Maysa-1960: à base de leite
Maysa
detona a “bomba” artística do ano: deixa o uísque e assina com as Associadas.
Texto
de ARY VASCONCELOS · Fotos de JORGE AUDI e GEORGE TOROK
Maysa
acaba de tomar duas decisões revolucionárias em sua vida idem: assinou com as
Associadas e passou a matar a sede, não mais com uísque, mas com leite. Essas
decisões vieram após um período de tratamento em hospital de São Paulo, em que
8 médicos procederam a uma quase total remodelação em seu corpo e espírito.
Maysa submeteu-se a várias operações plásticas, fez um rigoroso regime para
emagrecer, consultou regularmente um psicanalista. Considera, hoje, esses dias
entre os mais deliciosos de sua existência: repousou milhões sob uma árvore
negra do quintal, fez tricô, leu Pearl Buck, ouviu Sammy Davis Jr., escreveu
três sambas novos. Aprendeu a gostar de leite, reaprendeu a gostar de gente.
Saiu de lá com 12 quilos a menos e com novo gosto pela vida. já está, aliás,
trabalhando como enfermeira no Hospital Nossa Senhora do Carmo (São Paulo) e
assistente do seu psicanalista, pois os médicos acharam que, interessando-se
pelos problemas dos outros, estaria mais capacitada a resolver os dela. Traz
muitos planos. Um deles: ser assistente da direção do Teatro do Juqueri
(sanatório para doentes mentais) em São Paulo. Outro: terminar um livro
autobiográfico já na 15ª página e que deverá chamar-se “Com Os Comigos De Mim”.
Uma enfermeira, Sônia, como um anjo da guarda, acompanha-a por toda parte,
velando incessantemente por sua saúde. Maysa dobrou a quantidade de cigarros
que fumava por dia, liquidando diariamente quatro maços; espera porém estar em
breve de volta à dose antiga. Considera hoje todas as suas músicas anteriores,
com exceção de “Felicidade Infeliz” e “Escuta, Noel”, totalmente démodées. Não pretende deixar-se afetar
em nada pela bossa nova. Para ela, Elizete Cardoso e Silvio Caldas ainda são o
máximo, ou, como ela diz “caindo de morrendo de divinos”. Quer sair de sua
atual gravadora, a RGE, e gravar como freelancer um LP cantando serestas
antigas em orquestração moderna.
Está
a Maysa-1960, mais bela e fascinante do que nunca e cujo talento de grande e
consagrada cantora entrou novamente em erupção no dia 18 deste mês, ocasião em
que fez a sua sensacional estreia na TV-Tupi do Rio de Janeiro.
(Reportagem publicada originalmente na revista O CRUZEIRO, de 30 de abril de 1960)
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