Versão alternativa de "O Barquinho"
Há
pouco tempo abri a caixa de e-mails do blog e me deparei com um e-mail
diferente, tratava-se de um link para baixar um disco de Maysa. A princípio,
nada de diferente, nada de anormal nisso. A seguir, baixei o disco, tratava-se
de uma coletânea internacional de Maysa – atípico – agora, adivinhem qual não
foi minha surpresa ao ouvir o disco abrindo com uma versão até então
completamente desconhecida de “O Barquinho”, de Roberto Menescal e Ronaldo
Bôscoli; música gravada por Maysa no disco Barquinho de 1961.
Nunca
antes tinha ouvido falar de Maysa ter gravado uma segunda versão de “O
Barquinho”, e tenho razões de sobra para acreditar que também é desconhecida do
grande público, porque nunca deve ter sido lançada em disco no Brasil;
portanto, vou agora tentar explicar sua origem.
Para
começar, extraí este trecho do capítulo 13 da biografia Maysa – só numa
multidão de amores escrita por Lira Neto:
“A exemplo de argentinos e uruguaios,
os peruanos tiveram o privilégio de contar com uma edição nacional do lendário
LP gravado pela Columbia norte-americana, Maysa sings songs before dawn. Com
sua chegada ao país, a subsidiária local da RCA Victor também mandou prensar de
imediato uma coletânea. O disco reunia vários sucessos como “Ne me quitte pas”,
“O barquinho”, o afro-samba “Canto de Ossanha” e “Just in time”. Incluía ainda
uma gravação inédita de “Berimbau”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, que
ela havia gravado na Espanha e, adivinhem, também nunca foi lançada no Brasil.”
Portanto,
podemos tirar algumas conclusões a partir da leitura deste pequeno trecho – a
dita coletânea era um relançamento do disco da cantora gravado no ano anterior
– 1966 – pela gravadora RCA Victor; a exemplo de “Berimbau”, esta segunda
versão de “O Barquinho” também fora gravada na Espanha; pelas coordenadas dadas
na biografia, a coletânea foi lançada no ano de 1968, durante a turnê de Maysa
pela América Latina. Agora, vamos a algumas considerações obtidas a partir do
texto da contracapa da coletânea, escrito pelo diretor assistente, gerente de
produção e ator argentino Enrique Bergier.
[...]
Graças a RCA, nosso público tem a oportunidade de descobrir e compartilhar o
mito MAYSA MATARAZZO. E nada melhor que a seleção das composições deste LP,
para descobrirmos suas justificativas. Maysa, entre outras coisas, “inventou” a
Bossa Nova. Quando em 1958, ao começo de sua carreira e com audácia inesperada,
grava esta fabulosa canção que se chama BARQUINHO, incorpora ao ritmo do samba
brasileiro, a magia do swing. E assim começa uma nova forma, um novo eco
musical que como um ciclone envolve ao mundo com uma nova realidade que tem
sido e é hoje – mais que nunca – MAYSA. Neste LP temos a ocasião de um novo e
belíssimo arranjo daquele eterno sucesso. [...]"
Esta
segunda estrofe do texto nós dá mais algumas informações – como já foi
observado inúmeras vezes, Maysa era tida no exterior como a grande cantora
brasileira que foi e respeitada como uma pioneira e divulgadora da Bossa Nova
pelo mundo; Maysa teria re-gravado “O Barquinho” visando exclusivamente o
mercado latino, visto que a coletânea que levou seu nome – Maysa Matarazzo –
também foi lançada na Argentina.
Desfeito
o mistério, podemos agora apreciar esta releitura de
“O
Barquinho”, registrada mais de cinco anos depois da primeira versão. É fácil
observar o quanto à voz de Maysa se transformou nesses anos, e como sua
interpretação de Bossa Nova evolui – neste sentido, para muito melhor. Em
comparação, a versão de 1968 é muito mais gingada que a bossa de 1961; Maysa
também canta de maneira muito mais descontraída, leve e despojada – há malemolência
em sua voz. A orquestração é grandiosa, mas o arranjo é competente e os músicos
estrangeiros conseguiram executar com louvor o compasso da bossa brasileira. Enfim,
é puro deleite.
Linda essa versão! Se não me engano, o início dessa música foi tocada na minissérie, a parte instrumental.
ResponderExcluirEu também adorei essa Versão, nunca tinha ouvido, muito emocionante!!
ExcluirRealmente Paulo Henrique, essa versão tocou na minissérie. Muito Linda
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