Esse expressionismo imenso, contribuiu para a criação de um estilo próprio – o estilo Maysa – que influenciou toda uma geração musical, principalmente posterior a sua.

É notável sua influência na obra de outras grandes vozes da MPB, como – Ângela Rô Rô, Cazuza, Fafá de Belém, Simone, Leila Pinheiro entre muitos outros. A equipe do blog oficial Maysa, reuniu 8 interpretações maravilhosas e especialíssimas de grandes nomes da música brasileira, cantando músicas que se eternizaram em sua voz, de Ângela Rô Rô á Nana Caymmi – passando por Claudette Soares, Elizeth Cardoso, Alaíde Costa, Cauby Peixoto e Arnaldo Antunes. Para começar, Ângela Rô Rô – uma das maiores vozes atuais da MPB, interpreta "Ouça" de autoria de Maysa, e "Demais" de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, alguns dos maiores sucessos da cantora. Reviva Maysa:

Ângela Rô Rô - "Ouça"


Ângela Rô Rô - "Demais"


A grande Claudette Soares interpreta "O Barquinho"; sucesso de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal na voz de Maysa.


Arnaldo Antunes; um dos melhores representantes da geração musical dos anos 90 interpreta "Meu Mundo Caiu"; de Maysa.


A divina – Elizeth Cardoso dá sua voz á uma sensível interpretação para "Nós"; de Maysa e Julio Medaglia em 1979.


A eterna Alaíde Costa interpreta "Caminhos Cruzados" de Tom Jobim e Newton Mendonça; mais um dos muitos sucessos gravados por Maysa.


Cauby Peixoto, amigo da cantora, interpreta "Bom Dia, Tristeza"; de Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes, música eternizada na voz de Maysa.


Nana Caymmi, uma das maiores vozes femininas da música brasileira interpreta "Tarde Triste" de Maysa, um dos maiores clássicos de sua carreira.



13 de julho de 2010

Coluna: Música da semana


"Eu e a Brisa"


Autor: Johnny Alf
LP: Canecão Apresenta Maysa (1969)

Análise:
“Ah, se a juventude que essa brisa canta, ficasse aqui comigo mais um pouco, eu poderia esquecer a dor, de ser tão só, pra ser um sonho.” Uma canção tão romântica e terna como todo a obra de seu autor – o nosso saudoso Johnny Alf. Porém, como explicar que a singela "Eu e a Brisa" interpretada pela cantora Márcia, no III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record de 1967, tenha recebido uma vaia tão estrepitosa e consequentemente desclassificada, a ponto do episódio entrar para a memória dos festivais de música dos anos 60? Não, realmente não há qualquer explicação.

Mas é na inspirada interpretação de Maysa, que podemos que encontramos as respostas para explicar porque "Eu e a Brisa" se tornou um grande clássico da MPB. A canção é essencialmente simples, mas é essa mesma simplicidade que faz dela uma música tão refinada e cheia de romantismo. É uma música envolvente, carinhosa, meiga – que fala do amor de um modo diferente, não melancólico, mas sim, singelo e carinhoso. Mas assim como o amor, o encantamento de "Eu e a Brisa", realmente consiste na simplicidade e em sua serenidade.

Felizmente, e por predestinação ou não, nem o famigerado episódio do III Festival de Música da TV Record foi capaz de apagar os versos de uma obra tão feliz. E por mais felicidade ainda, a canção tornou-se um clássico da MPB e o fruto mais belo da extensa obra de Johnny Alf. Maysa já havia demonstrado interesse em grava-la no ano anterior (1968), inclui-la no repertório do espetáculo no Canecão foi um feliz achado. Perante aquela platéia de quase 2.000 mil pessoas, a inspiradora interpretação de Maysa nos faz sonhar, nos transporta, faz realizar assim, todos os sonhos e desejos de "Eu e a Brisa".
Viva Maysa, viva Johnny Alf.


9 de julho de 2010

Registro Histórico: Maysa nas telas de cinema


Maysa nas telas de cinema


Naquele ano de 1958, Maysa alçada a categoria de estrela nacional, veria seu nome se tornar sinônimo de sucesso, disputada ela daria o ar de sua graça em quatro longas nas telas de cinema: Matemático zero, amor dez, de Carlos Hugo Christensen; O cantor e o milionário de José Carlos Burle; O batedor de carteiras, de Aloísio Tide de Carvalho; e O camelô da rua larga, da dupla Hélio Barroso e Eurípides Ramos.

Sua presença em tais filmes, seguia uma bem sucedida fórmula de marketing da época, a aparição de Maysa nos longas, restringia-se à interpretação de algum número musical. Na época, a televisão ainda era um privilégio para poucos, as participações de cantores nas populares chanchadas era praticamente a única oportunidade do grande público, humilde, em poder ver os grandes ídolos do rádio em cena.

Em O camelô da rua larga, Maysa entrava em cena, em meio a uma turma de bailarinos, cantando um de seus maiores sucessos – "Ouça", em playback. O filme receberia a seguinte crítica na página de cinema assinada pelo jovem Ignácio de Loyola Brandão no jornal Última Hora: “O filme é ruim. Se tem diretor, então desconhecemos o que sejam as funções de direção. Salva-se apenas a música “Ouça” cantada por Maysa.”

Como recordaria Aloísio de Carvalho – “Uma mão lava a outra. Isso fazia os artistas venderem mais discos, e por outro lado, nos ajudava a levar mais gente para o cinema.” Ele foi o responsável por convidar Maysa para uma aparição em seu O batedor de carteiras, estrelado pelo comediante Zé Trindade, cujo personagem era um punguista que se passava por colunista social. No filme, além da ilustre aparição de Maysa, também deram o ar de sua graça a atriz Henriqueta Brieba e o sambista Jackson do pandeiro.

“Marcamos a gravação com Maysa para um final de tarde, mas ela só chegou ao estúdio no meio da madrugada, quase de manhã. Eu havia preparado um cenário com colunas gregas e feito uma marcação de luz para que ela andasse em cena enquanto cantava. Porém, Maysa já chegou um pouco alta e ainda mandou o contra-regra comprar um litro de vodka para ela. A marcação original, foi pras cucuias.” Relembraria Aloísio entre sorrisos, em depoimento ao biógrafo de Maysa, Lira neto.

“O Aloísio, me deixa encostada aqui nessa coluna.” Pediu Maysa, tão logo ouviu os primeiros acordes da canção "Meu Mundo Caiu" tocando ao fundo, em playback. E lá ela ficou, com os ombros encostados na coluna grega. Bom ou ruim, o filme foi um dos maiores sucessos de bilheteria do ano. As duas sequências, bem ao estilo dos anos 50, mostram uma jovem e linda Maysa, de apenas 22 anos – na cena de O camelô da rua larga, ela vestia um tomara-que-caia de cor escura com um colar de pérolas autênticas que davam seis voltas no pescoço, além dos brincos, também de pérolas. Já, na sequência de O batedor de carteiras ela veste um modelo estampado com alças, acinturado, com saia do tipo tulipa, no cabelo, uma franja levemente caída sobre a testa lhe garantia um ar jovial.

Abaixo, estão os dois números musicais de Maysa em O camelô da rua larga e O batedor de carteiras, interpretando – Ouça e Meu Mundo Caiu – respectivamente. Os vídeos são uma ótima amostra de Maysa, e do cinema brasileiro nos anos dourados.

O camelô da rua larga (1958)


O batedor de carteiras (1958)


Consulta bibliográfica: "Maysa - Só numa multidão de amores" (Lira Neto)

6 de julho de 2010

Coluna: Disco da semana


Palavras, Palavras


Gravadora: RCA Victor - 101.0129
Ano: 1972
Faixas:
1- Palavras, Palavras* (Parole, Parole) (Gianni Ferrio / Leo Chiosso / Giancarlo Del Re / Vrs. Maysa) *Participação Raul Cortez
2- What Are You Doing The Rest Of Your Life? (Alan Bergman / Marilyn Bergman / Michel Legrand)

Análise:
No Segundo semestre de 1972, Maysa decidiu gravar "Parole, Parole", um dueto que havia estourado nas paradas de sucesso do mundo inteiro no semestre anterior na voz de Mina Mazzini e Alberto Lupo. A canção era um dueto, originalmente em italiano, escrito por Gianni Ferrio em parceria com Leo Chiosso e Giancarlo Del Re. A música é um diálogo de Mina cantando com declamação de Lupo, com seu viés teatral e caráter interpretativo, o tema da canção são os lamentos da protagonista sobre o fim do romance, entrelaçadas as mentiras que ela tem que ouvir enquanto o ator masculino simplesmente fala. Ela reage e ridiculariza os elogios e presentes que ele lhe da, chamando-os simplesmente de palavras, palavras vazias.

A música rapidamente se tornou um hit mundial, interpretada em inúmeros idiomas pelas mais diversas vozes. Famosa também se tornou a regravação em francês por Dalida e o astro Alain Delon no ano seguinte. A versão em português foi feita pela própria Maysa, por sinal – bem fiel à versão original – em italiano. A música saiu em um compacto simples lançado pela RCA Victor ao lado de "What are you doing the rest of your life?" Para o dueto de "Palavras, Palavras", ela chamou o já falecido ator Raul Cortez, é bem verdade que os técnicos encontraram problemas em ajustar o tom de voz dos dois em relação ao som, mas tudo isso passa despercebido perante a qualidade da versão – que segue fielmente a original, até na orquestração, e a animação de Maysa que empolga o público em uma interpretação desbragadamente teatral que chega a ofuscar a presença de Raul Cortez, em meio a risos, berros e lamentos.

Do outro lado do disco, lá estava o jazz standard "What are you doing the rest of your life?" Uma maravilhosa versão de Maysa para um dos grandes clássicos da música norte-americana. Música do filme The Happy Ending de 1969, de autoria de Alan Bergman em parceria com Marilyn Bergman com música de Michel Legrand, a canção ganharia diversas interpretações em grandes vozes como as de Frank Sinatra, Julie Andrews, Diana Ross, Sarah Vaughan e Barbra Streisand. Maysa dispensa altas doses de emoção na música, fazendo jus a sua letra sincera e passional. A sofisticação e o refinamento da orquestração, somada a desenvoltura e sinceridade da interpretação de Maysa – fazem com que está seja uma das melhores versões para "What are you doing the rest of your life".

Curiosamente, a música americana era tema da telenovela Bel-Ami da TV Tupi – em que Maysa interpretava Márica naquele ano de 1972, foi a última música que Maysa gravou em língua inglesa. As duas músicas do álbum foram incluídas no relançamento do LP Maysa de 1966 pela Sony BMG em 2001, no CD remasterizado, as músicas estão como faixa bônus do disco.

2 de julho de 2010

Análise Musical: Maysa como compositora


Maysa como compositora



Aqui no blog oficial Maysa, uma das propostas é tentar desvendar o ser-humano Maysa. Pois hoje, vamos tentar revelar uma de suas mil faces – a compositora.


A Maysa compositora talvez, tenha mais importância em sua carreira do que a Maysa intérprete, afinal – seu ingresso no cenário musical da época fora como compositora, a mesma compositora das oito faixas de Convite para ouvir Maysa, disco que representa o início de sua carreira musical em 1956, oito faixas com letra e música de sua própria autoria que obtiveram rápido êxito perante o público, eram elas: Marcada, Não vou querer, Agonia, Quando vem a saudade, Tarde triste, Rindo de Mim, Resposta e Adeus. Todas com duas características principais únicas, que dali por diante marcariam toda sua obra, 1: a melancolia, abordada como tema nas canções, fato que caracterizarou sua obra como fruto do bom e velho samba-canção. 2: o caráter intimista e pessoal das letras, na maioria das vezes, abordada na primeira pessoa do singular, expondo ao público todos os sentimentos e emoções, sentidas pela autora.


Tecnicamente, Maysa não usava de artifícios sofisticados nas letras, muitas vezes, não conseguia alcançar a melodia perfeita, tentando ao máximo (e quase sempre conseguindo) atingir uma harmonia agradável no todo da composição. Realmente, seu brilhantismo consistia em converter sentimentos e emoções em versos e palavras, atingindo um êxito espantoso. Maysa conseguia transmitir em suas letras, tudo aquilo que sentia – amor, paz, tristeza, dor, felicidade... Ela se entregava profundamente a canção, como se seu próprio eu estivesse presente naqueles versos, seu trabalho é marcado pela sinceridade da compositora.


Daquele primeiro disco de 1956, ao menos quatro músicas obtiveram rápido e grande êxito junto ao público – Tarde triste (seu primeiro grande sucesso), Adeus, Agonia e Resposta. Muitas delas, se tornaram clássicos do samba-canção, ganhando inúmeras interpretações pelas mais diversas vozes, Resposta, parecia um tanto quanto deslocada do restante das faixas do álbum, seu caráter autobiográfico e seus versos em tom de desabafo, “Ninguém pode calar dentro em mim, esta chama que não vai passar.” Estava há anos-luz do repertório de Maysa, porém, se consagraria com o decorrer do tempo, como uma de suas melhores composições. Adeus, mostrava uma Maysa menina envolta entre amigas, telefonemas e roupas. “Adeus, palavra tão corriqueira, que diz-se a semana inteira, a alguém que se conhece.” era uma letra composta por uma Maysa adolescente – aos 12 anos de idade. Não é equívoco dizer que todas aquelas composições, com exceção da Adeus, retratavam sua infelicidade e seu desencontro dentro do casamento. Desta forma, fugindo do tédio e da tristeza, a música, nascia como uma verdade válvula de escape para Maysa.


Perante o êxito incontestável daquela jovem cantora de apenas vinte anos, que se mostrava compositora talentosa – não foram poucas as críticas há favor de Maysa, críticas de nomes de peso da época como os também compositores Antônio Maria, Denis Brean, Oswaldo Guilherme e o cronista Ricardo Galeno, homens que se derretiam em elogios ao talento da jovem. Impressionava também, sua veia criadora, Maysa havia absorvido com muita delicadeza e sinceridade, os maiores ensinamentos do cancioneiro romântico brasileiro. Em sua obra, via-se nitidamente a influência do romantismo da obra de grandes compositores como Noel Rosa e Dolores Duran, dois de sua galeria de ídolos. Curiosamente, ela havia estudado piano clássico por grande parte de sua infância e afirmava ser a música clássica sua maior influência musical.


Um dos maiores sucessos de toda sua carreira, e próxima canção a figurar nas paradas de sucesso foi o samba-canção Ouça. Lançado já em 1957, a música de sua autoria era segundo Maysa um recado ao marido André Matarazzo - “Ouça vá viver, sua vida com outro bem, que hoje eu já cansei de pra você não ser ninguém.” Entre o estrondoso sucesso da canção e a separação do casal, também não se demoraria tanto tempo. E o sucesso, foi realmente estrondoso, unanimidade de público e crítica, a canção entrou para o hall dos clássicos da canção romântica brasileira e serviu para consolidar a posição de Maysa na galeria das grandes cantoras e compositoras do Brasil. Enquanto Ouça embalava casais apaixonados e corações despedaçados país a fora, a vida dela tomava rumos que por sua vez, alteraria em 180º graus o curso de sua vida, e teria influência direta em sua música.


Segundo Maysa, é fato afirmar que após sua separação (1957), explodiu seu impulso criativo. É desta época que nasceram seus maiores clássicos e as composições de maior sucesso de sua carreira, são desta época – O Que?, Escuta Noel, Meu Mundo Caiu, Mundo Novo, Felicidade Infeliz e Diplomacia, todas obtiveram total sucesso de público e crítica. Durante este período, o tom de suas letras começaram a mudar, suas músicas começaram a adquirir um viés cada vez mais dramático, rodeadas sempre pelos mesmos temas que atormentavam sua autora, via-se Maysa em cada letra, sua personalidade turbulenta era transposta nos versos e a mostravam cada vez mais aflita e angustiada. Por esta mesma época, o maestro da maioria de seus discos na RGE – Enrico Simonetti- , começou a aparecer como seu parceiro em outras composições de sua autoria, ela ainda assinava as letras e Simonetti se encarregava de musica-las, desta parceria nasceram – Fala Baixo, Maria Que é Triste, Você, Deserto de Nós Dois, Voltei e Vem Comigo. Porém, a crítica logo observou que gostava de Maysa como compositora, porém, sem parceiros.


A partir de 1960, há um hiato na série de composições gravadas de Maysa, indagada inúmeras vezes, sobre esta ausência de letras de sua autoria, ela dava inúmeras respostas, por isso, não seria correto afirmar qual o seu motivo para ter parado de compor. Este hiato só seria quebrado com Canção Sem Título no LP Maysa de 1966 – “Que tristeza havia em mim, neste mesmo lugar, que saudade eu senti do que estava por vir.” Ali, ela inaugurava também uma nova forma de compor, cada vez mais sincera e verdadeira, fugindo das altas doses de dramaticidade e buscando uma atualização musical, ela encontrava uma nova forma de compor, mais refinada e moderna. Praticamente neste mesmo período, Maysa lançou a canção Amor-Paz de sua autoria com Vera Brasil, defendendo-a no II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1966, em Amor-Paz, ela transmite nitidamente há que veio – “Vou lhe cantar uma canção, que começa agora no teu sonho bom e tem a música que vem lhe ofertar, um canto meu, de amor-paz.”


Desta nova fase, também se destacaram a singela e autobiográfica Me Deixe Só, sua única parceria com Roberto Menescal de 1970 – “Me deixe só errada e complicada, não imponha tua mão no meu caminho.” Era uma música linda, quase uma declaração de amizade mútua dos dois, singela. Para embalar as desventuras de sua personagem na telenovela "O Cafona" "de 1971 na Rede Globo, Maysa compôs aquela, que ela acreditava ser sua melhor letra composta até ali – o Tema de Simone“Não sei que rosto eu vou usar de noite, em qual desgosto eu vou curtir meu papo.” Realmente, era sua melhor letra, em Tema de Simone, Maysa atinge a maturidade musical plena como compositora, é uma música sofisticada e assustadoramente moderna – “Que somos todos juntos, que estamos todos juntos, na busca inútil, de sermos separados.”


Sua última composição gravada é Não é Mais Meu, uma parceria com David Nasser e Erlon Chaves da década passada, tema da novela "Eu compro esta mulher" de 1966 – Maysa afirmava te-la gravado para fazer um agrado ao marido, o ator Carlos Alberto. Não era uma música ruim, pelo contrário, uma letra, tocante, porém, soa como um fim bucólico “Me dê tua mão que eu aprendo, difícil foi desaprender, por onde eu andei foi tão triste, que quase nem deu pra te ver.” Em 2000, Marcus Viana musicou um poema inédito da cantora, "La Enorme Soledad", cuja gravação feita pela cantora Paula Santoro, foi incluída com sucesso na trilha da minissérie "Aquarela do Brasil", produzida pela TV Globo.


É necessário que a Maysa compositora seja lembrada com o mesmo prestígio que a Maysa intérprete, que ela seja devidamente reconhecida como o que é: uma das maiores compositoras da história da MPB. Inexplicavelmente, muitas vezes, passa despercebido o fato de que os maiores sucessos de sua carreira serem composições de sua autoria – Ouça e Meu Mundo Caiu. É unânime, afirmar que Meu Mundo Caiu (1958) é o maior sucesso de sua carreira, apesar de vários afirmarem que Ouça seja unânime na preferência popular. Porém, o apelo e consagração da música a tornaram um verdadeiro mito na história da música popular brasileira, só Meu Mundo Caiu poderia superar a romântica Ouça em sucesso de público e crítica.


É também, mais do que necessário reafirmar a importância de sua música nesses tempos atuais tão decadentes na música brasileira, pois nesta época, sua música soa mais atual do que nunca. Maysa transita de forma belíssima pela poesia, poesia esta que faz de sua obra, um canto singular na história da música brasileira. Entre e o amor, a dor e a poesia, lá está a música de Maysa – “Por isso é que eu fico cismando, querendo ser tempo pra tempo me dar, se saudade é querer ficar perto, eu preciso de tempo pra me encontrar.” (Saudades de Mim) “A Lua que ontem me viu, chorando, me mandou contar, que em outra janela te viu, sozinho me nome á chamar.” (Toda Tua) “Felicidade, deves sem bem infeliz, andas sempre, tão sozinha, nunca perto de ninguém.” (Felicidade Infeliz). Pois eu clamo e reafirmo – que se passe mil modismos imbecis pela música brasileira, porém, o canto de Maysa não passará como uma folha jogada ao vento, é mais forte, sua música é eterna para todo sempre.